Conheça a ciência que faz uma pessoa ser introvertida ou extrovertida

Por , em 17.09.2013

Você gosta de jogar conversa fora? Prefere um papo em particular ou atividades em grupo? Estas e várias outras perguntas muitas vezes servem como testes de personalidade para revelar quão introvertido ou extrovertido você é, mas o que isso realmente significa? Conheça a ciência por trás de uma pessoa ser expansiva, ou preferir ficar quietinha no seu canto lendo um livro.

A extroversão e a introversão (E/I) são reconhecidos como aspectos fundamentais da personalidade das pessoas. Hoje, são consideradas partes de uma série de diferentes escalas de personalidade, mas a ideia de E/I remonta a quase um século.

No começo do século passado, o psicólogo suíço Carl Jung cunhou os termos “introvertido” e “extrovertido” em seu trabalho do ano de 1920, “Psychologische Typen” (“Tipos Psicológicos”). Em seu modelo, as diferenças entre as personalidades das pessoas basicamente se resumiam à energia: pessoas extrovertidas são energizadas pelas interações sociais, ao passo que esses mesmos encontros sociais são energeticamente desgastantes para os introvertidos. Ou seja, depois de participar de uma festa ou qualquer outra reunião social, os introvertidos precisam de tempo sozinho para “recarregar”.

Os extrovertidos são geralmente considerados sinceros, expansivos e preocupados com o que está acontecendo com o mundo exterior. Os introvertidos, por outro lado, sofrem um estigma social maior por serem tranquilos, reflexivos e focados em seu próprio mundo interior. No entanto, E/I são muitas vezes vistos como conceitos abertos, uma vez que as pessoas podem apresentar uma mistura das tendências de introversão e extroversão.

O próprio Jung acreditava que as pessoas não poderiam ser completamente introvertidas ou totalmente extrovertidas. “Não existe isso de um introvertido ou extrovertido puro”, ele teria dito. “Essa pessoa estaria no manicômio”.

Várias décadas após Jung, o psicólogo alemão Hans Eysenck desenvolveu um modelo mais baseado na biologia para explicar as origens e as implicações da E/I. Segundo a teoria de Eysenck, os comportamentos introvertidos e extrovertidos se dão devido às diferenças de excitação cortical (a velocidade e a quantidade de atividade do cérebro). Comparados com os extrovertidos, os introvertidos têm naturalmente um nível mais elevado de excitação cortical, o que faz com que eles consigam processar mais informações por segundo.

Isso significa, essencialmente, que se você colocar pessoas introvertidas em um ambiente com um alto grau de estimulação, como um restaurante cheio, elas vão rapidamente ficar sobrecarregadas, o que obrigará seu cérebro a “desligar” para interromper o fluxo de informação. Devido a este fato, os introvertidos tendem a evitar tais ambientes muito ativos. Os extrovertidos, por outro lado, são apenas minimamente excitados nesses casos. Por isso, procuram ambientes altamente estimulantes para aumentar seus níveis de excitação.

Outras teorias para E/I também existem. Uma ideia proeminente ressalta o envolvimento de sistemas de recompensa no cérebro das pessoas, o que sugere que o cérebro dos extrovertidos são mais sensíveis a recompensas – como aquelas inerentes às interações sociais – que o cérebro dos introvertidos. Esta sensibilidade aumenta o desejo dos extrovertidos de participar de certas situações e eventos.

Dado o fato de que algumas teorias sobre E/I envolvem explicações neurobiológicas, os cientistas já tentaram encontrar evidências experimentais para elas. Já houve inúmeros estudos de neurociência realizados sobre esse assunto ao longo dos anos, muitos dos quais mostram que o cérebro dos introvertidos e dos extrovertidos são realmente diferentes.

