Um guia para refutar as besteiras ditas por ativistas antivacinação

Por , em 18.07.2013

Recentemente, um surto de sarampo ocorreu no País de Gales, causado pelas baixas taxas de vacinação contra a condição lá. Mais de 1.200 pessoas ficaram doentes, e um homem de 25 anos morreu.

Isso deixa claro que o medo da vacinação ainda é real nos mais diversos locais do mundo, em parte por conta de crenças não científicas antivacinação, como a afirmação de que ela causa autismo – um dos maiores mitos médicos da atualidade.

Sendo assim, é melhor que estejamos preparados e informados para refutar questões e reivindicações comuns desses oponentes de uma das melhores invenções do mundo, que com seu papo louco acabam prejudicando a nossa saúde de forma global. Confira:

REIVINDICAÇÃO: Historicamente, vacinas recomendadas já fizeram mal para crianças. Por que as recomendações de hoje seriam diferentes?

RESPOSTA: Sim, algumas vacinas antigas tiveram efeitos colaterais mais graves do que as atuais. Comparemos dois exemplos, da poliomielite e da coqueluche. Antes de 2000, os pediatras rotineiramente davam vacinas contra a poliomielite contendo vírus vivo atenuado. Hoje, em certas partes do mundo, as crianças podem obter uma vacina com vírus “inativado”, ou morto. Ninguém ficou doente com essa vacina mais recente. E muito raramente o vírus vivo atenuado da vacina pode voltar ao seu estado normal e causar paralisia.

Algumas pessoas ainda lidam com este risco. Vacinas atenuadas de pólio são usadas em algumas regiões onde a doença é endêmica, porque quem recebe a vacina viva é capaz de transmitir a sua imunidade para os outros ao seu redor. Também pode-se tomar a vacina viva atenuada pela boca, em gotas, em vez de injeção, por isso é uma forma mais rápida e mais fácil de levar a imunização às pessoas em locais onde há poucos médicos e enfermeiros. Diferentes países devem julgar os riscos e benefícios da vacina oral contra a poliomielite, mas já adiantamos aqui que as vantagens são maiores.

Antes da década de 1990, crianças costumavam tomar vacinas contra a coqueluche com potenciais efeitos colaterais graves, que iam de febre a desmaios. Alguns pais chegaram a processar fabricantes das vacinas, dizendo que eles causaram dano cerebral a seus filhos. Cientistas determinaram que tal coisa não pode ser provada. Médicos norte-americanos hoje usam uma nova vacina contra a coqueluche, com efeitos colaterais mais leves.

Claro, cabe a todos escolher individualmente se os riscos de um medicamento superam seus benefícios. Mas considere os números em torno de vacinas: muitas vezes, algo como 1 em cada 1.000 crianças experimenta efeitos colaterais moderados como choro prolongado. Para efeitos secundários mais graves, tais como convulsões ou bloqueio do intestino, as chances caem para 1 em dezenas de milhares. Entre as crianças que pegam sarampo, no entanto, 1 em 1.000 obtém encefalite, uma infecção cerebral aguda, e 1 ou 2 em cada 1.000 morrem. Em 2011, dentre os 18.000 americanos que tiveram coqueluche, mais de 1 em 2.000 morreram, todos bebês. Contra fatos, não há argumentos. Quem pode dizer que os riscos das vacinas são maiores que os benefícios?

REIVINDICAÇÃO: É perigoso para os bebês tomar tantas vacinas ao mesmo tempo. O sistema imunológico pode ficar sobrecarregado.

RESPOSTA: Os bebês realmente tomam bastantes vacinas de uma só vez. Sua primeira rodada geralmente inclui seis injeções, e a lista de vacinas infantis recomendadas tem crescido nas últimas décadas.

No entanto, numerosos estudos não encontraram nenhuma ligação entre a obtenção do calendário recomendado de vacinas e ter outras doenças mais tarde na infância. Não há nenhuma evidência científica crível de que as vacinas são capazes de “sobrecarregar” os sistemas imunológicos dos bebês. Embora imaturos, os sistemas dos bebês estão preparados para lidar com vacinas. Eles já lidam com numerosos vírus e bactérias ao redor deles na vida cotidiana. E é bom vaciná-los nessa época justamente porque é quando as crianças são mais vulneráveis.

