O que a ciência diz sobre seu estilo de criar os filhos
Qual é a melhor maneira de criar os filhos? Essa é uma questão que tem provocado a publicação de numerosos livros e criado uma verdadeira corrida entre autores para inventar o próximo nome peculiar para um novo estilo de criação.
E por mais que aquela sua tia saiba exatamente a maneira “correta” de criar seus filhos, existem muitos estilos com prós e contras. Segundo Rebecca English, professora de educação na Universidade de Tecnologia de Queensland, na Austrália, alguns destes estilos mais conhecidos são:
- Pais tigres, que são vistos como aqueles que forçam seus filhos a ter sucesso de acordo seus próprios termos;
- Pais helicóptero, aqueles que assumem todos os aspectos da vida da criança;
- Pais “escavadeira”, que eliminam os obstáculos para tornar a vida mais fácil para os filhos;
- Pais “ar livre”, que permitem às crianças uma grande dose de liberdade;
- Pais apegados, que são relaxados, mas estabelecem limites em consonância com as necessidades e o caráter da criança.
Os psicólogos geralmente falam sobre paternidade e maternidade como um encaixe em tipologias, com base no trabalho de Diana Baumrind, uma psicóloga clínica e de desenvolvimento conhecida por sua pesquisa sobre estilos parentais.
Há quatro tipologias geralmente usadas:
- Os pais autoritários são a autoridade na vida de seus filhos. Eles definem as regras e dizem “pule”, ao que os filhos respondem: “Quão alto?” (são mais semelhantes aos pais tigres);
- Os pais permissivos são negligentes sobre as suas expectativas, não definem normas e não pedem muito de seus filhos;
- Pais negligentes não estão interessados em seus filhos e não querem ser uma parte ativa da vida deles;
- Os pais com autoridade são extremamente exigentes ao mesmo tempo que são altamente responsivos.
De acordo com English, uma das principais críticas destas tipologias é como culturalmente determinadas elas são. Mas o que dizem as pesquisas sobre os prós e contras de cada um desses estilos parentais?
Pais tigres
Tipo de pai: Espera obediência, excelência em cada empreendimento e uma criança que nunca responda.
Quem deu o nome? Amy Chua popularizou esse nome em seu livro “Battle Hymn of the Tiger Mother” (Hino de Batalha da Mãe Tigre, em tradução livre), de 2011. Chua descreve pais tigres, muitas vezes vistos em famílias chinesas, como superiores aos pais ocidentais. Os pais chineses são sinônimos de força e não se furtam de xingar as crianças. Eles entendem que seus filhos devem a eles e esperam que as crianças os reembolsem, sendo obedientes e os deixando orgulhosos.
Por que os pais escolhem esse estilo: mães tigres são, como Chua explica, socializadas para ser desta maneira pelo seu contexto cultural. Assim, quando exigem uma hora de prática de piano, é parte de seu contexto cultural que a criança esteja em conformidade. Os pais ocidentais têm dificuldade em emular os anos de cultura que levam a esse comportamento.
Os pais que seguem Chua podem fazê-lo porque eles querem que seus filhos sejam bem sucedidos. Pode ser que estes pais tenham uma profunda insegurança sobre o futuro. Estes pais são mais propensos a ser autoritários.
Prós: Educar uma criança desta forma pode levá-la a ser mais produtiva, motivada e responsável.
Contras: As crianças podem ter dificuldades para “funcionar” na vida diária ou em situações que demandem novas configurações sociais, o que pode levar à depressão, ansiedade e habilidades sociais falhas. Mas, novamente, é algo culturalmente dependente.
Pais helicóptero
Tipo de pai: Intervêm para evitar qualquer problema para os filhos; estão muito envolvidos na educação dos filhos e frequentemente ligam para os professores; não conseguem parar de vigiar os filhos adolescentes.
Quem deu o nome? O psicólogo Foster Cline e o consultor de educação Jim Fay cunharam a frase em 1990 no seu livro “Parenting with Love and Logic” (Criando filhos com amor e lógica, em tradução livre). Eles descreveram os pais helicóptero como sendo confusos sobre a diferença entre dar amor e salvar as crianças de si mesmas. Outro nome para este tipo de criação é “overparenting”, termo que denota um exagero no cuidado com os filhos.
Por que os pais escolhem esse estilo: Estes pais são suscetíveis a ter medo do futuro dos seus filhos, talvez como os pais tigres. Eles podem não confiar na capacidade dos filhos de enfrentar o mundo. Ao estarem por perto, eles podem pensar que as crianças vão estar vacinadas contra falhas.
Estes pais são, provavelmente, uma mistura das tipologias autoritária e permissiva, mas há pouca pesquisa sobre o estilo.
Prós: Os pais podem ser superprotetores, o que pode salvar suas crianças ou adolescentes de problemas que eles não iriam prever.
Contras: As crianças podem não ter resiliência emocional e independência, o que pode afetá-las até a idade adulta. Crianças com este tipo de pais podem desenvolver uma incapacidade de controlar seu comportamento.
