Cogumelos mágicos causam dependência? Mito ou verdade?

Por , em 3.05.2023

Será que os cogumelos mágicos causam dependência? Os cogumelos mágicos fazem parte de diferentes culturas ameríndias há milhares de anos. Isso se dá, sobretudo, por conta dos seus efeitos psicodélicos, que são desejáveis em diferentes rituais.

Apesar da mística envolvendo a utilização de cogumelos mágicos, o uso recreativo também se faz presente em diferentes culturas. Esse uso é voltado tanto para proporcionar relaxamento quanto para que experiências extrassensoriais possam ser vividas.

Além do uso em rituais de povos originários e do uso recreativo, a comunidade científica também vem voltando seu olhar para os Psilocybe cubensis. Isso, sobretudo por conta dos resultados positivos obtidos em diferentes pesquisas ao longo do tempo e voltadas, sobretudo, para o tratamento de psicopatologias.

Mas, em meio a tantas descobertas recentes e à popularização do uso recreativo dos cogumelos mágicos, muito vem se discutido a respeito de riscos relacionados ao uso e até sobre sua legalidade. No entanto, esses riscos estão ligados à ideia de que cogumelos mágicos causam dependência conforme o uso se torna mais frequente.

Em meio aos argumentos que dominam essa discussão, é fato que o uso de qualquer substância psicodélica deve ser feito com respeito. E, mais ainda, com cuidado.

Cogumelos mágicos causam dependência? O que é verdade e o que é mentira?

De forma geral, é possível definir a psilocibina – substância presente nos cogumelos mágicos – como não-viciante e não causadora de compulsão por seu uso.

Isso se dá, sobretudo, pela forma como a psilocibina atua em nossa consciência, oferecendo uma experiência bastante intensa e mentalmente desafiadora. Assim, naturalmente, os usuários dos cogumelos mágicos podem limitar sua frequência de uso ou, ainda, consumir doses menores.

Outra questão em relação ao uso dos cogumelos mágicos está ligada à tolerância que o corpo humano pode desenvolver pela psilocibina. Essa tolerância, por si só, então, pode desestimular o uso frequente em doses elevadas.

Assim, como o corpo humano precisaria de doses cada vez maiores de cogumelos mágicos para ter, por dias seguidos, o mesmo efeito obtido na primeira utilização. Isso faz com que se torne inviável o consumo compulsivo do psicodélico, conduzindo a um regramento em relação à sua utilização.

Dessa forma, ainda que não haja qualquer comprovação de que os cogumelos mágicos causam dependência, é possível afirmar que o uso diário em altas doses fará com que nosso corpo se torne mais e mais tolerante aos efeitos da psilocibina. No entanto, isso acabará por limitar nossa forma de consumo por si só.

Quando comparado a drogas potencialmente viciantes, vale também dizer que os cogumelos mágicos ocupam a última posição em uma lista criada pela The Lancet. Nessa lista, o Psilocybe cubensis fica atrás de álcool, tabaco, maconha e LSD.

Quais são os efeitos ligados ao uso recorrente?

De forma geral, os efeitos ligados ao uso recorrente de cogumelos mágicos podem estar relacionados à diminuição da tolerância à psilocibina.

Não é possível precisar qualquer efeito relacionado ao uso recorrente, uma vez que dependerá da frequência de uso e, além disso, do ambiente em que os cogumelos mágicos serão consumidos. Outro fator importante de ser mencionado é a sensibilidade de quem os consome. Assim, a afirmação de que os cogumelos mágicos causam dependência não é verdadeira.

Antes de qualquer utilização, é necessário ter claro que os cogumelos mágicos contém substâncias psicoativas bastante potentes, que podem ser benéficas para os seres humanos.

No entanto, é necessário ter atenção à própria saúde e buscar por acompanhamento médico e apoio psicoterapêutico a fim de obter as orientações necessárias a respeito da utilização dos cogumelos mágicos em qualquer momento da vida.

Cogumelos mágicos: Psilocibina além da recreação

De acordo com uma pesquisa coordenada pelo Ministério da Saúde e aplicada em todos os estados da federação – Pesquisa VIGITEL Brasil – mais de 20 milhões de brasileiros sofrem com sintomas da depressão. Essa grande parcela da população já tem um diagnóstico clínico, de acordo com a pesquisa.

Na mesma medida, no entanto, o número de casos de pacientes que, pouco a pouco, deixam de responder às formas alopáticas de tratamento, emprega grandes desafios para a medicina convencional. Essa resistência medicamentosa acaba por criar um grande problema relacionado à própria saúde pública.

Diante desse cenário que pode se apresentar de forma catastrófica em um futuro bastante próximo, as substâncias psicoativas, que já foram muito estudadas no século passado, voltam a receber merecida atenção por parte de pesquisadores em todo o mundo.

E, dentre elas, a psilocibina já se mostra eficaz no tratamento do transtorno obsessivo-compulsivo. Além do tratamento do TOC, também promove conforto emocional para pacientes em estágios terminais de câncer.

Vale sempre dizer que quando consumimos um cogumelo mágico, assim como qualquer outro tipo de psicodélicos, nosso cérebro e comportamento serão alterados, ainda que apenas enquanto os efeitos do que consumimos perdurarem em nosso organismo.

Nesse momento, podemos viver experiências transformadoras, que vêm se mostrando positivas em estudos científicos que avaliam a atividade em centros cerebrais bastante estimulada em pacientes com depressão.

Na ciência, os cogumelos mágicos entram em cena

A psilocibina – que agora você sabe que é a principal substância de um cogumelo mágico – vem sendo estudada de forma profunda por cientistas em todo o mundo. O interesse pela substância se dá, sobretudo, por conta dos seus efeitos duradouros em pessoas que sofrem com transtornos depressivos e que já não obtém as melhores respostas possíveis aos tratamentos convencionais e alopáticos.

Nos Estados Unidos, a FDA – Food and Drug Administration – aprovou um novo medicamento ainda em caráter investigativo que tem como princípio ativo a psilocibina. Sua destinação, a princípio, é para o tratamento de distúrbios alimentares, como a anorexia nervosa. A anorexia tem alta taxa de mortalidade quando não cuidadosamente observada por uma equipe multidisciplinar.

Esse evento, em particular, abre um precedente realmente empolgante para a comunidade científica de todo o mundo. Assim, os efeitos positivos do princípio ativo dos cogumelos mágicos poderão, em um futuro breve, se tornar mais populares. E, mais que isso, ainda podem revelar benefícios para mais pessoas, em mais situações de saúde que merecem atenção.

Enquanto isso, mais estudos se popularizam ligando os efeitos da psilocibina ao tratamento da depressão. Além desse tema, também surgem estudos que indicam que outras complicações ligadas à nossa saúde mental podem também encontrar respostas nos cogumelos mágicos. Isso enfatiza a necessidade de se voltar a atenção para essas estruturas tão complexas presentes na natureza e, agora, cada vez mais acessíveis para quem busca seus benefícios.

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