REIVINDICAÇÃO: Vacinas têm ingredientes perigosos.

RESPOSTA: Uma das reivindicações mais populares dos ativistas antivacinação é de que o timerosal, um conservante à base de mercúrio uma vez presente em vacinas comuns, causa autismo. Há milhares de evidências que mostram que isso não é verdade. Mas, o que é pior, o timerosal nem aparece mais em quaisquer vacinas, exceto a contra a gripe, porque uma criança que estivesse tomando várias vacinas ao mesmo tempo receberia uma dose maior do que a recomendada de mercúrio, que é tóxico em níveis elevados.

Para saber mais sobre os ingredientes das vacinas, acesse o Portal da Saúde do ministério brasileiro, ou confira o Manual de Normas da Vacinação. SPOILER ALERT: eles não são perigosos.

REIVINDICAÇÃO: Não é como se a decisão de um pai de não vacinar seu filho prejudica outras crianças.

RESPOSTA: Geralmente crianças vacinadas não ficam doentes das doenças evitáveis inoculadas que elas foram vacinadas contra. No entanto, se uma criança não vacinada fica doente com uma doença prevenível, ainda há várias pessoas que podem ser infectadas, como bebês que ainda não foram programados para receber suas vacinas, ou a pequena percentagem de crianças para as quais a imunização não funcionou. As vacinas não são 100% eficazes. A vacina contra o sarampo, por exemplo, é mais do que 95% eficaz, o que é muito bom, mas não é perfeito.

Onde as crianças não são vacinadas, mais pessoas ficam doentes. Em 2011, os estados americanos com políticas brandas de imunização tiveram 90% mais casos de coqueluche do que os estados mais rigorosos, de acordo com o Instituto de Medicina dos EUA.

REIVINDICAÇÃO: Não há nada de errado com espaçar o tempo entre as vacinas do meu filho, se eu quiser.

RESPOSTA: Atrasar uma vacina apenas significa que há uma janela maior de tempo para uma criança não imunizada ficar doente. Seguir o calendário também diminui o número de visitas ao médico e reduz os custos da vacinação.

Além disso, porém, há pouca evidência acerca de calendários alternativos de vacinação – se eles são melhores ou piores do que o padrão. O padrão foi estudado, mas os calendários alternativos são muito novos e existem vários diferentes, por isso são difíceis de se analisar. O Instituto de Medicina está tentando descobrir se um estudo sobre calendários alternativos é viável.

REIVINDICAÇÃO: Todo medicamento tem efeitos colaterais, e eu quero proteger os meus filhos.

RESPOSTA: É sempre importante saber sobre os efeitos colaterais antes de decidir dar a seu filho uma vacina ou outro medicamento qualquer.

A maioria dos efeitos colaterais de vacinas são suaves em comparação com as doenças que previnem. Diferentes vacinas podem causar confusão temporária, inchaço, choro prolongado e outros efeitos. Alguns bebês vomitam e têm diarreia após vacinas contra rotavírus. Muito raramente, as crianças podem ficar severamente alérgicas a uma vacina. As reações alérgicas geralmente ocorrem poucas horas depois da injeção. A reação pode ser ruim o suficiente para que a criança não possa mais tomar a vacina, tendo que contar com outras crianças protegidas para lhe proteger por tabela.

1 em cada 20.000 a 1 em 100.000 bebês que recebem a vacina contra rotavírus desenvolvem bloqueio intestinal grave que precisa de internação ou cirurgia.

Esta não é uma lista exaustiva dos potenciais efeitos colaterais de vacinas diferentes, mas lhe dá uma ideia de quão seguro você pode estar, e quais são os riscos x benefícios. Para mais informações, acesse o Portal da Saúde ou procure um médico. Para conhecer o calendário de vacinação recomendado no Brasil, acesse o site da Sociedade Brasileira de Imunizações. [POPSCI]

10 comentários

  • franobre:

    Concordo que, na maioria das atitudes, cada um tem o direito de julgar o que mais lhe convém. Mas, quando tal atitude pode influir diretamente na segurança ou saúde de terceiros, aí é que DEVE entrar o Estado. É para isso que nos organizamos em sociedade democrática, ou seja, todos tem uma liberdade provisória e restrita, desde que não interfira no alheio. Assim, se o direito de não vacinar-se de um sujeito põe em risco a saúde de suas crianças (um pai, em nosso regime democrático, não tem direito de vida e morte sobre os filhos) e de outras pessoas e filhos dessas outras pessoas, o Estado DEVE obrigá-lo a vacinar-se ou manter em quarentena ou recluso. Não consigo imaginar outra coisa.

