Embalagem natural: descobrimos como humanos pré-históricos conservavam comida

Por , em 11.10.2019

Pesquisadores da Universidade Tel Aviv (Israel) em colaboração com estudiosos da Espanha encontraram evidência de armazenamento e consumo tardio de medula óssea animal em uma caverna perto de Tel Aviv.

Este sítio arqueológico tem sido palco de descobertas importantes sobre o período Paleolítico (400 mil anos atrás). A caverna onde as evidências foram encontradas é chamada Qesem.

O estudo foi publicado em outubro na revista Science Advances e tem Ruth Blasco como pesquisadora principal.

Outro pesquisador que participou do trabalho foi Ran Barkal. Ele explica que a medula é uma fonte importante de nutrientes e era item importante da dieta pré-histórica.

A medula ainda é apreciada atualmente

“Até agora, evidências apontavam para o consumo imediato da medula seguindo a obtenção remoção dos tecidos moles. Em nosso artigo, apresentamos evidência de armazenamento e consumo tardio da medula na caverna Qesem”, diz ele.

Segundo o trabalho, os humanos retiravam das carcaças de animais pedaços selecionados para serem guardados na caverna. A presa mais comum era veado, e as pernas e cabeça eram levados para a caverna enquanto o resto da carcaça era limpa no local do abate. Os humanos retiravam a carne e a gordura para consumo imediato, e deixavam os restos para trás.

Pesquisadores encontraram marcas bastante características de que o osso era aberto semanas depois do abate do animal

“Descobrimos que os ossos das pernas, especificamente os metapodiais, exibiam marcas de corte únicas nos veios, que não são característicos das marcas deixadas ao arrancar a pele fresca”, diz outro pesquisador, Jordi Rosell.

Com esta informação, os pesquisadores simularam diferentes cortes em pernas de veados, até conseguirem marcas semelhantes nos ossos. Quando retiravam a pele seca, os humanos precisavam fazer muito mais esforço do que para retirar uma pele fresca, por isso as marcas eram diferentes.

As marcas de corte foram encontradas em 78% dos 80 mil fragmentos de ossos encontrados no sítio.

A combinação de análises arqueológicas e experimentos permitiu que eles determinassem que as medulas haviam sido consumidas nove semanas depois do abate da presa.

“Os ossos eram usados como ‘latas’ que preservavam a medula óssea por um longo período até que fosse hora de retirar a pele seca, quebrar o osso e comer a medula”, diz Barkai.

Esta é a evidência mais antiga que os humanos vivendo naquele período conseguiam pensar sobre o futuro e antecipar necessidades.

“Mostramos pela primeira vez em nosso trabalho que entre 400 mil e 200 mil anos atrás, os humanos pré-históricos da caverna Qesem eram sofisticados o suficiente, inteligentes o suficiente e talentosos o suficiente para preservar ossos específicos de animais em condições especiais, e, quando necessário, remover a pele, quebrar os ossos e comer a medula”, explica outro pesquisador que participou do estudo, Avi Gopher.

“Esse tipo de comportamento permitiu aos humanos se desenvolver e entrar em uma existência socioeconômica muito mais sofisticada”, diz ele. [Science Daily, BBC]

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