Pessoas bondosas tem vida financeira pior?

Por , em 16.10.2018

Um novo estudo da Universidade Columbia (EUA) e da Universidade College London (Reino Unido) descobriu que pessoas com maior afabilidade – um traço de personalidade marcado pela gentileza, generosidade e cordialidade – também tendem a se sair pior financeiramente do que pessoas menos “boazinhas”.

“Estávamos interessados em entender se ter uma personalidade agradável e bondosa, o que os acadêmicos em pesquisa sobre personalidade descrevem como afabilidade, estava relacionado a resultados financeiros negativos”, explicou uma das autoras do estudo, Sandra Matz, em um comunicado.

Pesquisas anteriores sugeriram que a afabilidade estava associada a uma menor pontuação de crédito e renda. “Queríamos ver se essa associação se aplicava a outros indicadores financeiros e, em caso afirmativo, entender melhor por que os bonzinhos parecem se dar mal”, disse.

Personalidade e suas consequências

Nos últimos anos, estudos em psicologia têm se interessado muito pelos “cinco grandes” – os cinco principais traços de personalidade humana, conhecidos como afabilidade ou amabilidade, neuroticismo, abertura a experiências, conscienciosidade e extroversão – e os tipos de resultados práticos que podem prever.

Por exemplo, pessoas com mais neuroticismo (tendência a experimentar emoções negativas, como raiva, ansiedade ou depressão) parecem menos felizes. Pessoas mais conscientes são geralmente mais saudáveis e economizam mais dinheiro.

No novo estudo, a equipe analisou dados de várias fontes diferentes, incluindo pesquisas e questionários nacionais, dados do governo, dados de contas bancárias e questionários online em busca de correlações entre os cinco principais traços de personalidade e saúde financeira ao longo dos anos.

A afabilidade foi a única característica significativamente correlacionada com as finanças em todas as fontes de dados.

Bonzinho e mais apertado

Um dos experimentos analisados pelo estudo seguiu pessoas a partir da infância por 25 anos. Os pesquisadores descobriram que as pessoas mais bondosas no início da vida eram mais propensas a ter problemas financeiros mais tarde.

Isso sugere que, se houver uma relação de causa, mais afabilidade é que deve causar problemas financeiros e não o contrário.

Entre os adultos, a afabilidade também foi ligada a uma série de resultados financeiros menos desejáveis. Por exemplo, um estudo descobriu que pessoas particularmente boazinhas tinham um risco 50% maior de declarar falência.

Por quê?

Não é que as pessoas legais sejam menos espertas ou menos capazes de ganhar dinheiro; elas simplesmente parecem se importar menos com isso.

Como resultado, pessoas muito bondosas podem não lidar bem com dinheiro.

“Descobrimos que a afabilidade estava associada a indicadores de dificuldades financeiras, incluindo menor poupança, maior endividamento e maiores taxas de inadimplência”, disse outro autor do estudo, Joe Gladstone. “Esse relacionamento parece ser impulsionado pelo fato de que pessoas bondosas simplesmente se importam menos com dinheiro e, portanto, correm maior risco de má administração financeira”.

Fique tranquilo – ser bonzinho não prevê pior condição financeira sempre. Mas de fato pode dificultar as coisas, particularmente para pessoas com salários mais baixos. “Nem toda pessoa legal está em risco igual de sofrer dificuldades financeiras. A relação é muito mais forte para indivíduos de baixa renda, que não têm meios financeiros para compensar o impacto negativo de sua personalidade agradável”, esclareceu Gladstone.

Na prática

Resultados de estudos como esse podem parecer “preconceituosos” à primeira vista, mas podem realmente fazer algum bem na vida real.

Por exemplo, podem mostrar como ajudar pessoas com este traço a economizar dinheiro. Para pessoas de maior afabilidade, versus neuroticismo ou conscienciosidade, estratégias diferentes podem ter mais sucesso.

Esse tipo de pensamento é uma das razões pelas quais os psicólogos e os economistas comportamentais gostam de estudar as conexões entre personalidade e resultados em diferentes esferas da vida.

“Nossos resultados nos ajudam a entender um fator potencial subjacente às dificuldades financeiras, o que pode ter sérias implicações para o bem-estar das pessoas”, concluiu Matz. “Ser gentil e confiante tem custos financeiros, especialmente para aqueles que não têm meios para compensar sua personalidade”.

Um artigo sobre o estudo foi publicado no Journal of Personality and Social Psychology. [Forbes]

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