Outro estudo confirma que comer menos pode levar a viver mais
Pesquisadores descobriram que macacos que seguem uma dieta de calorias reduzidas vivem mais do que os que comem o quanto desejam. Os resultados adicionam mais informações a uma vasta quantidade de estudos que descobriram que uma dieta restrita prolonga a vida de uma variedade de espécies.
O detalhe interessante desta pesquisa recente é que ela se aplica a animais estreitamente relacionados aos seres humanos. Agora, o debate é se isso se restringe aos bichos parecidos conosco ou não.
O estudo estava sendo conduzido desde 1989 no Centro Nacional de Pesquisa de Primatas de Wisconsin, Estados Unidos, e contou com a participação de dois grupos compostos por 38 macacos rhesus (Macaca mulatta) cada. Os pesquisadores descobriram que os animais autorizados a comer o que eles queriam tinham quase duas vezes mais probabilidades de morrer em qualquer idade do que os macacos cuja ingestão calórica foi cortada em 30%.
Esta mesma pesquisa já havia relatado, em 2009, que os macacos com restrição de calorias eram menos propensos a morrer de causas relacionadas com a idade do que os macacos sem controle calórico, mas não encontrou diferenças na taxas de mortalidade geral para todas as idades.
“Gostaríamos de testar a hipótese: poderia a restrição calórica atrasar o envelhecimento? E eu acho que nós mostramos que isso acontece”, declara Rozalyn Anderson, bioquímica da Universidade de Wisconsin, que liderou o estudo, publicado no dia 1° de abril na revista “Nature Communications”. Ela acrescente que não é de estranhar que os resultados de 2009 não descobriram que os macacos com restrição de calorias viveram mais tempo, porque, na época, poucos macacos haviam morrido para comprovar a hipótese.
Anteriormente, pesquisas já tinham demonstrado que uma dieta de pouca caloria pode prolongar a vida de ratos, levando à especulação de que essa dieta provocaria um caminho bioquímico que promove a sobrevivência. Mas qual caminho seria esse – e se o mesmo poderia ser aplicado aos seres humanos – tem sido uma questão de debate acalorado.
Na década de 1980, quando os cientistas da Universidade de Wisconsin começaram os trabalhos, uma equipe no Laboratório do Instituto Nacional do Envelhecimento, em Baltimore, EUA, também iniciou suas pesquisas com macacos rhesus, que podem viver até os 40 anos de idade. Três anos depois da divulgação dos primeiros resultados da Universidade de Wisconsin, a equipe de Baltimore alegou ter descoberto que seus macacos que faziam dietas de baixo teor calórico não estavam vivendo mais do que os animais que seguiram uma dieta normal durante a vida. Os resultados divergentes intrigaram os pesquisadores.
Segundo a equipe de Wisconsin, o estudo Baltimore cometeu um erro, uma vez que seus macacos de controle também foram alimentados com uma dieta mais leve do que a normal. “Não se admira que todos os macacos do teste de Baltimore apresentaram desempenhos parecidos – o grupo de controle também estava sofrendo restrição calórica”, diz Anderson.
Por outro lado, o estudo de Baltimore indica que uma restrição menor de calorias pode ser tão eficaz como uma restrição mais significativa. Se assim for, “essa seria uma descoberta extremamente importante”, reconhece Anderson. As duas equipes estão trabalhando em um relatório conjunto que busca explicar melhor os diferentes resultados.
Estes estudos são imensamente caros porque os macacos devem ser monitorados e alimentados durante a vida inteira e recebem quase o mesmo padrão de cuidados de saúde dos seres humanos. De qualquer forma, os experimentos de longa execução também são de grande importância. Em ratos de laboratório, a simples redução de calorias de uma dieta normal aumentou sua longevidade em até 40%. Isso aconteceu devido ao adiamento do aparecimento de doenças relacionadas à idade. Os estudos com macacos são a forma mais direta de determinar se este envelhecimento tardio também valeria para as pessoas.
Embora poucas pessoas consigam manter uma dieta com 30% menos calorias do que o normal, já estão sendo desenvolvidos alguns medicamentos destinados a imitar a restrição calórica. Estes poderiam, em tese, ter efeitos de longo prazo sobre a saúde e a longevidade de uma população. Por enquanto, porém, mais pesquisas ainda são necessárias para indicar se o processo pode ser replicado em nós. [Nature e New York Times]