Cobras podem ser a origem do novo coronavirus altamente infeccioso da China

Por , em 24.01.2020

Até esta sexta-feira (24), mais de 830 pessoas espalhadas por pelo menos seis países já tiveram confirmação de infecção pelo novo coronavírus de Wuhan (região central da China). Destas, 26 pessoas morreram e 13 cidades chinesas que somam 30 milhões de habitantes estão fechadas para transportes coletivos como trens, barcos e aviões. 

Como os primeiros infectados em dezembro de 2019 foram trabalhadores e clientes do mercado de frutos do mar de Huanan, muitos suspeitaram que o novo vírus veio de alguma carne ou animal vivo vendido ali. A questão é que, ao contrário do que o nome indica, o mercado não tem a circulação apenas de animais marinhos, mas também de animais selvagens como castores, raposas, texugos, cobras e porcos-espinhos. Enquanto alguns animais eram comercializados vivos, outros eram mortos e limpos por ali mesmo. 

Esse tipo de mercado é conhecido como “mercado molhado” porque há um fluxo de água constante no chão para empurrar sangue, fezes e urina desses animais para os ralos. Essa sopa de fluídos corporais animais é o ambiente perfeito para a proliferação de vírus e bactérias. Desde o início do surto, o mercado foi desinfectado e fechado. 

Usando amostras dos vírus isolados de pacientes, cientistas da China conseguiram determinar o código genético e registraram imagens dele no microscópio. Este vírus pertence à mesma família que a Síndrome Respiratória Aguda Grave (SARS-CoV) e a Síndrome Respiratória do Oriente Médio (MERS-CoV). A Organização Mundial da Saúde nomeou o novo coronavírus de 2019-nCoV. 

Os coronavírus têm este nome por causa do formato quando visto no microscópio, que lembra uma coroa. Eles são transmitidos pelo ar e geralmente afetam o sistema respiratório superior de mamíferos e aves. A grande maioria dos coronavírus causa sintomas parecidos com o da gripe, mas o SARS e MERS infectam tanto as vias aéreas superiores quanto as inferiores, portanto são mais graves. 

O 2019-nCoV causa sintomas parecidos com o SARS e MERS, e as pessoas infectadas sofrem uma resposta inflamatória severa. Não há vacina ou tratamento antiviral disponível contra o 2019-nCoV, mas compreender melhor o ciclo de vida do vírus vai ajudar na prevenção da doença. 

Morcegos, camelos, gatos de algália e cobras

Assim como o SARS e MERS, o 2019-nCoV é uma doença com origem em animais, sendo que o primeiro paciente foi infectado pelo contato direto com o animal, e depois infectou diretamente outros humanos. Isso acontece porque o vírus passou por uma mutação genética no animal que permitiu que ele se multiplicasse em humanos. 

No caso do SARS e MERS, acredita-se que a origem do vírus foi o morcego, mas que ele infectou gatos da algália e camelos, respectivamente, que por sua vez contaminaram humanos. Nesses casos, provavelmente não houve consumo desses animais, mas contato direto com humanos. 

Agora, é possível que a origem do novo vírus também seja o morcego, mas que o contato com a cobra chinesa ou a krait chinesa tenha servido de ponte para a passagem do vírus para os humanos. Isso, porque as cobras em ambiente selvagem caçam morcegos. O que ainda não se sabe é como o vírus poderia ter se adaptado tanto a hospedeiros de sangue frio quanto de sangue quente. 

Para confirmar esta hipótese, seria necessário coletar o RNA das cobras vendidas no mercado chinês, mas elas já foram eliminadas há algumas semanas. Mesmo assim, o relatório recém-publicado traz informações valiosas para a criação de protocolos de tratamento e prevenção da doença. [The Conversation]

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