Como agricultura quase destruiu a civilização humana

Por , em 28.08.2014

A agricultura pode até ser uma fonte incrível de mão de obra e uma das bases da civilização humana, mas nem sempre foi assim.

Há muito tempo, temos o pensamento de que a humanidade saiu de um estilo de vida nômade para a estabilidade da agricultura, e que isso provocou uma espécie de florescimento na sociedade.

Ao contrário do que a gente acreditava, porém, os pesquisadores descobriram que, após uma recuperação inicial em números de população e tamanho da comunidade, a vida de lavoura trouxe consigo um número de mortes em massa, semelhante ao número de mortos visto em algumas das grandes pragas que assolaram a Europa.

Sendo assim, a ideia que prevalece agora é que a incapacidade do homem de praticar uma agricultura sustentável foi o que levou a esse colapso.

Como a agricultura impactou a civilização humana

Há poucas coisas que mudaram a sociedade em geral, como essa mudança de um estilo de vida de caçadores-coletores nômades para a criação de comunidades agrícolas.

Esse impacto foi profundo, e a agricultura tem recebido crédito por sustentar populações das aldeias e cidades, permitindo que as pessoas voltassem sua atenção para o desenvolvimento de outras coisas, como as artes e a literatura. Até aí parece tudo mil maravilhas. Mas apenas recentemente alguns pesquisadores descobriram que a agricultura também levou a um enorme e sombrio colapso da população.

Os cientistas foram capazes de rastrear a propagação da ideia de um estilo de vida mais parado. Esse modelo de sociedade começou alcançando o Mediterrâneo a partir da Ásia cerca de 8.500 anos atrás. 500 anos depois, tinha chegado ao centro da Europa. Finalmente, chegou a Grã-Bretanha e Irlanda cerca de 6.000 anos atrás.

Originalmente, a população disparou em crescimento. A comida era, sem dúvida, mais generosa, a colheita era mais fácil e as taxas de fertilidade aumentaram consideravelmente. Em outras palavras, as pessoas tinham mais tempo umas para as outras – e você sabe bem o que acontece quando um grupo de seres humanos está bem alimentado, despreocupado e com uma certa quantidade de tempo livre.

Não parece um cenário muito impossível de se imaginar, não é? Tanto que, durante muito tempo, a ciência se contentou em simplesmente deixar por isso mesmo.

Recentemente, no entanto, finalmente soubemos o que aconteceu depois desse boom inicial.

Mas o que de fato aconteceu!?

A datação por radiocarbono tem ajudado pesquisadores a desbloquear novas informações sobre este período bastante inexplorado da história da humanidade.

Eles descobriram que, cerca de 4.000 aC, houve uma queda maciça na população da Europa. A população diminuiu entre 30 e 60% em muitas áreas, uma queda que é comparável com a que houve no continente durante a época da Peste Negra. Os indícios que levaram a essa conclusão são a quantidade de restos humanos desse período (que é consideravelmente maior), a queda significativa na evidência de atividade humana e, o mais estranho de tudo, o fato de não haver nenhuma causa definitiva para que essas coisas tenham acontecido.

Não foi qualquer tipo de mudança climática maciça que causou esse volume de mortes, e ainda assim isso aconteceu mais de uma vez, com diferentes graus de severidade.

O que os cientistas acham é que, seja lá o que causou essas mortes, hoje não consideramos mais uma ameaça. E é aí que entra o modelo social baseado na agricultura.

Eles acreditam que esta nova tecnologia de agricultura simplesmente não podia sustentar o crescimento da população. Os agricultores ainda não sabiam nada sobre a degradação do solo e acabavam não deixando os campos recuperarem seus nutrientes; ao invés disso, as culturas foram continuamente crescendo e, consequentemente, o solo foi ficando mais fraco, reduzindo o volume da produção. Havia menos comida para alimentar um número cada vez maior de pessoas, e a grande tecnologia que revolucionou a sociedade também levou a sua queda.

E há outro problema com o advento da agricultura como uma importante fonte de alimento: as plantações precisam de espaço. Isso obrigou a população da época a devastar florestas, o que significou uma queda considerável na quantidade de caça de animais que estavam disponíveis para alimentação. Quando a colheita falhou, acreditam os cientistas, os primeiros agricultores já haviam expulsado suas outras fontes de alimentos prontamente disponíveis que tinham sustentado suas comunidades em gerações anteriores. Ou seja: ficaram sem recursos.

A teoria sustenta-se em outro boom enorme da população seguido de um colapso, também está vinculado a outra ideia bastante revolucionária: a descoberta de uma fonte de alimentos lácteos. Nós só conquistamos a capacidade de digerir leite há cerca de 7.500 anos, e apenas cerca de 6.500 anos atrás os laticínios se tornaram bem estabelecidos na Europa. [knowledgenuts]

4 comentários

  • Gödel Téssera:

    Essa matéria também esclarece, algo bem interessante a extinção da megafauna na Europa e Américas e também como essa mesma mega fauna ainda existe em ambiente africano. megafauna, podem se considerados como animais de porte grande como mamutes, preguiças gigantes e etc.

  • Cesar Grossmann:

    A capacidade de digerir leite na idade adulta é a evolução em ação. Uma mutação estava presente em uma parcela da população, a situação mudou e quem teve sorte de nascer com esta mutação teve acesso a uma nova fonte de proteínas, e sobreviveu para passar adiante esta mutação.

    ISTO É EVOLUÇÃO.

    • Deivid Vale:

      Eu acho que o problema maior das pessoas é que elas não entendem o que realmente é evolução. Nossa noção de tempo é limitada, seres como nós que vivem pouco mais de um século. Então, as pessoas não veêm as mudanças acontecerem, já que elas são lentas (e muito lentas por sinal). Tanto, que só conseguimos “ver” as evidências da evolução em comunidades de micro-organismos, já foram feitos vários experimentos nesse sentido.
      Deviam ensinar melhor na escola também.

  • Felipe Silvino:

    Com base na análise desse teoria podemos traças um paralelo e contrastar com o modelo atual de obtenção de alimentos, podendo assim notar uma certa relação com o sistema atual. Atualmente o homem desenvolveu técnologias para preparar e captar esses alimentos, seus modos de produção visam a utilização de maquinas e industrias próprias, isso gera de certa forma um impacto na natureza, assim afetando diretamente e indiretamente na vida das pessoas, principalmente na saúde, ou seja mata pessoas.

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