Pela primeira vez astrônomos observam estrelas nascendo neste ambiente extremamente inóspito

Por , em 31.03.2017

Observações feitas com o Very Large Telescope (VLT) do Observatório Europeu do Sul (ESO) revelaram estrelas se formando dentro de poderosos “vazamentos” de material de buracos negros supermassivos nos núcleos de galáxias. Estas são as primeiras observações confirmadas de estrelas que se formam neste tipo de ambiente extremo. A descoberta tem muitas conseqüências para a compreensão das propriedades e evolução da galáxia.

Veja um buraco negro devorar uma estrela

Um grupo britânico de astrônomos usou os instrumentos MUSE e X-shooter no VLT do Observatório Paranal do ESO, no Chile, para estudar uma colisão em curso entre duas galáxias, conhecidas coletivamente como IRAS F23128-5919, que ficam a cerca de 600 milhões de anos-luz da Terra. O grupo observou os ventos colossais de material – ou fluxos de saída – que se originam perto do buraco negro supermassivo no coração da galáxia sul do par, e encontraram a primeira evidência clara de que as estrelas estão nascendo dentro deles.

Esses ventos são impulsionados pela enorme produção de energia dos centros ativos e turbulentos das galáxias. Os buracos negros supermassivos se escondem nos núcleos da maioria das galáxias e, quando devoram matéria, também aquecem o gás circundante e expelem-no da galáxia hospedeira em ventos fortes e densos.

“Os astrônomos têm acreditado durante algum tempo que as condições dentro destas saídas poderiam ser adequadas para a formação de estrelas, mas ninguém viu isso realmente acontecer, uma vez que é uma observação muito difícil”, comenta o líder da equipe, Roberto Maiolino, da Universidade de Cambridge, na Inglaterra. “Nossos resultados são excitantes porque mostram inequivocamente que as estrelas estão sendo criadas dentro destas saídas de material”, celebra.

Mais quentes e brilhantes

O grupo se propôs a estudar diretamente as estrelas neste vazamento de material, bem como o gás que as rodeia. Usando dois dos principais instrumentos espectroscópicos do VLT, eles puderam realizar um estudo muito detalhado das propriedades da luz emitida para determinar sua fonte.

A radiação de estrelas jovens é conhecida por fazer nuvens de gás nas proximidades brilharem de uma forma particular. A extrema sensibilidade do X-shooter permitiu à equipe descartar outras possíveis causas dessa iluminação, incluindo choques de gás ou o núcleo ativo da galáxia.

Esta estrela está orbitando um buraco negro a uma distância perigosamente pequena

O grupo então fez uma detecção direta inconfundível de uma população infantil estelar. Acredita-se que estas estrelas tenham menos de algumas dezenas de milhões de anos de idade, e a análise preliminar sugere que elas são mais quentes e mais brilhantes do que as estrelas formadas em ambientes menos extremos, como o disco galáctico.

Como evidência adicional, os astrônomos também determinaram o movimento e a velocidade dessas estrelas. A luz da maioria das estrelas da região indica que elas estão viajando a velocidades muito grandes para longe do centro da galáxia – como faz sentido para objetos capturados em um fluxo de material em movimento rápido.

“As estrelas que se formam no vento perto do centro da galáxia podem diminuir a velocidade e até começar a voltar para dentro, mas as estrelas que se formam no fluxo experimentam menos desaceleração e podem até voar para fora da galáxia completamente”, explica a co-autora Helen Russell, do Instituto de Astronomia de Cambridge, no Reino Unido.

Essas estrelas são tão estranhas que fazem buracos negros parecerem chatos

A descoberta fornece informações novas e excitantes que poderiam melhorar nossa compreensão da astrofísica, incluindo como determinadas galáxias obtêm suas formas, como o espaço intergaláctico se enriquece com elementos pesados, e até mesmo de onde a inexplicável radiação infravermelha cósmica de fundo pode vir.

Maiolino está animado para o futuro: “Se a formação de estrelas está realmente ocorrendo na maioria das saídas galácticas, como algumas teorias preveem, então isso proporcionaria um cenário completamente novo para nossa compreensão da evolução das galáxias”. [Phys.org]

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