Um tipo totalmente novo de vasos sanguíneos é descoberto se escondendo em nossos ossos

Por , em 23.01.2019

Mesmo com todos os avanços da ciência, há muitas coisas que ainda não sabemos sobre o nosso próprio corpo. Nossos ossos, por exemplo, escondem segredos que só agora estão sendo descobertos. Muitas vezes pensamos nos ossos como estruturas sólidas, especialmente sua dura camada externa, chamada de osso cortical. Uma nova pesquisa, porém, descobriu passagens ocultas, na forma de finos vasos sanguíneos, nunca antes vistas que atravessam esses órgãos rígidos – tanto em animais como em humanos. Este novo conhecimento sobre o corpo pode levar a uma reflexão sobre a estrutura e a função da anatomia esquelética básica presentes em todos os animais vertebrados.

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Descoberta por pesquisadores da Alemanha, essa rede de vasos sanguíneos nunca detectada antes age como um sistema secreto de tunelamento no interior do osso, ajudando as células do sangue e do sistema imunológico a se espalharem rápida e eficientemente pelo corpo.

“É realmente inesperado poder encontrar uma estrutura anatômica nova e central que não tenha sido descrita em nenhum livro didático no século 21”, surpreende-se o imunologista molecular Matthias Gunzer, da Universidade de Duisburg-Essen, em matéria publicada no site da instituição.

Sangue nos ossos

Ossos são órgãos muito duros. Ainda assim, eles possuem uma malha apertada de vasos sanguíneos em sua cavidade interna, onde a medula óssea está localizada, assim como na superfície óssea, que é coberta pelo periósteo altamente vascularizado. É por isso que fraturas ósseas podem sangrar extensivamente. O mesmo sistema de vasos sanguíneos também é essencial para transportar as células do sangue e do sistema imunológico de seu local de origem, a medula óssea, para o exterior.

“Como qualquer outro órgão, os ossos também precisam de um circuito circulatório fechado (CCL) para funcionar adequadamente. Isso fornece sangue fresco através de artérias no osso e transporta o sangue usado para fora através das veias. Como exatamente o CCL dos ossos longos funcionava não estava totalmente claro até agora ”, diz Anika Grüneboom, do Hospital Universitário de Erlangen, autora principal do estudo.

Segundo os pesquisadores, esses minúsculos canais, chamados de “vasos trans-corticais” (TCVs), ajudam a explicar como as infusões de drogas de emergência, pioneiras nos campos de batalha, conseguiam reanimar rapidamente os soldados feridos. Em tais emergências, os médicos nem sempre têm tempo ou habilidade para encontrar ou acessar veias, recorrendo a drogas injetáveis ​​diretamente na medula óssea.

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Apesar dessas evidências de que existia um complexo suprimento sanguíneo nos ossos, os mecanismos moleculares e anatômicos desta rede permaneciam inexplicáveis. Agora, a base desse mecanismo é exposta – e por acidente. Anos atrás, Gunzer estudava células sanguíneas fluorescentes em camundongos e as observou sob o microscópio, parecendo passar pelo que deveria ser um osso sólido. Incapaz de descobrir qualquer coisa na literatura médica que pudesse explicar o fenômeno, ele inventou um novo projeto de pesquisa para explorar o que estava acontecendo.

Coisas a descobrir

No novo estudo, a equipe de Gunzer usou uma substância química chamada cinamato de etila na tíbia de ratos para “limpar” os ossos, tornando-os transparentes. Então, usando uma combinação de microscopia de fluorescência de folha de luz (LSFM) e microscopia de raios-X, eles foram capazes de detectar pela primeira vez várias centenas desses minúsculos TCVs passando através da camada cortical dos ossos da perna. O vídeo abaixo mostra detalhes das imagens encontradas:

Segundo os pesquisadores, uma tíbia de camundongo pode conter mais de 1.000 desses pequenos capilares, e surpreendentemente, a equipe diz que mais de 80% das artérias e 59% do sangue venoso passa pelos canais – uma quantidade muito grande de sangue para algo que os cientistas nem sequer conheciam.

“Eu nunca vi esses vasos. Mas nós nunca realmente procuramos, também. Então isso é uma surpresa para mim, que certamente precisará de alguma replicação em outros laboratórios”, confessa Ralph Muller, especialista em biomecânica óssea no Instituto Federal de Tecnologia da Suíça, em Zurique, que não esteve envolvido no estudo, em matéria publicada no site STAT News.

Quando a equipe examinou a anatomia humana por meio da imagem do osso da perna de um voluntário humano (o próprio Gunzer), eles encontraram evidências do mesmo tipo de estruturas TCV, embora fossem mais espessas. Os pesquisadores reconhecem que é necessário mais trabalho para confirmar a função exata deste mecanismo.

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A equipe afirma que estas estruturas só chegaram a nosso conhecimento agora em razão dos avanços tecnológicos na geração de imagens. Eles admitem, entretanto, que até eles mesmos se surpreenderam com o resultado inesperado.

“É totalmente louco ainda há coisas para descobrir sobre a anatomia humana. Nós descobrimos vasos sanguíneos em um novo lugar que não conhecíamos antes”, diz Gunzer em matéria do portal New Scientist.

A descoberta poderia trazer todo tipo de novas pistas médicas para pesquisas sobre doenças inflamatórias, lesões nos tecidos e migração celular. “Como as principais patologias ósseas estão associadas a alterações no sistema TCV, novas possibilidades de pesquisa que caracterizam ainda mais o papel das TCVs na biologia e na doença esquelética podem ser visualizadas”, escrevem os autores em seu artigo. [Universidade Duisburg-Essen, Science Alert, STAT News, New Scientist]

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