ONU: incêndios na Amazônia mostram mundo caminhando para um ponto sem volta

Por , em 2.09.2019

Segundo Cristiana Paşca Palmer, secretária-executiva da Convenção sobre Diversidade Biológica da ONU, os incêndios na Amazônia são “extremamente preocupantes” para os sistemas de suporte à vida na Terra.

A destruição da maior floresta tropical do mundo serve, desta maneira, como um lembrete de que precisamos estabilizar o clima e impedir o desmantelamento de outros ecossistemas, pois as consequências humanas são terríveis.

“Os incêndios na Amazônia mostram que enfrentamos uma crise muito séria”, disse Palmer ao The Guardian. “Mas não é apenas a Amazônia. Também estamos preocupados com o que está acontecendo em outras florestas e ecossistemas e com a degradação mais ampla e rápida da natureza. O risco é que estamos caminhando para pontos de inflexão a partir dos quais os cientistas falam que podemos produzir colapsos de sistemas naturais em cascata”.

Ponto sem volta

Os últimos meses viram diversos estudos e alertas sobre a forma como estamos tratando a natureza.

Por exemplo, os principais cientistas do mundo disseram que um milhão de espécies estão em risco de extinção por conta de ações humanas como o desmatamento, mau uso da terra, poluição e mudanças climáticas.

Na última reunião do G7 (o grupo dos países mais industrializados do mundo, sendo Alemanha, Canadá, Estados Unidos, França, Itália, Japão e Reino Unido), em Biarritz, na França, uma ajuda de US$ 20 milhões foi posta na agenda para ajudar a extinguir o fogo amazônico.

Palmer crê que o fundo do G7 é valioso, mas dinheiro não é suficiente. “Precisamos abordar as causas principais. Mesmo que a quantia envolvida na extinção de incêndios em florestas tropicais seja de um bilhão, não veremos uma melhoria a menos que mudanças estruturais mais profundas estejam ocorrendo. Precisamos de uma transformação na maneira como consumimos e produzimos. Não se trata apenas de conservação da biodiversidade, mas de finanças e de comércio e de uma mudança do modelo de desenvolvimento. Precisamos colocar a biodiversidade e o capital natural no centro do paradigma econômico”, resumiu.

Mudanças profundas

De fato, já houveram diversas reuniões sobre o clima ao longo dos anos, com poucas ações sendo realmente tomadas pelos governos em seguida. Esperamos que as próximas sejam diferentes.

Além da reunião do G7, líderes mundiais devem se encontrar este mês em Nova York (EUA) para uma cúpula de ação climática, e deve haver mais uma cúpula sobre natureza antes de uma conferência sobre diversidade da ONU em Kunming, na China, em outubro do ano que vem.

“Sou grata pelo [presidente francês Emmanuel] Macron ter dado à biodiversidade um nível de atenção que nunca vimos antes. Espero que não seja um evento isolado em um G7, mas que continue à medida que avançamos e que inspire uma corrida ao topo entre os líderes políticos. A natureza precisa estar no centro de qualquer solução proposta. Não podemos tratar isso isoladamente. Não podemos resolver as mudanças climáticas sem a biodiversidade”, complementou Palmer.

Embora alguns países tenham tomado medidas para plantar árvores em grande escala, o que definitivamente ajuda no controle da mudança climática, salvar as florestas existentes, especialmente as tropicais, é tão essencial quanto.

Palmer enfatiza a necessidade de uma abordagem integrada, como os programas de biodiversidade da Costa Rica e Colômbia. “Espero que isso tenha um efeito de bola de neve. É um movimento crescente. Sinto que agora os chefes de estado estão adotando isso, temos um bom sinal”, concluiu. [TheGuardian]

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