Roda com amortecimento promete viagem sem solavancos para ciclistas e cadeirantes
Recentemente, a gente fezuma coletânea de9 frases falsas de Albert Einstein. Grandes mentes, como a do criador da Teoria da Relatividade, costumam ser relacionadas com frases que nunca nem pensaram em formular. Mas essa que eu vou mencionar agora, garanto, é verdadeira e, inclusive, é uma das mais famosas deste mesmo cientista. Certa vez, quando questionado a respeito de crises, ele falou algo mais ou menos assim: “A crise é a melhor benção que pode ocorrer com as pessoas e países, porque traz progressos.”
Se você parar para pensar, os maiores e melhores exemplos de inovação que conhecemos partiram de um problema. Ou, pelo menos, do que representava um problema para alguém. E, a partir daí, a inquietação por conviver com algo que poderia ser melhor faz com que o cérebro trabalhe, consciente e inconscientemente, em busca de uma solução.
A roda, por exemplo, quando foi inventada, veio para resolver uma questão essencial para a humanidade (tanto naquela época, como agora), que era “como transportar pessoas e objetos de um jeito mais fácil e mas rápido?”. Esse mecanismo obviamente passou por incontáveis “atualizações” desde que foi concebido, apesar de sua função essencialmente parecer a mesma.
Mas, se para mim, para você e para outras milhares de pessoas, não há nada de errada, ou pelo menos nada a ser melhorado na roda, o mesmo não vale para o agricultor israelense Gilad Lobo. Ele quebrou a pélvis em 2008 e decidiu que sua cadeira de rodas não iria o impedir de continuar trabalhando na colheita. Por isso, resolveu transformá-la em uma espécie de burro de carga.
Até aí, tudo bem. O problema aconteceu quando ele resolveu colocar essa ideia em prática. Atravessar o terreno irregular com a cadeira de rodas estava causando muitas dores, porque a cadeira não tem nenhum mecanismo de absorção de impacto – que estava indo todo para o corpo dele. Então o que ele fez? Trabalhou para desenvolver uma cadeira de rodas com um design mais adequado às suas atividades. Algo mais off-road.
Ele experimentou soluções baseadas em equipamentos agrícolas e, em seguida, levou suas ideias absolutamente geniais para Tel Aviv, onde conseguiu ajuda para transformar seus rascunhos em um projeto patenteado que recebeu o nome de “SoftWheel” (algo como “roda macia”, em tradução livre).
Em projetos de tradicionais cadeiras de rodas, até 30% da energia gasta é perdida porque falta a suspensão, deixando apenas 70-80% da energia colocada na cadeira para a propulsão. Isso cria passeios desconfortáveis e deixa seus usuários cansados e com inconvenientes dores nas costas – o que não acontece quando se usa a SoftWheel.
A roda com amortecimento aborda este problema com a sua “tecnologia simétrica e seletiva”, que usa três cilindros de compressão para absorver choques dentro da roda antes de serem transferidos para o cadeirante. O objetivo é fazer com que o centro da roda essencialmente flutue no ar enquanto a cadeira é levantada. Isso significa que os pilotos podem percorrer escadas e calçadas quase tão facilmente quanto deslizar por uma rampa, pois o mecanismo da SoftWheel permite que as rodas suportem o peso das forças. “Uma vez que você elimina a instabilidade, pode fazer milagres”, disse Daniel Barel, CEO da empresa fabricante da SoftWheel.
Outras aplicações
Apesar de ser uma nova tecnologia, a SoftWheel também é compatível com versões anteriores de cadeiras de rodas e tem aplicações em outras categorias de produtos, como bicicletas. “Nós compramos bicicletas novas e em 10 minutos colocamos SoftWheels nelas”, afirmou Barel. Este aspecto modular do projeto também faz com que a troca de rodas seja relativamente simples, um fato que tem atraído o interesse de setores industriais e aeronáuticos.
E não para por aí. A Daimler, montadora automobilística alemã, convidou Barel para falar em uma de suas reuniões de inovação, já que a SoftWheel tem despertado um grande interesse em virtude das possibilidades que abre para melhorar produtos que vão de carros a guindastes.
Barel acredita que seu produto poderia ser aplicado também em trens, aviões e basicamente em qualquer coisa que tenha uma roda.
Uma questão de tempo
Como toda grande inovação, essa também levará um tempo até ser completamente disseminada e incorporada em nossas vidas. Calcula-se que aplicações mais avançadas podem levar uma década ou mais para serem desenvolvidas, mas a equipe SoftWheel promete que no quesito cadeiras de roda e bicicletas, o tempo para implementação será bem mais ágil e acontecerá antes do que a gente imagina.
Embora as inovações da SoftWheel sejam totalmente mecânicas, seus usuários serão capazes de ajustar a firmeza do passeio, como já é o caso em alguns carros esportivos, bem como travar a roda ou a velocidade, através de um smartphone.
Não é uma reinvenção
Apesar de representar uma grande inovação, a SoftWheel não conta com avanços fundamentais em ciência material ou física. As peças são comuns, apenas organizadas de uma forma diferente. É inteligente, prático e soluciona problemas de longa data, mas não é a reinvenção da roda.
A SoftWheel já tem uma configuração de linha de produção completa em Israel e outra na Europa. Os planos são começar a vender suas rodas para cadeiras de rodas já no 4º trimestre de 2014, com preços que devem girar em torno de US$ 2.000 o par (aproximadamente R$ 4.430,00). [Wired]