A Surpreendentemente Simples Explicação de Por que os Cavalos Têm Rostos Compridos

Por , em 11.12.2023

Uma história interessante começa quando um cavalo entra em um bar. Curiosamente, o barman faz uma pergunta clássica: “por que a cara tão comprida”? Este trocadilho é um dos mais antigos no mundo do humor, repleto de respostas criativas.

Em nossa recente análise científica, oferecemos uma explicação inovadora para essa característica: cavalos, assim como muitos outros mamíferos de grande porte, têm faces longas simplesmente porque têm a capacidade biológica para isso.

Essa curiosidade, “por que a cara tão comprida?”, é mais do que um mero gracejo, desempenhando um papel fundamental nos estudos sobre a evolução dos mamíferos. A presença de faces alongadas em mamíferos não é aleatória. Geralmente, um rosto mais longo está associado a um tamanho corporal maior em determinados grupos de animais.

Esse fenômeno é conhecido como “alometria evolutiva craniofacial”, ou CREA, e é observado em grupos de mamíferos extremamente variados, incluindo felinos, roedores, cervídeos, marsupiais e certos primatas. Esse fenômeno pode ser visto ao comparar o rosto de uma ovelha com o de uma vaca, ou o de um pequeno cervo com o de um alce imenso.

Tanto as ovelhas quanto as vacas são membros da família Bovidae, mas as vacas são maiores e geralmente têm rostos mais longos. O mesmo padrão pode ser visto nas espécies de cervos menores e maiores. Ovelha (Flickr/Tambako The Jaguar); vaca (PickPik); pudu (Flickr/Robert Lowe); alce (Flickr/Tambako).

Apesar de sua prevalência, as explicações para o CREA são raras. Uma hipótese sugere que o padrão CREA pode ser uma parte inerente do desenvolvimento do crânio, onde a face do mamífero se alonga automaticamente conforme o animal cresce.

Contudo, essa teoria é insuficiente em casos onde o padrão CREA não se aplica ou é invertido.

Por exemplo, os diabos-da-tasmânia, lontras-marinhas e orcas, apesar de serem maiores do que a maioria de seus parentes, possuem faces mais curtas. Em contrapartida, potoroos de nariz longo, póssumos de mel e morcegos nectarívoros, embora pequenos, têm faces longas.

Claramente, o tamanho de um mamífero não determina necessariamente que sua face seja longa.

Então, por que o CREA é tão comum?

Nossa teoria se concentra na biomecânica de como as espécies usam suas faces para se alimentar. Animais relacionados tendem a ter dietas similares.

Por exemplo, ovelhas e vacas se alimentam da mesma grama. No entanto, devido ao seu tamanho menor, as ovelhas precisam morder com mais força usando seus componentes faciais – mandíbulas, músculos e dentes.

Faces mais curtas são mais eficientes para mordidas fortes, devido à menor distância entre os músculos da mandíbula e os dentes. É semelhante ao funcionamento de um pegador de churrasco: quanto mais perto a mão está das pontas, mais forte é o aperto.

Animais que não se encaixam no padrão CREA geralmente têm dietas radicalmente diferentes. Por exemplo, orcas caçam grandes presas em vez de pequenos peixes, e o diabo da Tasmânia é um especialista em quebrar ossos. Imagens: Raposa-feneco (Rawpixel), raposa-tibetana (Craig Brelsford), quokka (Flickr/Jack Barsby), canguru (Rawpixel), golfinho (Museu Tomaree), orca (Pexels Pixabay), antechinus (Wikipedia/Mel Williams), diabo da Tasmânia (Pexels/Chen Te).

Assim, a existência de faces curtas é facilmente explicável. Mas por que mamíferos maiores possuem faces mais longas?

Animais maiores têm naturalmente músculos maiores e mordem com mais facilidade. Eles se esforçam menos para morder em comparação com seus parentes menores.

Em outras palavras, mamíferos maiores podem “arcar” com crânios mais longos, que são conhecidos por serem vantajosos em várias situações. Em herbívoros, faces mais longas facilitam o alcance de mais folhas ou a ingestão de porções maiores. Em carnívoros, uma face mais longa pode acomodar dentes maiores ou ajudar as mandíbulas a se fecharem mais rapidamente.

Explicando as ‘exceções’

Nossa explicação proposta para o CREA também esclarece as exceções a ele, que quase sempre envolvem uma grande mudança na dieta. A família dos cães é um exemplo excelente, incluindo caçadores de presas pequenas, como raposas, e de presas grandes, como lobos.

Tanto caçadores de presas pequenas quanto grandes seguem o CREA dentro de seus grupos alimentares. Ou seja, indivíduos maiores dentro de um grupo de raposas terão faces mais longas.

No entanto, embora os lobos tendam a ser maiores do que as raposas, eles ainda têm faces mais curtas do que as maiores raposas. Sugerimos que isso se deve ao fato de caçarem presas maiores, necessitando de uma mordida mais forte.

Nosso raciocínio também se aplica ao cenário oposto. Por exemplo, póssumos de mel e potoroos podem “arcar” com faces mais longas do que seus parentes maiores porque comem alimentos mais macios. Uma face mais longa pode permitir que mantenham uma língua mais longa ou farejem facilmente através do solo em busca de comida.

Também esperaríamos exceções onde uma espécie não usa seu focinho para capturar ou desmembrar alimentos. Os humanos, com suas faces notavelmente curtas em relação a um grande crânio, são um exemplo notável. Nossa espécie não usa a face para adquirir alimentos; em vez disso, nossas mãos, ferramentas e habilidades culinárias cumprem essa função.

Em resumo

Nossa pesquisa oferece uma nova perspectiva para entender o comprimento da face em diferentes grupos de mamíferos. Ela pode até ajudar a esclarecer os hábitos alimentares da megafauna extinta da Austrália.

Quanto ao cavalo no bar, quando questionado novamente “por que a cara tão comprida?” – sua resposta apropriada deveria ser “porque eu posso me dar ao luxo”, seguida de uma generosa gorjeta. [Science Alert]

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