Por exemplo, em 1999, cientistas mediram o fluxo sanguíneo cerebral de pessoas introvertidas e extrovertidas utilizando o método da tomografia por emissão de pósitrons (PET, na sigla em inglês), enquanto os participantes do experimento pensavam livremente. Os pesquisadores descobriram que os introvertidos possuíam um fluxo sanguíneo mais intenso em seus lobos frontais e no tálamo anterior – regiões do cérebro envolvidas em recordar acontecimentos, fazer planos e resolver problemas.

Os extrovertidos, por sua vez, apresentavam mais fluxo de sangue nas áreas do cérebro envolvidas com a interpretação de dados sensoriais, incluindo o giro do cíngulo anterior, os lobos temporais e o tálamo posterior. Os dados sugerem, como Jung acreditava, que os extrovertidos têm a atenção voltada para fora e os introvertidos, para dentro.

Esta mesma pesquisa também mostrou que os introvertidos têm mais atividade neuronal do que os extrovertidos em regiões do cérebro associadas ao aprendizado, ao controle motor e ao controle de vigilância, e que seus córtex pré-motores processam estímulos externos de forma mais rápida.

Outro estudos também sugerem que o cérebro de pessoas extrovertidas presta mais atenção em rostos humanos do que o cérebro dos introvertidos. Na realidade, os pesquisadores descobriram que o cérebro de pessoas introvertidas responde a faces humanas assim como o faz a imagens de flores. Os extrovertidos, por outro lado, mostram uma resposta mais forte ao rosto, o que sugere que os rostos humanos, ou as pessoas em geral, possuem um maior significado para eles. Isso explica, pelo menos em parte, por que buscam a companhia de outras pessoas.

E a diferença continua. Em termos de linguagem, pesquisadores revelaram que os extrovertidos e os introvertidos falam de forma diferente. Mais especificamente, os extrovertidos usam palavras mais abstratas, enquanto o outro grupo costuma falar de maneira mais concreta, pelo menos quando se trata de descrever objetos. Os pesquisadores pediram que os participantes descrevessem em voz alta o que acontecia em diferentes fotos. A conclusão foi de que os introvertidos eram mais precisos em suas descrições.

Quando se trata de aprender uma segunda língua, entretanto, os extrovertidos podem se dar melhor, uma vez que são mais propensos a “usar seu sistema de linguagem até o limite”. Ao contrário de seus colegas mais tranquilos, os extrovertidos utilizam mais facilmente o que eles aprendem e se envolvem mais facilmente em conversas dentro e fora da sala de aula.

Pesquisadores também descobriram que o comportamento sexual de risco, como sexo desprotegido, está associado à “busca de sensações”, uma característica relacionada à alta extroversão. Esse pessoal também é mais propenso a se envolver em esportes de alto risco, incluindo parapente e paraquedismo. Além disso, algumas pesquisas já relacionaram a alta extroversão (e autoestima elevada, que pode ser influenciada pela extroversão) com o tabagismo na adolescência.

Talvez a mais importante – e consistente – descoberta das pesquisas em E/I é que os extrovertidos são, em geral, mais felizes do que os introvertidos, e essa felicidade dura por décadas. Os cientistas têm se empenhado para identificar a causa da felicidade dos extrovertidos, embora eles ainda não tenham muita certeza sobre os motivos reais.

Os pesquisadores suspeitam que os extrovertidos possam sentir mais felicidade do que os introvertidos porque são mais sensíveis a situações sociais gratificantes. Outra hipótese é a de que essa felicidade venha do envolvimento mais constante em atividades sociais. Alguns cientistas pensam que a felicidade perpétua dos extrovertidos decorre de suas maiores habilidades de regulação do humor. Ou talvez eles sejam mais felizes porque se atêm firmemente a todas suas boas lembranças.

Ao mesmo tempo, no entanto, os cientistas têm questionado se realmente os extrovertidos são mais mesmo ou se eles apenas expressam mais seus sentimentos. Há também a questão de como, exatamente, se deve definir o conceito de “felicidade”. Seja qual for o caso, os dois grupos se beneficiam de diferentes estratégias de aumento da felicidade, dadas as diferenças inerentes dos tipos de personalidade.

