Primeiras células-tronco clonadas a partir da pele de um homem

Por , em 23.04.2014

Dezoito anos atrás, uma equipe de cientistas da Escócia tirou o DNA da célula de uma ovelha adulta e o colocou no óvulo de outra ovelha, que antes também tivera seu núcleo original removido. O ovo resultante foi implantado no útero de uma terceira ovelha, e o resultado foi a ovelha mais famosa do mundo: Dolly, o primeiro clone de um mamífero.

O nascimento de Dolly desencadeou uma enorme onda de debates sobre a ética do procedimento – juntamente com a esperança de que essas mesmas técnicas, quando aplicadas a células humanas, pudessem ser usadas para tratar incontáveis doenças. Mas o que veio a seguir deste nascimento épico foram anos e mais anos de frustração. A ciência tem visto dia após dias que é extramente complicado fazer esse tipo de transferência em um óvulo humano.

No ano passado, uma equipe de cientistas de Oregon, nos Estados Unidos, chegou a declarar que finalmente tinham conquistado esse feito, usando DNA retirado de crianças. Porém, segundo Robert Lanza, diretor científico da Advanced Cell Technology – uma companhia norte-americana de biotecnologia especializada no desenvolvimento de terapias celulares -, apesar de ser um passo importante, ainda não é ideal para os fins médicos, que é o grande objetivo de toda essa pesquisa.

“Há muitas doenças, como diabetes, Alzheimer ou a doença de Parkinson, que normalmente aumentam com a idade”, diz Lanza. Sendo assim, os cientistas gostariam de ser capazes de extrair o DNA das células das pessoas idosas, e não apenas das células de bebês, para criar terapias para doenças de adultos.

Os colegas de Lanza, incluindo Young Gie Chung do Instituto CHA Stem Cell em Seul, Coréia (que também tem laboratórios em Los Angeles, nos Estados Unidos), agora relatam o sucesso que todos esperávamos.

Em um artigo publicado na revista Cell Stem Cell, eles dizem que tudo começou com o DNA extraído de células da pele de um homem de meia idade e depois injetado em óvulos humanos doados por quatro mulheres. Assim como aconteceu com Dolly, o DNA nuclear das mulheres tinha sido removido antes do DNA do homem ser injetado. Então, eles repetiram o processo – desta vez começando com o material genético extraído das células da pele de um homem muito mais velho.

“O que nós mostramos pela primeira vez é que você pode tirar as células da pele de um homem de 35 anos de idade, mas também pode fazer o mesmo com as células de um idoso do sexo masculino com 75 anos de idade e usar o DNA dessas células neste processo de clonagem”, disse Lanza.

Ele e os cientistas de sua equipe injetaram DNA em 77 óvulos humanos. De todas essas tentativas, conseguiram criar duas células viáveis ​​que continham o DNA de um ou outro homem. Cada uma dessas duas células é capaz de se dividir indefinidamente, “de modo que a partir de um pequeno frasco dessas células, nós poderíamos criar quantas células quiséssemos”, afirmou Lanza, confirmando o sucesso do procedimento.

Células-tronco

Essas células criadas em laboratório se parecem com as células de um embrião humano, e de fato são chamadas de células-tronco embrionárias. Com um pouco mais de manipulação, essas células poderiam, teoricamente, ser estimuladas a se transformarem em qualquer tipo de célula humana – do sistema nervoso, coração, fígado e pâncreas, por exemplo. Isso é o que as torna potencialmente úteis para o tratamento de todos os tipos de doenças.

Técnica

Nos últimos 18 anos, desde que os pesquisadores clonaram a primeira ovelha, os cientistas encontraram outra maneira de produzir linhagens de células humanas clonadas. E essa outra técnica, que produz “células-tronco pluripotentes induzidas”, pula a etapa que requer um óvulo humano. Por isso, algumas pessoas acham que é menos preocupante, eticamente falando.

Isso também significa que conseguir a tecnologia pesquisada em ovelhas para trabalhar com células de seres humanos adultos pode não ser necessário. Afinal, como bem disse Lanza, “agora temos duas maneiras de trabalhar e não temos certeza de qual dos dois métodos vai funcionar melhor”.

Aplicações

Agora, o desafio é aplicar essa técnica para sua finalidade básica: salvar vidas. E, para tal, o que os médicos podem fazer é estriar o DNA da pessoa que vai receber o transplante celular, criando um tratamento específico para cada paciente. As perspectivas são excelentes. Paul Knoepfler, da Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos, está animado com esse avanço a partir do ponto de vista médico. Mas também poderíamos estar cada vez mais perto de clonar um ser humano inteiro.

Enquanto muitas pessoas consideram essa ideia perigosa, antiética e até repugnante, ela não é totalmente ilegal. Ou seja: além de avanços incríveis para a medicina, podemos esperar longos e intermináveis debates éticos nos próximos capítulos dessa história – que, aliás, está só começando. [npr]

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