Nosso cérebro é binário como os computadores?

Por , em 29.12.2013

Tal como os computadores, os nossos cérebros funcionam em indutância. Quando um interruptor é aberto ou fechado, um sinal é transmitido. Os cérebros seguem regras, como computadores. Entretanto, se o cérebro é como um computador, por que os cérebros cometem erros que os computadores não fazem?

O psicólogo Gary Lupyan, da Universidade de Wisconsin-Madison, afirma que nossos cérebros tropeçam, mesmo nos mais simples cálculos baseados em regras, porque os seres humanos se atêm a informações contextuais, mesmo quando as regras são tão claras quanto separar números pares de ímpares.

Quase todos os adultos entendem que é o último dígito – e apenas o último dígito – que determina se um número é par. Em um novo estudo, este conhecimento não os impediu de confundir um número como 798 por ímpar.

Uma minoria significativa de pessoas, independentemente da sua educação formal, acreditam que 400 é um número par melhor do que 798, de acordo com Lupyan, e também confundem sistematicamente números como 798 por ímpares.

“A maioria de nós gostaria de atribuir um erro como este à falta de cuidado ou a não prestar atenção”, explica Lupyan. “Porém, alguns erros podem aparecer com mais frequência porque os nossos cérebros não são tão bem equipados para resolver problemas puramente baseados em regras”.

Em experimentos, participantes tiveram que ordenar números, formas e pessoas em categorias simples, como pares, triângulos e avós. Eles muitas vezes quebraram regras simples em favor do contexto.

Por exemplo, quando pedidos para considerar um concurso aberto apenas para avós e em que cada participante elegível teria a mesma chance de vitória, as pessoas tendem a pensar que uma mulher de 68 anos com seis netos tinha mais chances de ganhar do que uma de 39 anos com um neto recém-nascido.

“Mesmo que as pessoas possam articular as regras, elas não podem deixar de ser influenciadas por detalhes de percepção”, destaca Lupyan. “Pensar em triângulos tende a envolver o pensamento de típicos triângulos equiláteros. É difícil focar apenas nas regras que fazem a forma de um triângulo, independentemente do que ele parece exatamente”.

Em muitos casos, fugir das regras não é um grande problema. Na verdade, isto pode ser uma vantagem na avaliação do desconhecido. “Isso nos serve muito bem”, garante Lupyan. “Se algo parece e anda como um pato, as chances são de que aquilo seja um pato”.

Contudo, esta linha de raciocínio não é de muita ajuda em um teste de matemática, por exemplo, onde as regras são absolutamente necessárias para o sucesso. Felizmente, os seres humanos aprenderam a superar sua dependência de similaridade.

“Afinal de contas, apesar de algumas pessoas pensarem equivocadamente que 798 é um número ímpar, não só as pessoas podem seguir tais regras – embora nem sempre perfeitamente -, como são capazes de construir computadores que podem executar essas regras perfeitamente”, diz Lupyan. “Isso em si requer uma cognição matemática muito precisa. Uma grande questão é de onde essa habilidade vem e por que algumas pessoas são melhores em regras formais do que outras pessoas”.

Essa pergunta pode ser importante para os educadores, que passam grande parte do tempo ensinando sistemas baseados em regras de matemática e ciências.

“Os alunos se aproximam da aprendizagem com preconceitos formados tanto pela evolução quanto pela experiência do dia-a-dia”, conta Lupyan. “Ao invés de tratar os erros como refletores da falta de conhecimento ou como falta de atenção, tentar entender sua fonte pode levar a novas formas de sistemas baseados em regras de ensino ao fazer uso da flexibilidade e da resolução criativa de problemas nas quais os seres humanos se destacam”, finaliza. [Science 20]

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