Existem quatro tipos de ansiedade social. Veja como combater cada um
A ansiedade social afeta milhões de pessoas, mas tende a se manifestar de maneiras diferentes em cada uma delas. De acordo com o psicólogo David Moscovitch, da Universidade de Waterloo (Canadá), identificar como sua ansiedade tende a se manifestar pode fazer muita diferença no tratamento.
“É muito útil identificar o que te assusta, o que você evita. Frequentemente, não é a situação em si que as pessoas temem, mas sim o que elas acreditam que acontecerá nessa situação”, explicou Moscovitch.
Em sua pesquisa, ele identificou quatro expressões – ou tipos – de ansiedade social:
- Ansiedade sobre nossas habilidades sociais e comportamentos;
- Ansiedade sobre a nossa ansiedade;
- Ansiedade sobre nossa aparência física;
- Ansiedade sobre nosso caráter.
O psicólogo teoriza que os quatro tipos têm uma coisa em comum: são baseados em nosso medo de que nossa “falha fatal” – algo sobre nossa aparência física ou nossas habilidades sociais – seja revelada e nos faça parecer um idiota.
A revelação da “falha fatal”
A psicóloga Ellen Hendriksen aprofundou a teoria de Moscovitch no livro “How to Be Yourself: Quiet Your Inner Critic and Rise Above Social Anxiety”, usando o termo “a grande revelação” para descrever o medo central da ansiedade social.
“Embora a ‘falha fatal’ pareça tão real, geralmente é inexistente, quase imperceptível ou não resultará no julgamento terrível que antecipamos”, afirmou. “Saber que tipo de ansiedade social você tem é o primeiro passo para refutar a insistência do seu cérebro de que você não é bom o suficiente”.
Conheça um pouco melhor a definição dos quatro tipos de ansiedade social pelos especialistas:
Ansiedade sobre habilidades sociais e comportamentos
Se você evita sair em pequenos grupos para conversar, ou evita papo casual com qualquer pessoa em situações sociais, sua ansiedade é provavelmente centrada em torno de suas habilidades sociais (ou o que você pensa ser a falta delas).
“Talvez você esteja com medo de não saber como ter uma conversa e se preocupe que, se você conversar com outras pessoas, elas te acharão desajeitado e pouco atraente”, disse Moscovitch. “Você imagina que as pessoas vão te ridicularizar ou interromper a conversa e ir embora”.
Enquanto seu mecanismo de enfrentamento normal pode ser pensar sobre tudo o que você vai dizer com antecedência, ou encontrar um canto em uma festa para ficar grudado no telefone, Moscovitch sugere que você tente realmente conversar com outras pessoas, como parte de uma experiência social “meio divertida”.
“Tenha o máximo de conversas individuais que puder. Pratique mantendo sua atenção focada na tarefa – ouvindo a outra pessoa e respondendo enquanto mantém contato visual”, disse. “Enquanto você conversa, reúna evidências para apoiar ou refutar a conclusão de que as pessoas o acham desajeitado e pouco atraente”.
Mas não se sabote: só porque você se sente ansioso ou estranho enquanto fala, não significa que você está sendo percebido dessa maneira. Você só terá uma ideia de como as pessoas estão o percebendo lendo suas expressões e linguagem corporal. Você provavelmente vai notar que ninguém está te olhando com repulsão, ou tirando sarro de você. Talvez as pessoas sejam inclusive surpreendentemente amigáveis.
Conforme você faz esses “experimentos sociais”, mantenha algo em mente: se alguém for rude com você, com toda probabilidade não teve nada a ver com você.
“Talvez a outra pessoa seja um idiota ou estava tendo um dia ruim”, explicou Moscovitch. “Quanto mais experimentos comportamentais você fizer, mais você perceberá que os resultados ruins são a exceção e não a regra”.
Ansiedade sobre ansiedade
Quando você fica ansioso por ser ansioso, anda por aí sentindo que há um holofote gigante em cima de você, permitindo que todos ao redor saibam que você tem ansiedade.
Ed Barton conta sua experiência durante o auge de sua ansiedade anos atrás: “Meus maiores inimigos eram os vasos sanguíneos no meu rosto, que dilatavam e aumentavam com o menor efeito: alguém olhando para mim no metrô, quando eu pedia um café no Starbucks, uma mulher atraente se movendo a menos de 6 metros de mim”.
Quanto mais Barton tentava controlar os efeitos físicos, mais corado e suado ficava. “Quanto mais eu queria passar despercebido, mais meu rosto queimava e literalmente fluía com suor. A ansiedade social é como um ciclo negativo que não cessa”.
Como quebrar o ciclo, então? Mais uma vez, Moscovitch sugere encarar a situação como um experimento social. Pratique.
As pessoas geralmente estão tão preocupadas consigo mesmas – todos nós temos algum nível de “síndrome do holofote” – que provavelmente não estão percebendo seu suor ou vermelhidão.
“Se você permanecer na situação e se envolver na interação social, quase todos ao seu redor vão esquecer esses pequenos sinais de nervosismo com os quais você se preocupa”, disse. “Esses sinais provavelmente começarão a diminuir quanto mais você praticar”.
Ansiedade sobre aparência física
Quando sua ansiedade social é focada em sua aparência física, o espelho é seu inimigo: você olha para ele e vê que tem uma enorme espinha que nenhuma quantidade de corretivo pode cobrir, que seu cabelo está oleoso mesmo que você tenha acabado de o lavar, e que você realmente deveria ter perdido cinco quilos antes de estrear essa nova roupa.
Abandone a fala negativa sobre si mesmo: todas as pessoas têm falhas, e você não é diferente. Curiosamente, suas tentativas de encobrir suas falhas podem atrair mais atenção para elas do que você imagina.
“O paradoxo cruel da ansiedade social é que as coisas que fazemos para esconder nossa ansiedade – exagerar na maquiagem, usar o cabelo para cobrir o rosto, usar mangas compridas no meio do verão – muitas vezes parecem mais estranhas do que qualquer ‘defeito’ que estamos tentando esconder”, argumentou Hendriksen.
Não deixe que a sua ansiedade reduza seu tempo de qualidade com as pessoas que você gosta. Da próxima vez que seus amigos te convidarem para sair e você não quiser ir porque a única blusa que fica boa em você está para lavar, vá mesmo que você tenha que usar outra coisa.
“Quando nos afastamos das pessoas, ficamos no canto de grupos ou não vamos porque temos vergonha de nossa aparência, nosso comportamento envia inadvertidamente a mensagem de que não queremos socializar, quando na verdade estamos apenas ansiosos”, disse Hendriksen.
Ansiedade sobre caráter
Quando sua ansiedade é focada no seu caráter, você sente que é a pessoa menos interessante do local, sempre. Você acha que sua conversa é chata, tem certeza de que ninguém quer ouvir sobre seu trabalho monótono e, mesmo que queira, você tem certeza de que pareceria estúpido ao explicar o que faz.
Se dê uma chance. Não seja tão duro consigo mesmo. É muito provável que você esteja exagerando.
“Pergunte a si mesmo: você espera que as pessoas que você conhece sejam interessantes, divertidas, confiantes e fabulosas 100% do tempo? Claro que não. O mesmo vale para você. A verdade é que tentar ser impecável é intimidante e sobre-humano. Suas fraquezas e imperfeições são cativantes, receptivas e acessíveis. Exiba-as com orgulho”, resume Hendriksen. [HuffPost]