10 joias perdidas (e encontradas) da literatura

Por , em 13.05.2015

Desde que nós descobrimos essa incrível capacidade de nos comunicarmos de forma registrada, a humanidade tem sido capaz de escrever seus pensamentos e ideias usando a escrita para estabelecer uma espécie de imortalidade. Muitas das primeiras obras infelizmente foram perdidas para sempre, mas alguns poucos exemplares felizardos foram salvos.

10. O conto de 2 irmãos, escrito no Egito por volta de 1185 antes de Cristo

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Escrito durante ou pouco depois do reinado de Seti II, governante do Egito de 1200 a 1194 aC, “A Tale of Two Brothers” (ou “o Conto dos Dois Irmãos”, em tradução livre) é visto por alguns como o primeiro exemplar de um conto de fadas.

Embora a data exata da descoberta do papiro seja desconhecida, ele foi vendido para o Museu Britânico em 1857 e, posteriormente, traduzido a partir da escrita hierática com o qual foi composto.

A primeira parte da história acontece entre os irmãos Anubis e Bata. A esposa de Anubis tenta seduzir Bata, que se defende com sucesso. Ela então se transforma em Bata, fingindo uma doença e alegando que ele bateu nela, e tentou seduzi-la. Bata foge, porque Anubis naturalmente quer vê-lo morto, e ele reza ao deus Re-Harakhti para salvá-lo.

Depois Bata expressa sua inocência cortando seus próprios órgãos genitais e jogando-os em um lago. Anubis vai para casa e mata a sua própria esposa. Eventualmente, através de um processo complicado de colocar seu coração em uma árvore e tê-lo cortado por sua própria esposa, Bata morre, e Anubis fica procurando por ele.

A segunda parte da história é bem diferente, tematicamente. Acontece a transição para uma história da realeza, e Bata eventualmente é revivido e nomeado rei, com Anubis servindo como seu príncipe.

9. O Westcar Papyrus, outra peça literária egípcia de 1700 aC

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Normalmente com o nome em inglês de “Rei Quéops e os magos”, o Westcar Papyrus é uma coleção de cinco histórias separadas, cada uma detalhando um sacerdote egípcio antigo ou mágico e os milagres que ele realizou. Alegadamente descoberto e nomeado por Henry Westcar, um aventureiro britânico, o papiro finalmente encontrou o seu caminho até um egiptólogo alemão, que traduziu o texto.

Apesar de suas origens serem misteriosas, ele permanece no Museu Egípcio, em Berlim. Talvez a mais conhecida das histórias que ele conta seja a de Dedi de Dedsnefru. Com cerca de 110 anos e um enorme apetite, ele também era um renomado mágico com um truque especialmente surpreendente: conseguia recolocar cabeças decepadas. Cheops levou-o para o seu reino e ofereceu um dos seus servos como um teste, mas Dedi recusou, explicando que não podia executar a tal “magia” em seres humanos. Em seguida, realizou a mágica com um ganso – só para mostrar que era capaz.

O rei ficou satisfeito e exigiu mais e mais performances, que culminaram em Dedi realizando o ato em um boi. Infelizmente, como ele conseguiu isso não está detalhado na história.

8. Lamentação para Ur, escrito na Suméria, em 2000 aC

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Um dos exemplos mais antigos da literatura poética do mundo é o canto “Lamentação para Ur”, um poema fúnebre para a cidade destruída, escrito pelos primeiros reis da dinastia Isin, que desejavam reconstruí-la.

O objetivo da poesia era acalmar a alma irritada e angustiada do deus de Ur, e expressar os esforços de reconstrução dos humanos. Além disso, a “Lamentação para Ur” foi também usada para remover a nuvem de suspeita de que os reis da dinastia Isin tinham alguma coisa a ver com a destruição.