Pais “escavadeira”
Tipo de pai: Empurra todos os obstáculos para fora do caminho de seus filhos. Talvez já tenha incomodado o diretor da escola para conseguir um professor diferente ou subornado o treinador para conseguir um lugar no time para a criança.
Quem deu o nome? Parece que o termo foi cunhado pelo ex-professor do ensino médio David McCullough. Em 2015, ele publicou um livro, “You Are Not Special” (Você não é especial, em tradução livre), no qual ele implora aos pais para recuarem e deixarem seus filhos falharem. O livro foi baseado em um discurso de formatura de 2012 que ele deu a estudantes do ensino médio.
Por que os pais escolhem esse estilo: Talvez você ache que seu filho é excepcional, ou bom demais para falhar, e é por isso que você se identificou com este estilo parental. Em termos de tipologia, há aspectos do autoritarismo na mistura uma vez que eles exigem sucesso (afinal, eles já retiraram todos os obstáculos do caminho de seus filhos). No entanto, eles também têm pontuação alta para a permissividade.
O que a pesquisa diz: Não há nenhuma evidência empírica para esta abordagem. No entanto, há uma série de artigos dedicados ao tema.
Dito isto, os prós e contras são, provavelmente, semelhantes aos dos pais helicóptero. Estes pais podem ajudar as crianças a se sentir seguras e protegidas. Mas também podem fomentar um sentimento de “direito” às coisas ou de narcisismo em seus filhos.
Pais “ar livre”
Tipo de pai: Acreditam que seu papel é o de confiar em seus filhos. Os dão as habilidades para se manterem seguros, e depois recuam.
Quem deu o nome? O termo ficou famoso por um caso de “negligência” contra Lenore Skenazy, ex-colunista que escreveu sobre deixar seu filho de nove anos de idade andar de metrô em Nova York sozinho. A experiência a levou a ser rotulada como “pior mãe dos EUA” e a fez escrever um livro sobre a luta contra a percepção de que o mundo está ficando cada vez mais perigoso.
O blog de Skemazy tenta conectar os pais com outros do mesmo nível que concordam que as crianças precisam de coletes de segurança e capacetes, a fim de experimentar com segurança a sua independência. A abordagem é sobre dar às crianças a infância que seus pais experimentaram na década de 1970/1980.
Por que os pais escolhem esse estilo: Psicólogos e especialistas sugerem que esse estilo é uma reação contra a criação de filhos baseada na aversão ao risco. Pode ser que Skenazy esteja certa e estejamos muito preocupados sobre tudo, desde os germes até outras pessoas. Enquanto Skenazy cita respostas de pais (e legisladores) que pensam que a abordagem é negligente, este tipo de abordagem provavelmente está mais alinhada com a tipologia autoritária, na qual os pais acreditam em ensinar as crianças a cuidar de si mesmas.
Prós: As crianças aprendem a usar sua liberdade, ser autônomas e gerenciar a si mesmas. Elas também podem ser mais capazes de lidar com erros, ser mais resistentes e assumir a responsabilidade por suas ações. Também pode levar a adultos mais felizes.
Contras: Os problemas com este tipo de abordagem estão principalmente nos aspectos legais. Em alguns estados americanos, por exemplo, é ilegal deixar o seu filho sozinho ou sem cuidado por muito tempo. No Brasil, a Constituição diz que os pais têm o dever de assistir, educar e criar os filhos. Uma interpretação mais rigorosa pode impedir uma criação mais “solta”.
Pais apegados
Tipo de pai: Acreditam que o apego de uma criança por seus primeiros cuidadores informa sobre todas as conexões subsequentes que uma pessoa experimenta. O argumento sugere que fortes ligações emocionais e físicas por pelo menos um cuidador principal são essenciais para o desenvolvimento pessoal da criança.
Quem deu o nome? A filosofia baseia-se no trabalho dos psicólogos John Bowlby e Mary Ainsworth na teoria do apego. O trabalho começou com Bowlby na década de 1950. Bowlby também trabalhou com Ainsworth, que havia feito alguns experimentos famosos com crianças pequenas.
A teoria do apego sugere que crianças que desenvolvem fortes laços com os pais / cuidadores nos primeiros anos terão relacionamentos mais felizes e saudáveis enquanto envelhecem. O termo foi, em seguida, popularizado por um livro chamado de “Baby Bible” (Bíblia do Bebê, em tradução livre), escrito pela família Sears em 1993.
Por que os pais escolhem esse estilo: Os pais podem escolher este estilo porque eles querem que seus filhos sejam positivos sobre si mesmos e suas relações com os outros à medida que amadurecem. A abordagem está associada com a tipologia de autoridade. Estes pais tentam equilibrar grandes expectativas com empatia e isto está associado com os melhores resultados.
Prós: Oferece um refúgio seguro de amor e respeito que constrói os relacionamentos da criança e do qual a criança pode experimentar com segurança o mundo.
Contras: Pode ser confundida com a paternidade permissiva. Também está associada, um pouco ao contrário, com o excesso de paternidade. Alguns sugerem que é um nome para mães que não conseguem cortar os laços com seus filhos. [The Conversation]