Em um livro recente sobre introversão, a autora Susan Cain explica que, embora introvertidos componham de um terço a metade da população mundial, a sociedade ocidental – os Estados Unidos, em particular (o mesmo pode ocorrer no Brasil) – é toda centrada em indivíduos extrovertidos.

Ela observa que as escolas e os locais de trabalho são projetados para as pessoas extrovertidas, sob a crença de que a colaboração é a chave para a criatividade e a produtividade (o oposto do que é verdadeiro para os introvertidos). Além disso, os traços extrovertidos são altamente valorizados na sociedade de hoje, o que faz com que os introvertidos sintam que algo está errado com eles (e, talvez, os deixem infelizes). Ela propõe um novo sistema que dê aos introvertidos a solidão de que eles tanto precisam.

Para saber mais sobre as propostas de Cain, assista a palestra no formato “TED” da autora. Você pode acionar as legendas em português no canto inferior direito do vídeo. [io9]

11 comentários

  • Fernanda Pires Nogueira:

    Realmente, a sociedade e centrada nos extrovertidos, sempre sofri muito por ser introvertida, tanto na escola, faculdade, trabalho e qualquer outra atividade no meio social. As pessoas não compreendem que coisas que elas consideram simples podem ser motivo de terror e constrangimento para uma pessoa introvertida, já passei por situações de agonia mesmo, taquicardia, mãos trêmulas, tudo isso por ser mal compreendida e algumas vezes obrigada a fazer coisas que me deixavam desconfortável.

  • Krypthus:

    Acho que os introvertido sao menos felizes, pq a sociedade e feita pros extrovertidos, eles tem precinceito contra os introvertidos, nao entendem pq eles sao assim, e muitas veses fazem bullyng com os introvertidos, eles sao 99% das vitimas de bullyng e passam por isso a vida toda, e claro que isso diminui a felicidade, os cientistas nao pensaram nisso?

    • Pedro Felipe:

      Talvez a mais importante – e consistente – descoberta das pesquisas em E/I é que os extrovertidos são, em geral, mais felizes do que os introvertidos

    • Yan Ricardo:

      Creio que os fatos diferem um pouco disso, Krypthus. Quando uma criança sofre com bullying e coisas do gênero isso pode ou não moldar a personalidade dela sobre a introversão, mas não necessariamente toda pessoa introvertida é aquela que sofre com preconceitos. Introversão não quer dizer auto exclusão social, aquela imagem clichê de “forever alone”, sabe? Como foi dito na matéria, você não é 100% extrovertido ou introvertido, mas toda pessoa pende mais para um lado do que para o outro. Acredito que a questão da felicidade é pela parte de que os introvertidos acabam guardando muita coisa em si, lidando com problemas internos sozinhos, aceitando a solidão as vezes … E sofrendo por isso.

      Ps: Essa é a minha opinião, fico feliz que tenha compartilhado a sua e a respeito. Se cuide 🙂

  • Evandro Oliveira:

    POr alguns comentários vistos, precisamos ressaltar que introversão não é o mesmo que timidez.

    Timidez é um tipo de medo, ansiedade, fobia.
    Do mesmo modo, introversão nao significa dificuldade de expressão. Diga-se de passagem, muitos dos grandes discursos, literarios, artistas se devem a pessoas muito introvertidas (algumas taxadas de loucas de tão ecentricas). Problemas de comunicação são outros fatores.

    Introversão está mais para Intro+versão (versão, perspectiva, olhar, observação)… olhamso mais para o nosso mundo, desenvolvendo mais nossos pensamentos, como observar, entender o mundo, nso importamos com isso, com nossos pensametnos, ideias, formas de lidar com o mundo etc.

