Enterros de 10.000 anos de um grupo desconhecido de caçadores-coletores descobertos no Brasil

Por , em 21.01.2024
Um dos 43 esqueletos encontrados no sítio arqueológico de São Luís, Brasil. (Crédito da imagem: W Lage Arqueologia)

No Brasil, uma equipe de arqueólogos fez uma descoberta impressionante: um cemitério indígena extenso, contendo mais de 40 esqueletos humanos e inúmeros artefatos, alguns remontando a 10 mil anos atrás.

Essa descoberta reveladora sugere a existência de uma comunidade ancestral na região nordeste do estado do Maranhão, anterior aos conhecidos Sambaquis, que eram coletores costeiros na mesma área. Esta é a evidência mais antiga da presença humana nesta parte do Maranhão.

O sítio arqueológico foi localizado em São Luís, a maior cidade e capital do Maranhão, e veio à tona durante os trabalhos preliminares para um projeto habitacional do governo. O local, conhecido como Fazenda Rosane, situa-se entre duas vias importantes e se tornou um importante ponto de estudo arqueológico urbano.

Descobertas anteriores em São Luís, também conhecida como Upaon-Açu (“ilha grande” nas línguas indígenas Tupí-Guaraní), já indicavam atividades humanas primitivas. Por exemplo, um maxilar pré-histórico foi encontrado na Fazenda Rosane na década de 1970, e outros artefatos em São Luís datam de 6 mil anos atrás, segundo Wellington Lage, o arqueólogo-chefe destas recentes escavações. Esses achados anteriores foram associados aos Sambaquis, conhecidos por sua dependência de recursos marinhos e pelos grandes montes de conchas que construíam.

A escavação atual começou em junho de 2019 e, inicialmente, revelou cerâmica fragmentada e ferramentas de pedra. Durante o auge da pandemia de COVID-19 em 2020, o primeiro esqueleto foi encontrado a 60 centímetros abaixo da superfície.

Até o momento, a equipe descobriu 43 esqueletos e aproximadamente 100.000 fragmentos de artefatos em pelo menos quatro camadas históricas diferentes, sugerindo que o local foi utilizado ao longo de quatro períodos distintos, abrangendo até 8.500 anos.

Lage observou que os esqueletos desenterrados eram relativamente baixos, sendo o mais alto medindo 1,6 metros. Predominantemente homens adultos, os restos incluíam também dois crianças. Uma análise inicial indicou que esses indivíduos estavam envolvidos em trabalho físico intenso, como evidenciado por marcas ósseas.

Um dos esqueletos mais profundamente enterrados, encontrado a quase 2 metros de profundidade, foi datado usando a luminescência opticamente estimulada (OSL). Este método data minerais próximos aos ossos entre 7.000 e 10.000 anos atrás, sugerindo uma comunidade pré-Sambaquiana misteriosa na área.

Sara Batista, arqueóloga do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) do Brasil, que não estava envolvida na escavação, destacou que esses achados são os mais antigos do Maranhão, remontando ao meio e início do período Holoceno (11.700 anos atrás até o presente). Eles fornecem informações significativas sobre a história global durante a colonização inicial das Américas.

Para confirmar as datas das várias camadas de solo, Lage planeja enviar amostras para o laboratório Beta Analytic nos EUA para datação por radiocarbono em fevereiro. Isso ajudará a determinar as eras de diferentes grupos no local, incluindo pré-Sambaquiano, Sambaquiano, Tupi (culturas amazônicas) e Tupinambás — um subgrupo dos Tupi que vivia ao longo da costa atlântica e interagia com europeus após 1500.

O trabalho arqueológico na Fazenda Rosane deve ser concluído em seis meses. Uma colaboração entre a empresa de construção, o IPHAN e a Universidade Federal do Maranhão visa estabelecer um local para a conservação e armazenamento desses tesouros arqueológicos, incluindo um laboratório de pesquisa e um museu. [Live Science]

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