Abelhas podem entender uma linguagem simbólica para matemática

Por , em 21.06.2019

Cientistas australianos e franceses descobriram que abelhas podem reconhecer símbolos associados a números.

Assim como nós humanos sabemos que o símbolo 7 ou VII está associado a uma quantidade de sete, parece que as abelhas podem fazer a mesma associação.

Estudos anteriores já haviam mostrado que os animais eram capazes de compreender quantidades, adição e subtração. Agora, descobrimos que também podem compreender uma linguagem simbólica para esses conceitos.

“Nós não valorizamos o esforço uma vez que aprendemos números quando crianças, mas ser capaz de reconhecer o que o ‘4’ realmente representa requer um nível sofisticado de habilidade cognitiva”, explicou o cientista Adrian Dyer, do Instituto Real de Tecnologia de Melbourne (Austrália). “Estudos mostram que primatas e pássaros também podem aprender a ligar símbolos a números, mas esta é a primeira vez que vemos isso em insetos”.

A ideia

Os pesquisadores já tinham uma ideia de que isso era possível. Eles haviam descoberto, através de cuidadosa experimentação, que as abelhas pareciam entender símbolos para adição e subtração para realizar aritmética muito básica.

Da mesma forma, sabiam com base em estudos anteriores que as abelhas podiam se comunicar usando uma dança complexa para transmitir informações.

A nova pesquisa dá um passo adiante, mostrando pela primeira vez que invertebrados, assim como humanos, chimpanzés e até mesmo pombos, podem entender e usar uma linguagem simbólica para a matemática.

O experimento

Para testar essa capacidade, os cientistas empregaram um sistema modificado usado anteriormente para determinar se pombos poderiam reconhecer símbolos numéricos.

Símbolos inventados, ou “sinais”, foram atribuídos a um número e colocados em um labirinto em forma de Y.

As abelhas foram treinadas para voar neste labirinto, onde primeiro veriam um estímulo – um sinal ou uma imagem mostrando duas ou três formas – antes de irem para a câmara de decisão. Lá, veriam duas opções.

Se inicialmente viram um sinal, as opções seriam uma imagem de duas formas e uma imagem de três formas, e elas teriam que escolher o número correto de formas para combinar com o sinal. Se inicialmente viram formas, as duas opções seriam dois sinais diferentes que elas precisariam corresponder com o número de itens visualizados.

Se escolhessem corretamente, combinando um sinal em forma de N com dois itens e um T invertido com três itens, por exemplo, as abelhas recebiam um líquido açucarado delicioso. Uma resposta incorreta, no entanto, levava a quinino inofensivo, mas com sabor desagradável.

Resultados

Ao final de 50 testes, as abelhas estavam combinando sinais e formas corretamente com uma precisão de cerca de 75%.

Depois, os pesquisadores testaram as abelhas com novas cores, padrões e formas, para determinar se os insetos estavam combinando a numerosidade com o símbolo, e não com a imagem como um todo. As abelhas ainda combinaram corretamente os símbolos com base no número de formas que viram na imagem.

Mas elas não foram capazes de aprender a tarefa ao contrário, ou seja, vendo os símbolos primeiro. “Isso sugere que o processamento numérico e a compreensão dos símbolos acontecem em diferentes regiões do cérebro das abelhas”, disse a zoóloga Scarlett Howard da Universidade Paul Sabatier (França).

Próximos passos

Os resultados indicam que as abelhas não estão no mesmo nível que outros animais que aprenderam símbolos como números e foram capazes de realizar tarefas complexas.

Tampouco a pesquisa mostra que as abelhas podem compreender a quantidade em si – apenas que são capazes de combinar uma quantidade com um símbolo, e que são incapazes de aprender essa correspondência ao contrário – do símbolo para a quantidade.

Isso ajuda os cientistas a entender como funciona o aprendizado e como o cérebro constrói conexões entre os conceitos. Também pode lançar as bases para uma ponte anteriormente desconhecida nas comunicações entre humanos e abelhas.

“Os seres humanos têm mais de 86 bilhões de neurônios em seus cérebros, as abelhas têm menos de um milhão e estamos separados por mais de 600 milhões de anos de evolução”, disse Dyer. “Mas se as abelhas têm a capacidade de aprender algo tão complexo quanto uma linguagem simbólica feita pelo homem, isso abre novos caminhos para a comunicação futura entre as espécies”.

Um artigo sobre a pesquisa foi publicado na revista científica Proceedings of the Royal Society B. [ScienceAlert]

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