Estalar os dedos faz bem!
Nos últimos 15 anos, Tanya Johnson tem levado seu chefe à loucura. Não por causa de suas habilidades no trabalho – Dr. Robert Szabo diz que Johnson é uma excelente enfermeira -, mas sim pela sua incessante mania de estalar os dedos. “Eu dizia a ela para parar, que era ruim para ela”, diz Szabo. Era de se esperar que Johnson ouvisse os conselhos, uma vez que Szabo é cirurgião de mãos no UC Davis Medical Center, nos EUA, e ex-presidente da Sociedade Americana de Cirurgia de Mão.
Mas ela apenas continuou estalando. “Eu lhe dizia: ‘Prove que é ruim'”, diz ela. Mas Szabo não podia provar isso. Então, quando seu colega, Dr. Robert Boutin, um radiologista na UC Davis, pediu-lhe para colaborar em um estudo de estalo ossos, Szabo aproveitou a chance.
Novo estudo comprova causa dos estalos nos dedos
A ideia era simples: reunir um monte de pessoas que estalavam suas articulações (Johnson entre elas) e fazê-las desenvolver esta prática sob ultra-som, para ver o que realmente acontecia dentro da articulação. Em seguida, o plano era examinar as juntas pré e pós estalo, juntamente com os nós dos dedos de um grupo de pessoas que não os estalavam, para procurar problemas, incluindo inchaço na mão e diminuição da força de preensão.
Szabo estava completamente certo que o estudo iria provar que sua enfermeira precisava parar de estalar suas juntas. Mas não foi bem isso que aconteceu.
Estalar os dedos não causa nenhum problema nas mãos. Na verdade, depois que alguém estala uma junta, ela tem um aumento da amplitude de movimento em comparação com as juntas que não são estaladas.
O estudo, que não foi publicado, foi apresentado em dezembro em uma reunião da Sociedade Radiológica da América do Norte.
O que causa o estalo?
Além do bem ou mal que o estalo poderia causar, Boutin e Szabo queriam saber o que exatamente está acontecendo dentro da articulação que está sendo estalada.
Olhando para os ultra-sons de 400 juntas, os pesquisadores viram algo surpreendente: quando uma junta era estalada, havia um flash distintivo e repentino na articulação.
Eles acreditam que o que está acontecendo é que, quando você estala uma junta, você está separando duas superfícies da articulação, o que reduz a pressão na articulação. Essa pressão negativa permite que o gás que está dissolvido no líquido em suas articulações seja liberado, e o flash brilhante é uma bolha de gás se formando.
Estalar os dedos engrossa as articulações?
“Achamos que é por isso que uma junta fica com mais amplitude de movimento depois de estalá-la: há algo sobre a redução da pressão que permite maior frouxidão”, diz Boutin.
Os mitos por trás do estalar de dedos
Mas então se estalar os dedos não faz mal, como esse hábito ganhou uma fama tão ruim?
“Nossas tias e avós dizem que é algo ruim, mas ninguém realmente sabe de onde isso vem”, afirma o Dr. Greg Kawchuk, especialista em medicina de reabilitação da Universidade de Alberta, no Canadá.
Ele acha que pode ter uma pista com base nas respostas apaixonadas que recebeu quando publicou o seu próprio estudo de estalo de juntas no ano passado. “Ouvimos um monte de gente, e enquanto alguns disseram que o estalo era aliviador e útil, muitos achavam nojento”, disse ele.
Ele acha que talvez seja por isso que gerações de tios, tias e avós disseram às crianças para parar de estalar qualquer parte do corpo: porque eles simplesmente não podiam suportar o som.
“É apenas a minha opinião pessoal, mas eu tenho a sensação de que algumas dessas pessoas se sentiam muito mal com os estalos, por isso criaram esses mitos”.
Mas há alguma ciência envolvida nestes mitos. Um grande estudo de 1990 descobriu que pessoas que estalam os dedos eram mais propensas a ter inchaço na mão e menor força de preensão.
Mas Boutin e Kawchuk apontam algumas deficiências no estudo de 26 anos atrás. Em primeiro lugar, se os médicos sabiam quais sujeitos estalavam os dedos e quais não – o estudo não diz – este conhecimento poderia ter influenciado suas avaliações.
7 Mitos da medicina nos quais até médicos acreditam
Em segundo lugar, os autores do estudo não deixam claro como eles avaliaram o inchaço e a força de preensão.
Mesmo assim, Boutin e Szabo são os primeiros a dizer que seu estudo não é a palavra final sobre o estalo de dedos, especialmente considerando que eles só fizeram observações dos efeitos a curto prazo. Eles dizem que, nos próximos anos, um estudo maior e melhor pode contradizer suas conclusões.
Para sua consternação, Szabo percebeu que ele não tem motivos para dizer a sua enfermeira para parar de estalar seus dedos. “Depois de analisar a ciência, eu acredito fortemente que não é algo prejudicial”, disse ele. [CNN]