7. Clássico da Poesia, escrito na China, entre 1000 e 600 aC

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O livro mais antigo existente da história da poesia chinesa é o “Clássico da Poesia”, ou Shijing, tradicionalmente conhecido por ter sido compilado pelo grande filósofo Confúcio.

Esses escritos fazem parte de um grupo de cinco livros separados, chamados coletivamente de os “Cinco Clássicos”. A maioria das pessoas provavelmente já ouviu falar pelo menos do I Ching, um texto antigo de adivinhação.

Transmitidos oralmente durante séculos, os poemas não têm um autor atribuído, mas a maior parte foi provavelmente criada por aqueles que viveram durante o governo do reino real Zhou, uma dinastia que recebe os créditos de fundação da cultura chinesa. Contendo mais de 305 poemas separados, o clássico é dividido em três livros distintos: Feng (músicas), Ya (Odes e épicos) e Song (hinos). Talvez a parte mais notável do livro seja Feng, que contém as canções folclóricas de pessoas comuns, lamenta sobre a opressão e tem trechos intercalados com esperança e otimismo.

6. O papiro Ipuwer, escrito no Egito em 1650 aC

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Desconsiderando as reivindicações de muitos de que esta peça literária comprova a veracidade e historicidade do Antigo Testamento, o papiro Ipuwer parece ter sido escrito np século 17 aC. Originalmente chamado de “As Admoestações de um Sábio Egípcio”, ou alguma coisa assim, o texto detalha a situação do Egito em um momento em que o país estava mergulhado em desordem.

Pragas devastaram a terra, com o próprio Nilo girando em ondas vermelhas como sangue, tornando suas águas impróprias para o consumo. Mas o grande problema era uma agitação civil que levou o país a ser completamente dominado por ladrões e bandidos. Registros de propriedade estavam sendo destruídos, causando confusão a respeito de quem eram os legítimos donos de cada terra. O país ficou tão ruim que as pessoas estavam andando no Nilo e se deixando devorar por crocodilos.

Infelizmente, a verdadeira origem do documento não pode ser confirmada pelos historiados e esse “exemplar” da foto é apenas uma cópia do manuscrito original.

5. A história de Sinuhe, escrita em 2000 aC

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Considerada por muitos como a maior realização literária do Antigo Egito, “A história de Sinuhe” conta a história de um funcionário do harém de Amenemhat I.

Durante uma viagem para a Líbia com o príncipe Sesostris I, um mensageiro informa sobre o assassinato de Amenemhat e o plano de matar o próprio Sesostris. Com medo por sua própria vida, Sinuhe, que era um conhecido aliado do Príncipe Sesostris, foge do país e se estabelecendo na Síria, onde se casa com uma mulher da família de um chefe local e se torna um membro respeitado da comunidade.

Depois de anos defendendo a terra de invasores de Sinuhe, ele ganha muita notoriedade entre os emissários egípcios em várias ocasiões. Os emissários eventualmente informam Sesostris, que agora é o Faraó, que Sinuhe estava vivo e protegendo território inimigo.

Sesostris quer Sinuhe volte ao Egito, pois crê que seu único crime foi a covardia. Sinuhe então volta, e é recebido de braços abertos pelo Faraó.

4. A História de Wenamun, escrita no Egito, por volta de 1000 aC

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A única cópia existente desse romance egípcio está localizada no Museu Pushkin de Belas Artes de Moscou, na Rússia. Comprada perto do final do século 19, “The Story of Wenamun” (A História de Wenamun, em tradução livre) diz respeito a possivelmente verdadeira história de Wenamun, um alto funcionário do templo de Amon.

Enviado em uma missão comercial para a Fenícia (atual Síria), ele estava encarregado de encontrar madeira de cedro para restaurar a barca sagrada com que a estátua de Amon era carregada durante os festivais.

Em uma Odisseia, então, Wenamun foi despachado para o que parecia ser uma missão tranquila, mas que acabou se transformando em uma jornada longa e cheia de acontecimentos.