    • Cesar Grossmann:

      Não só a saúde de seus filhos, mas também do grupo. As vacinas não são 100% garantidas, mas existe o que se chama de “imunidade de rebanho”. Se uma certa porcentagem de pessoas estiver imunizada, então um vírus não tem condições de se espalhar.

      Em outras palavras, não vacinar uma criança coloca ela em perigo e todas as pessoas que fazem parte do grupo social em que ela está inserida.

  • Rashid Yasin:

    Gostaria de ressaltar, se vocês podem dar estas estatísticas, não somente de quem tomou a vacina, e sim de quem não tomou também.
    Exemplo:
    Uma região com uma epidemia, onde temos 40.000 habitantes, X pessoas que tomaram a vacina, não contraíram tal doença e x% contraíram, e X-sem vacina não tomaram e quantas contraíram e quantas não contraíram.
    Pois o que vejo sempre são estatísticas apresentadas somente com que usou de tal vacina, mas nunca apresentam dados do número que não tomou.
    Continuo fazendo apologia ao não uso das vacinas, principalmente em países, que usam nitidamente esse mecanismo para alimentar a industria farmacêutica.

    • Cesar Grossmann:

      A “indústria farmacêutica” ganha muito mais com o tratamento das doenças do que com as vacinas, então o teu raciocínio não faz sentido… Além do mais, vacinas são importantes e devem ser administradas a todos.

      http://www.sbim.org.br/noticias-sbim/destaques/recusa-de-vacinas-causas-e-consequencias/

    • franobre:

      É tão evidente o fato de que a indústria farmacêutica ganha mais com o tratamento das doenças do que com as vacinas. Quanto a indústria farmacêutica já ganhou com o tratamento da AIDS, por exemplo, enquanto não se descobre uma vacina para a doença? E também é lógica a sua tranquilidade em ser contra a vacinação, já que se encontra protegido da maioria das doenças por conta da vacina aplicada nos outros. Mas, mude-se para um país onde não exista vacinação para nenhum tipo de doença (onde sarampo, coqueluche, poliomielite ainda são algo costumeiros) e leve seus filhos recém-nascidos (não vacinados, logicamente) para lá. Você estaria tranquilo quanto a essa decisão temerária? Finalizando, somente o fato de o Brasil ter erradicado a poliomielite já é suficiente para validar a vacinação em qualquer julgamento minimamente racional e não tão conspiratório como esse de achar que todos (indústria, governo, entidades místicas, etc.) estão ganhando ou se aproveitando de nossa triste ignorância.

    • Cesar Grossmann:

      Não só a poliomielite. Um apelido que ninguém mais tem é “bexiguento”, e por uma razão muito simples, não temos mais a varíola entre nós.

      “Bexiguento” é um apelido que só se encontra na literatura, e tem que ser antiga, e isto graças à ciência da imunologia, e aos programas governamentais de erradicação da varíola.

  • Thallys:

    Foi comprovado que a cia fez uma falsa campanha de vaninaçao em um pais do oriente medio q eu esqueci o nome. acho que era pra ter acesso ao territorio do pais nao li a mateira inteira. campanhas antivacinaçao nao sao tanta besteira assim. mas tem um certo exagero.

    • Cesar Grossmann:

      Thallys, a campanha podia ser pretexto, mas as vacinas não eram, e os profissionais de saúde que foram mortos também não eram fajutos.

      As campanhas anti-vacinação NÃO TEM JUSTIFICATIVA. Não vacinar uma criança deveria ser tratado como abuso infantil.

  • Islan Victor:

    Considerando que os efeitos colaterais são muito abaixo de 1% parece claro que as vacinas valem a pena. Há mais falta de instrução do que de males causados pela vacina.

  • Paulo Vinicius Ferreira:

    “Claro, cabe a todos escolher individualmente se os riscos de um medicamento superam seus benefícios”

    tipo o óleo de lorenzo 😀

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