Adoçantes artificiais engordam?
Os adoçantes artificiais parecem afetar a capacidade do corpo de contar calorias e, como resultado, os alimentos dietéticos e bebidas para emagrecer podem acabar tendo o efeito contrário e estimulando o ganho de peso, sustentam especialistas. A indústria discorda.
Algumas evidências sugerem que esses adoçantes também podem aumentar o risco de problemas de saúde, como doenças cardíacas e diabetes.
Adoçantes artificiais engordam?
Em artigo de opinião publicado nesta quarta-feira (10) na revista “Trends in Endocrinology and Metabolism”, a professora de neurociência comportamental da Universidade de Purdue, no estado de Indiana, EUA, Susan Swithers, comenta as recentes pesquisas sobre adoçantes artificiais. De acordo com o texto, edulcorantes utilizados indiscriminadamente incluem a sucralose, o aspartame e a sacarina, entre outros.
Susan Swithers vem estudando os efeitos de adoçantes artificiais em ratos há anos, mas o artigo faz uma análise dos efeitos na saúde em humanos também. A pesquisadora conta que os estudos que acompanham consumidores regulares de refrigerantes diet ao longo do tempo descobriram que essas pessoas possuem maior risco de ganhar de peso e desenvolver obesidade do que as pessoas que não bebem nenhum tipo de refri.
Em comparação com as pessoas que evitam refrigerantes regulares ou diet, os bebedores de refri diet também parecem ter riscos mais elevados de desenvolver diabetes tipo 2, doenças cardíacas e síndrome metabólica – um conjunto de sintomas que deixa as pessoas em maior risco de ter essas condições.
Além disso, Swithers escreve, os riscos de passar a ter esses problemas de saúde parecem ser semelhantes em pessoas que bebem refrigerantes diet em comparação com aqueles que bebem refrigerantes comuns. Ou seja, não há muita vantagem em beber a versão diet, já que ela causa os mesmos malefícios da bebida regular.
Entretanto, alguns desses estudos não são conclusivos, porque não se pode descartar a possibilidade de que as pessoas estavam bebendo refrigerantes diet porque estavam ganhando peso, e não o contrário – um problema chamado de causalidade reversa.
Apesar dos resultados aparentemente sólidos das pesquisas que Swithers apresenta, nem todo mundo concorda com a professora. “Os pontos de vista neste artigo me parecem tendenciosos e especulativos”, avalia a especialista em assuntos científicos e nutrição Theresa Hedrick, do Conselho de Controle de Calorias, um grupo de lobby para os fabricantes de adoçantes artificiais. “Ela só apresenta os estudos que apoiam a sua opinião e ignora o grande corpo de pesquisa científica que demonstra a segurança e os benefícios de adoçantes de baixa caloria”.
“É importante lembrar que os adoçantes de baixa caloria são apenas um aspecto das várias abordagens possíveis no multifacetado panorama da saúde e da prevenção da obesidade”, opina Hedrick. “Adoçantes não são poções mágicas”.
Swithers rebate ao afirmar que seus estudos com animais apoiam a hipótese de que os adoçantes artificiais podem levar ao ganho de peso, mesmo se eles não têm nenhuma caloria. Ela diz ter percebido evidências de perturbações metabólicas causadas por adoçantes artificiais em ratos.
Basicamente, acontece algo assim: em um mundo sem adoçantes artificiais, um gosto de algo doce prepara o cérebro e o intestino para a digestão das calorias que serão ingeridas. Quando as calorias não aparecem, como acontece com adoçantes artificiais, essas respostas metabólicas não são acionadas do jeito que deveriam. A insulina não se eleva, os hormônios que aumentam a sensação de saciedade e satisfação não são acionados e o cérebro não recebe uma sensação de recompensa da dopamina que os açúcares liberam.
Depois de um tempo, de acordo com Swithers, a boca continua mandando os sinais que antecedem a chegada de algo doce, mas o cérebro e o intestino param de responder a eles. Como resultado, quando um açúcar de verdade vier, cheio de calorias reais, o corpo não vai responder a eles como deveria. Ou seja, as calorias vão acabar não fazendo você se sentir tão saciado quanto deveriam. Elas não são tão gratificantes. E, consequentemente, você não recebe os sinais que te impedem de comer mais.
Os adoçantes artificiais também podem facilitar algo que os psicólogos chamam de distorções cognitivas. Ou seja, eles permitem que nos enganemos ao pensar que podemos comer mais calorias do que realmente deveríamos. Economizar calorias com um refrigerante diet significa que um pedaço de bolo de chocolate mais tarde é ok, quando não é.
Com base em sua pesquisa, Swithers afirma que a água é a melhor opção para as pessoas que estão tentando perder peso ou melhorar seus hábitos alimentares e saúde como um todo. “A desvantagem de beber os refrigerantes diet é que eles podem minar esses processos inconscientes que poderiam nos ajudar a regular o nosso peso e outras coisas como o açúcar no sangue”, finaliza. [WebMD]