Simplesmente diga não para aquele convite

Por , em 20.12.2023

Decidir entre ir a uma festa que não se deseja ou ficar em casa e desapontar um amigo é uma escolha complicada. Essa decisão depende muito do contexto, mas estudos recentes mostram que, muitas vezes, as pessoas superestimam as consequências negativas de recusar um convite.

Julian Givi, psicólogo da Universidade da Virgínia Ocidental, líder de uma pesquisa sobre o assunto, relata uma experiência pessoal: “Uma vez, recebi um convite para um evento que definitivamente não queria ir, mas acabei aceitando por medo de desapontar quem me convidou. Essa situação parece ser comum,” ele comenta.

Givi destaca que as descobertas da pesquisa indicam que as consequências de rejeitar um convite são geralmente menos graves do que as pessoas imaginam.

Numa pesquisa preliminar, a grande maioria dos participantes confessou ter aceitado convites que prefeririam recusar, apenas para não ofender quem os convidou.

Para entender melhor esse comportamento, Givi e sua colega, Colleen Kirk da New York Institute of Technology, realizaram cinco experimentos com mais de 2.000 participantes.

Em um dos experimentos, eles criaram um cenário hipotético onde um amigo convida outro para jantar num restaurante com um chef famoso. Os participantes assumiram os papéis de convidado e convidante. Aqueles no papel de convidados imaginaram ter planos anteriores e desejarem uma noite tranquila em casa, recusando o convite. Já os convidantes foram informados dessa recusa.

Os resultados mostraram que aqueles que imaginaram recusar o convite esperavam consequências significativas para a relação. Eles previram que o convidante se sentiria irritado, decepcionado e relutante em fazer futuros convites, em contraste com as reais reações dos convidantes, que se mostraram menos afetados pela rejeição do que o esperado.

Os convidados também acreditavam que os convidantes focariam mais na recusa do que nas razões por trás dela, explicando por que muitas pessoas aceitam convites indesejados.

“Nossos experimentos mostraram consistentemente que os convidados superestimam as consequências negativas aos olhos dos convidantes após a recusa de um convite,” afirma Givi. Ele observa que as pessoas tendem a acreditar que o convidante focará mais no ato da recusa do que nos pensamentos que antecederam essa decisão.

Em outra parte do estudo, Givi e Kirk realizaram uma pesquisa com casais, envolvendo 160 pares. Esses casais tinham diferentes durações de relacionamento, variando de menos de seis meses a mais de cinco anos. Cada casal participou de um exercício onde um parceiro deveria escrever um convite para uma atividade a ser realizada em conjunto. O outro parceiro, ao retornar, foi instruído a recusar educadamente esse convite. As reações dos convidantes foram então observadas.

O padrão se repetiu em todos os casais, independentemente da duração do relacionamento. Aqueles que recusaram o convite anteciparam uma reação negativa mais forte de seus parceiros do que realmente ocorreu.

Os pesquisadores reconhecem limitações em seu estudo, como variações culturais e outros fatores psicológicos.

É importante notar que nem todos se sentem obrigados a aceitar convites indesejados, e algumas pessoas podem se sentir genuinamente chateadas pela recusa, mesmo que educada.

O estudo sugere uma tendência psicológica comum de superestimar o quanto os outros nos julgam criticamente por recusar convites.

Givi comenta: “Embora eu já tenha ficado levemente chateado quando alguém recusou um convite meu, nossa pesquisa fornece evidências substanciais de que, em geral, as pessoas superestimam os efeitos adversos em nossas relações.”

Ele aconselha que recusar convites ocasionalmente pode não ser apenas mais aceitável do que se pensa, mas também pode ajudar a prevenir o esgotamento durante períodos agitados. Givi aponta especialmente para o risco de burnout durante épocas festivas com numerosos compromissos sociais.

Seu conselho é equilibrado: “Está tudo bem em recusar convites de vez em quando. No entanto, é importante lembrar que participar de eventos sociais é essencial para o desenvolvimento de relacionamentos, então não faça disso um hábito de recusar todos os convites.” [Science Alert]

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