Embalagem natural: descobrimos como humanos pré-históricos conservavam comida

Pesquisadores da Universidade Tel Aviv (Israel) em colaboração com estudiosos da Espanha encontraram evidência de armazenamento e consumo tardio de medula óssea animal em uma caverna perto de Tel Aviv.
Este sítio arqueológico tem sido palco de descobertas importantes sobre o período Paleolítico (400 mil anos atrás). A caverna onde as evidências foram encontradas é chamada Qesem.
O estudo foi publicado em outubro na revista Science Advances e tem Ruth Blasco como pesquisadora principal.
Outro pesquisador que participou do trabalho foi Ran Barkal. Ele explica que a medula é uma fonte importante de nutrientes e era item importante da dieta pré-histórica.

“Até agora, evidências apontavam para o consumo imediato da medula seguindo a obtenção remoção dos tecidos moles. Em nosso artigo, apresentamos evidência de armazenamento e consumo tardio da medula na caverna Qesem”, diz ele.
Segundo o trabalho, os humanos retiravam das carcaças de animais pedaços selecionados para serem guardados na caverna. A presa mais comum era veado, e as pernas e cabeça eram levados para a caverna enquanto o resto da carcaça era limpa no local do abate. Os humanos retiravam a carne e a gordura para consumo imediato, e deixavam os restos para trás.

“Descobrimos que os ossos das pernas, especificamente os metapodiais, exibiam marcas de corte únicas nos veios, que não são característicos das marcas deixadas ao arrancar a pele fresca”, diz outro pesquisador, Jordi Rosell.
Com esta informação, os pesquisadores simularam diferentes cortes em pernas de veados, até conseguirem marcas semelhantes nos ossos. Quando retiravam a pele seca, os humanos precisavam fazer muito mais esforço do que para retirar uma pele fresca, por isso as marcas eram diferentes.
As marcas de corte foram encontradas em 78% dos 80 mil fragmentos de ossos encontrados no sítio.
A combinação de análises arqueológicas e experimentos permitiu que eles determinassem que as medulas haviam sido consumidas nove semanas depois do abate da presa.
“Os ossos eram usados como ‘latas’ que preservavam a medula óssea por um longo período até que fosse hora de retirar a pele seca, quebrar o osso e comer a medula”, diz Barkai.
Esta é a evidência mais antiga que os humanos vivendo naquele período conseguiam pensar sobre o futuro e antecipar necessidades.
“Mostramos pela primeira vez em nosso trabalho que entre 400 mil e 200 mil anos atrás, os humanos pré-históricos da caverna Qesem eram sofisticados o suficiente, inteligentes o suficiente e talentosos o suficiente para preservar ossos específicos de animais em condições especiais, e, quando necessário, remover a pele, quebrar os ossos e comer a medula”, explica outro pesquisador que participou do estudo, Avi Gopher.
“Esse tipo de comportamento permitiu aos humanos se desenvolver e entrar em uma existência socioeconômica muito mais sofisticada”, diz ele. [Science Daily, BBC]