Como ter irmãos pode influenciar você

Por , em 26.08.2013

Pode ser tentador divulgar pesquisas segundo as quais “irmãos mais velhos são mais inteligentes” ou “irmãos mais novos são mais bonitos”, mas não se engane: esse campo de estudo, em que pesquisadores investigam como a existência de irmãos pode interferir na formação de uma pessoa, é bastante controverso.

Em 1996, o pesquisador Frank Sulloway lançou o livro Born to Rebel, um dos mais conhecidos sobre o tema, no qual afirma que irmãos mais velhos tendem a ser mais conformistas e irmãos mais novos tendem a ser mais criativos e propensos a mudar a situação em que vivem.

A obra gerou polêmica (houve quem acusasse Sulloway de distorcer os dados) e motivou uma série de estudos sobre a possível existência de traços típicos de irmãos mais novos, irmãos mais velhos e filhos únicos.

Em um deles, divulgado em 2010, os autores analisaram os resultados de 200 desses estudos e encontraram, de fato, características típicas: primogênitos tendem a ser mais bem-sucedidos e realizados; filhos-do-meio em geral são altamente sociáveis; e caçulas normalmente têm um grande desejo por uma vida social.

Carreira

Publicada em 2001 no Journal of Career Assessment, uma pesquisa realizada nos Estados Unidos mostrou que filhos mais novos tendem a buscar carreiras relacionadas a artes, enquanto primogênitos e filhos únicos em geral preferem carreiras mais voltadas a “conhecimento formal” do que a criatividade.

De acordo com um estudo mais recente, divulgado em 2010 no Journal of Research in Personality, primogênitos tendem a ser menos dominadores do que seus irmãos mais novos, possivelmente por causa de uma criação mais restritiva e protetora, típica de “pais de primeira viagem”.

Inteligência

Para o incômodo dos caçulas, porém, os primogênitos normalmente se saem melhor em testes de inteligência. O pesquisador Robert Zajonc acredita que isso ocorra porque o filho mais velho em geral é exposto, em casa, quase exclusivamente a linguagem adulta, enquanto os filhos mais novos recebem uma influência direta (e, de certa forma, despreparada) dos irmãos – que, por estarem próximos, podem acabar interferindo consideravelmente na educação da criança.

Também é possível que fatores como as condições econômicas da família (uma família menor teria mais condições de dar uma educação formal ao filho) e a idade da mãe (aquelas que têm filhos muito cedo tendem a ter um número maior do que a média) contribuam para esse fenômeno.

Sexualidade

Há uma teoria segundo a qual cada gestação faz com que o corpo da mãe produza certos anticorpos que, se atravessarem a placenta, podem interferir na sexualidade do bebê.

“Os resultados indicam que a proporção de homens homossexuais cuja orientação sexual pode ser atribuída a nascimento fraterno constitui uma minoria, mas não uma minoria irrelevante, dos homens homossexuais”, escrevem os autores de um estudo sobre o tema publicado em 2004 no American Journal of Human Biology.

“O efeito da ordem fraternal de nascimentos pode ser reflexo da imunização progressiva de algumas mães a antígenos ligados ao cromossomo Y a cada feto masculino bem-sucedido, e do crescimento concomitante de efeitos de anticorpos antimasculinos na diferenciação sexual do cérebro de cada feto masculino”.

Saúde

Por outro lado, ser o filho mais novo traria uma vantagem em termos de saúde: “É possível que os primogênitos tenham maior exposição a estrogênio e que isso eleve os riscos de se desenvolver câncer (…). Níveis de estrogênio no sangue materno e no sangue do cordão umbilical são maiores na primeira gestação do que em gestações subsequentes”, escrevem pesquisadores em artigo publicado em 2011 no International no Journal of Cancer.

Ressalvas

Vale destacar que as atitudes de uma pessoa variam conforme o ambiente em que ela se encontra, e isso pode interferir nos resultados de estudos focados na influência que a família exerce na personalidade do indivíduo – certos comportamentos só ocorrem dentro de casa, enquanto outros ocorrem no ambiente de trabalho e não são percebidos pelos membros da família.

Além disso, novas experiências podem fazer com que uma pessoa mude drasticamente de atitude. Portanto, não é prudente encarar os resultados desses estudos como algo “determinado” e inevitável, mas como tendências. Esse mesmo cuidado é válido para os estudos da influência de irmãos na saúde da pessoa. [io9]

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