Primeiro serviço de aborto por telefone do mundo é um sucesso
A Austrália tornou-se o primeiro país a oferecer serviço de aborto por telefone, garantindo às mulheres um acesso legal a pílulas abortivas sem precisar consultar um médico em pessoa.
Agora, um novo estudo descobriu que essa opção é segura, eficaz e conveniente.
Como funciona
O serviço é privado e provido pela Tabbot Foundation. Em 18 meses, mais de 1.800 mulheres tiveram acesso a abortos sem a necessidade de uma consulta médica. Isso lhes permitiu evitar um potencial estigma e julgamento de alguns profissionais de saúde e outros manifestantes antiaborto em hospitais, clínicas e farmácias.
As mulheres ligam para um número e são encaminhadas para exames de ultrassonografia e de sangue. Em seguida, são avaliadas por telefone por um ginecologista ou médico clínico com experiência em planejamento familiar e, se necessário sob a lei estadual, um psicólogo clínico.
Por um custo de US$ 250, as pacientes recebem em casa dois remédios para aborto, o mifepristone e o misoprostol, assim como antibióticos, analgésicos e medicamentos antináusea.
Um exame de sangue dez dias depois confirma se o término da gravidez foi bem-sucedido. Uma enfermeira e um médico de plantão 24 horas estão disponíveis para orientar a paciente durante o processo.
O estudo
Uma revisão independente conduzida pela professora Suzanne Belton, da Universidade de Melbourne, realizada junto às primeiras 1.000 mulheres que utilizaram o serviço mostrou que mais de 95% fizeram um aborto em casa sem complicações.
Das 717 mulheres que tomaram as drogas fornecidas pela fundação, o estudo concluiu que 82% tiveram um aborto normal confirmado, enquanto 15% das mulheres não puderam ser contatadas. Duas mulheres (0,3%) ainda tinham gestações viáveis após tomar os medicamentos.
2% das gravidezes terminaram, mas uma pequena quantidade de tecido permaneceu no útero, e 0,6% das gravidezes eram inviáveis, mas não foram expulsas do corpo.
Essas mulheres podiam optar por tomar outra dose de misoprostol, passar por um procedimento de dilatação e curetagem ou esperar para que o tecido fosse expelido pelo corpo sem intervenções adicionais.
Aborto na Austrália
De forma geral, a análise mostrou que os abortos “por telefone” são muito seguros e eficazes para as mulheres australianas.
“Não se trata de cuidados médicos complexos. Poucas mulheres precisaram de apoio extra em um hospital para assistência com sangramento ou alívio adicional da dor”, disse Belton.
Na maioria dos casos, a dor física e desconforto do aborto é semelhante a uma cólica menstrual.
Em 2015, apenas 14% de todos os abortos na Austrália foram médicos – o restante foi cirúrgico. Esse número é muito pequeno perto da Noruega e da Finlândia (onde mais de 90% dos abortos são médicos), da Escócia e da Suécia (mais de 80%) e da Inglaterra (cerca de 66%).
“Precisamos aumentar nossa interrupção médica precoce. Os médicos de clínica geral são muito capazes de oferecer abortos médicos e cuidar de seus pacientes durante o processo”, concluiu a professora.
Vantagens do aborto por telefone
“Essencialmente, o atual sistema é discriminatório contra as mulheres e não faz sentido economicamente”, explicou Belton, apontando os custos envolvidos com a interrupção cirúrgica, incluindo honorários de cirurgiões e anestesistas e uso de leitos hospitalares.
Além disso, pouco mais de 40% das pacientes da Tabbot Foundation eram de grandes cidades, o que sugere que, mesmo quando abortos médicos são relativamente acessíveis, algumas mulheres ainda preferiam a opção telefônica.
“Não sabemos por que isso acontece. Elas não querem enfrentar julgamentos? Estão preocupadas com o que o seu médico vai achar? Ou um serviço como esse é apenas mais conveniente?”, questiona Belton.
De qualquer forma, este simples uso da tecnologia pode permitir que as mulheres tenham um melhor contato do que na maioria dos serviços presenciais.
Enquanto isso no Brasil (e no resto do mundo)…
Ao contrário da Austrália, no Brasil o aborto não é uma escolha livre. Só é permitido quando há risco de morte para a gestante, quando a gravidez resulta de estupro ou quando o feto é anencéfalo.
Para complicar a situação, existem projetos de lei querendo proibir o aborto em todos os casos.
Segundo dados da ONU, em dois terços de 195 países analisados, a interrupção da gravidez só é permitida quando a saúde física ou psíquica da mulher está ameaçada. Além disso, na metade deles, também é permitida quando é resultado de estupro, incesto ou alguma malformação confirmada põe em risco a vida do feto.
Existem muitos argumentos envolvidos na proibição ou legalização do aborto, mas o problema maior é claríssimo: mulheres abortam com ou sem permissão todos os dias no mundo todo, enfrentando consequências terríveis em muitos casos. E esse é um forte argumento a favor do procedimento, sem dúvida. [TheSydneyMorningHerald, TabbotFoundation, UOL]