Eventualmente, ele desembarca em Chipre e é quase morto por uma multidão enfurecida, antes de cair sob a proteção de uma rainha local. Infelizmente, o conto termina aí, já que as outras folhas de papiro nunca foram encontradas.

3. “O Pobre Homem de Nippur”, escrito em 1500 aC

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Um dos exemplos mais antigos de um conto popular, O Pobre Homem de Nippur” é uma história sobre Gimil-Ninurta, um homem tão pobre que não tinha nem uma “troca de roupa”. Ele usa sua última moeda para comprar uma cabra e vai comemorar na residência do prefeito.

Algumas versões da história dizem que ele levou a cabra como um presente para o prefeito, mas isso não é uma unanimidade entre os conhecedores do conto.

Rindo do homem pobre e da sua cabra, o prefeito leva o animal embora e manda seus servos baterem em Gimil-Ninurta, jogando-o na rua. Jurando se vingar, Gimil promete dar o troco.

Na triste jornada da vingança, sua primeira parada é a morada real do rei de Nippur, a quem Gimil-Ninurta de alguma forma convence a dar-lhe roupas extravagantes e uma carruagem real.

Voltando à sua cidade, ele engana o prefeito para tentar roubá-lo. Mais tarde, chantageia o ladrão (e bate nele) por ter efetivamente roubado o rei.

Depois que o prefeito é carregado até aos guardas, Gimil-Ninurta paga um homem para executá-lo e foge, mas não antes de bater no prefeito pela terceira vez.

2. As Instruções de Shuruppak, escritas na Suméria, em 2500 aC

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Uma coleção de lições e provérbios que segue na mesma veia dos provérbios bíblicos, “As Instruções de Shuruppak” tratam-se de um documento escrito por um pai para Ziusudra, o herói do dilúvio sumério.

Talvez o maior exemplo de sabedoria da literatura suméria, os detalhes do documento trazem dezenas de dicas úteis para garantir que Ziusudra seja capaz de viver uma vida boa.

As dicas falam de aulas práticas para preceitos morais e terminam com uma mensagem para a donzela Nisaba, que aparentemente foi encarregada de escrever tudo isso.

O uso generalizado de “As Instruções de Shuruppak”, bem como sua popularidade como uma ferramenta de ensino, pode ser assumido graças ao grande número de cópias existentes que foram descobertas. Com aulas avançadas como “não estuprar” e “como você não deve julgar quando bebe cerveja”, muitas pessoas ainda poderiam tirar boas lições dessa joia literária.

1. As Máximas de Ptahhotep, escritas no Egito em 2400 aC

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O Egito tem uma cultura realmente fascinante. Se você chegou até aqui na sua leitura, já percebeu que a produção histórica desse país foi além da arquitetura e da ciência, tendo sido também muito vasta na literatura.

A última joia literária descoberta pelos historiadores também foi escrita no Egito.

Trata-se de um livro de 18 páginas de provérbios, chamado de “As Máximas de Ptahhotep”. Está é uma coleção de pensamentos e ideias de Ptahhotep, um conselheiro de dois faraós diferentes, Menkauhor e Assa Djed-ka-Ra.

Abaixo do papel do próprio Faraó, Ptahhotep dedicou sua vida para se tornar um sumo sacerdote e servir seu reino. Muito parecido com as instruções do Shuruppak, esses escritos foram apresentados como lições para o filho de Ptahhotep, com uma breve pincelada de reclamação sobre ficar velho. As máximas fluem entre as regras sobre a obediência civil e estrutura social até relações pessoais e sexuais.

Os créditos para tanta sabedoria e inspiração ficam para um deus, e Ptahhotep termina sua escrita discutindo sua longa vida de 110 anos, seu prazer em fazer Maat (o código egípcio antigo da justiça) para o rei, e seu desejo de ver o seu filho continuar seu legado de boas obras.

Parece uma boa leitura. [Listverse]

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