Tomando psilocibina em nome da ciência

Por , em 30.11.2022

Cerca metade da população brasileira passará um distúrbio de saúde mental durante a vida, e cientistas estão se voltando para um lugar improvável na busca de tratamentos: cogumelos mágicos.

Pesquisadores da Universidade de Monash estão examinando os cérebros de adultos saudáveis sob a influência de drogas psicodélicas. Eles visam identificar os caminhos no cérebro que fundamentam os efeitos dessas substâncias para chegar a uma compreensão de como as diferentes partes do cérebro estão conectadas.

O estudo PsiConnect (Psilocibina, Conectividade e Contexto) é o primeiro ensaio clínico de imagem em participantes com psicodélicos na Austrália e, com 60 participantes, é um dos maiores ensaios de imagem psicodélica em todo o mundo.

Existem muitos tipos de psicodélicos, derivados de diferentes plantas, animais e fungos. Quando uma pessoa toma uma substância psicoativa, há uma reorganização temporária da conectividade cerebral que altera a percepção. Pode causar alterações visuais e pode mudar a autopercepção.

O ensaio usa uma dose fixa de 19 mg, uma quantidade baseada em estudos anteriores e recomendações de pesquisadores, para criar de forma confiável os efeitos psicodélicos da psilocibina em um nível que geralmente é bem tolerado por adultos saudáveis, independentemente do sexo ou peso corporal.

Os participantes passam por duas sessões de varreduras cerebrais na instalação de imagens biomédicas da Monash, uma antes e outra depois da psilocibina. Eles ingerem uma pílula em um ambiente não clínico confortável na companhia do pesquisador, do médico do estudo e da equipe de apoio. A maioria das pessoas começa a sentir os efeitos da psilocibina em cerca de uma hora, então a varredura começa.

Primeiro, a ressonância magnética funcional (fMRI) tira fotos de alta resolução de todo o cérebro, incluindo partes subcorticais profundas, e mede como essa atividade muda ao longo do tempo. Os pesquisadores também usam um eletroencefalógrama (EEG) após a ressonância magnética, porque ele pode medir mudanças de milissegundos na conectividade cerebral, embora com resolução (espacial) muito menor.

O estudo também investiga como o contexto desempenha um papel nos efeitos da psilocibina, fornecendo músicas diferentes à medida que a varredura ocorre. Os pesquisadores em seguida conversam com os participantes, para melhor compreender os mecanismos de percepção, associando relatos subjetivos às mudanças observadas.

Até agora, os pesquisadores encontraram ampla variabilidade nas experiências dos participantes. Alguns participantes relatam enxergar padrões em movimento enquanto seus olhos estão abertos; outros não relatam alterações visuais. Alguns participantes relatam experiências puramente corporais, enquanto outros descrevem relatos de jornadas místicas.

Alguns participantes revelaram um sentimento de integração, dissolvendo a separação entre si e o ambiente que trazia euforia; enquanto outros experimentaram essas mudanças com emoções variadas.

Nesse estágio inicial, a pesquisa sugere que a qualidade, e não a intensidade, das experiências com psilocibina pode ter uma influência maior nas mudanças psicológicas. Com o tempo, o trabalho espera entender melhor os fatores biológicos que determinam a resposta psicodélica a uma determinada dose e como a a mente e a configuração neurológica podem ser otimizadas para auxiliar nos resultados terapêuticos.

Em última análise, pedir a voluntários que tomem psilocibina para a ciência pode nos ajudar a entender melhor o cérebro e como o cérebro nos permite entender a nós mesmos e ao mundo. [Code Blue]

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