Micróbios nos lagos perdidos do Deserto do Atacama podem espelhar a vida primitiva em Marte

Por , em 20.12.2023

No deserto Puna de Atacama, localizado na Argentina, uma combinação fascinante de lagoas cristalinas e vastas planícies salinas cria um ambiente natural que desafia o comum, descrito por cientistas como algo sem precedentes, “algo que nenhum cientista jamais viu.” Essas lagoas recém-descobertas abrigam formações rochosas repletas de microrganismos, evocando as primeiras formas de vida conhecidas na Terra. A descoberta ocorreu de forma inesperada quando pesquisadores identificaram formações incomuns de poças em imagens de satélite do deserto no noroeste argentino.

Situada a mais de 3.660 metros acima do nível do mar, na fronteira entre Argentina e Chile, a Puna de Atacama é uma vasta região elevada. Esse ambiente é marcado por uma aridez extrema, luz solar intensa e grande altitude, tornando-o um local inóspito para a maioria das plantas e animais.

Brian Hynek, professor associado de ciências geológicas na Universidade do Colorado em Boulder, juntamente com Maria Farías, microbióloga e co-fundadora da consultoria ambiental PunaBio, percorreram quilômetros através desta paisagem árida até alcançarem as lagoas. Hynek comentou, “É algo inédito, nunca vi nada parecido, e, realmente, como nada que qualquer cientista já tenha visto.”

Este ecossistema extraordinário, que se estende por cerca de 10 hectares, é composto por doze piscinas de água cristalina e rasas, cercadas por montanhas. Sob estas águas, foram observados pequenos montes cobertos por camadas de microorganismos verdes.

Hynek expressou seu espanto ao descobrir tais fenômenos naturais inexplorados na Terra, considerando-o o momento mais significativo de sua carreira. Esses montes vivos, com cerca de 4,6 metros de largura e vários metros de altura, oferecem uma visão sobre as primeiras etapas da vida na Terra e, possivelmente, até mesmo sobre a vida em Marte antigo. Acredita-se que as formações sejam estromatólitos, estruturas formadas pela atividade de micróbios semelhantes às encontradas na era Arqueana (de 4 bilhões a 2,5 bilhões de anos atrás), um período em que a atmosfera terrestre não possuía oxigênio.

Os estromatólitos modernos, menores que seus ancestrais, são encontrados em diferentes ambientes aquáticos. Os estromatólitos de Atacama, semelhantes em tamanho aos da era Arqueana, são principalmente compostos de gesso, um mineral comum em estromatólitos antigos, mas raro nos contemporâneos.

Hynek acredita que esses montes estão crescendo devido à atividade microbiana, de maneira semelhante aos estromatólitos mais antigos. Essas formações, imersas na água salina e ácida das lagoas e expostas à radiação solar intensa, abrigam dois tipos de micróbios: bactérias fotossintéticas conhecidas como cianobactérias na superfície externa, e comunidades de organismos unicelulares chamados arqueias no núcleo.

Hynek destacou a importância dessas descobertas para a compreensão da vida potencial em Marte, sugerindo que estruturas semelhantes nas rochas marcianas poderiam indicar vida passada. No entanto, com a área arrendada para a mineração de lítio, esse ecossistema único enfrenta uma ameaça iminente. Hynek enfatizou a urgência de proteger e documentar esses locais antes que sejam alterados ou destruídos irreversivelmente. [Space]

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