    Na minha pessoal observação (rs.. um introverdido falando) pouco me atrai festas, multidões, muitas pessoas, ‘socais’ etc, nao por receio, medo das pessoas… se o quiser convico, falo, conheço e converso com muitos, como já o fiz. Mas acontece que normalmente nessas ocasiões, o papo é vão, futil, sem importancia, palavras ao ar… no qual é apenas uma interação sem muita finalidade sobre idéias, pensamentos que nós introvertidos nos importamos mais. Já para muitos extrovertidos que conheço, é o inverso, para eles, pensar, ideias, pensamentos, e essas coisas é tediante, e sua grande ansiedade que os satisfazem é conhecer novas pessoas, ser centro das atenções, falar muito… eles sentem uma carencia de ‘popularidade’ digamos assim, que os promovem uma certa autorecompensa ao se interagirem com outros.

    O introvertido que se torna timido ou desligado das pessoas, se encontra em terreno perigoso, no sentido de significado e valor humano; por mais que possa ser produtivo em arte, ciencia, literaturas, filosofia, razão…

    Por outro lado, os extrovertidos que o são por ansiedade, por medo de solidão, por carencia de popularidade… tambem está em terreno perigoso; podendo criar uma ‘mania social’, qual conheço alguns, que conhecem muita gente mas tem quase nenhum amigo se o tem, ou nunca estabiliza uma relação, ou emprego… anda pra cá e pra lá e nunca constroi ou chega em lugar algum… e passam décadas e ainda é infantil quando se trata ao mundo das ideias e da razão.

  • Evandro Oliveira:

    Quanta falácia… me descato pela introversão. Mas 90% do dito ali, não se aplica a mim… sobretudo quanto a felicidade.

    No meu ver há varias variaveis em jogo… e muitas configurações de ‘personalidade’ digamos assim… no qual I/E é apenas 1 das caracteristicas em função de outras variaveis.

  • Marc F.B.:

    Tenho que admitir: no final do vídeo eu aplaudi Susan junto com a plateia. Muito bom, e a matéria também está de parabéns! Gostaria que o maior número possível de pessoas visse a E/I por este aspecto.

    Eu sempre estive mais para o lado da introversão, principalmente por conta de os meus gostos/passatempos serem diferentes do geral, e as pessoas me julgam muito por causa disso. Seria maravilhoso que todos entendessem que, nem sempre a ‘felicidade’ é estar em uma roda cheia de gente barulhenta e risonha… Mas fazer o que se o mundo foi feito para eles?

    Apesar disso, eu admiro MUITO os extrovertidos, e acho que é bom haver a integração entre todas as partes, uma vez que vivemos em sociedade e somos ‘iguais’ diante dela; mas só que deveria também existir o respeito a quem preza a própria individualidade.

  • bredrocha:

    Primeiro quero parabenizar pela excelente matéria,depois a pergunta, e o que acontece quando somos as duas coisas? Por exemplo, eu era introvertido e agora tornei-me extrovertido.

  • Guilherme Daflon:

    Uma teoria que eu formei sobre porque os Extrovertidos são geralmente mais felizes,é por causa do que o mundo nos exige hoje em dia,talvez na época da caverna os introvertidos fossem mais felizes,mas hoje em dia a comunicação é essencial,qualquer curso,emprego,festa entramos num ambiente lotado de pessoas desconhecidas,enquanto o extrovertido começa a se socializar e se sentir a vontade o introvertido fica ansioso procurando fazer alguma amizade para diminuir a tensão.

  • Rodrigo Piedade:

    Adoro o trabalho da Susan Cain, acho que sim vivemos numa sociedade que impõe a extroversão como forma de mostrar sua felicidade, quando na verdade muitas vezes é só uma impressão. A grande dificuldade é mudar a sociedade, visto que essa pratica de supervalorização da extroversão já dura muitas décadas.

  • Juliano Tobias:

    Legal

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