Estrela “irmã” do nosso sol é encontrada
Uma equipe de pesquisadores liderada pelo astrônomo Ivan Ramirez, da Universidade do Texas, nos Estados Unidos, identificou o primeiro “irmão” do sol – uma estrela que quase certamente nasceu a partir da mesma nuvem de gás e poeira que a nossa fonte de calor. Métodos da equipe de Ramirez vão ajudar os astrônomos a encontrar outros irmãos solares, o que poderia levar a um entendimento de como e onde o nosso sol foi formado, e como nosso sistema solar se tornou propício para a vida.
“Queremos saber onde nascemos. Se pudermos descobrir em que parte da galáxia o sol foi formado, podemos restringir as condições do início do sistema solar. Isso pode nos ajudar a entender por que estamos aqui”, explica Ramirez.
Além disso, há uma chance “pequena, mas não inexistente”, que essas estrelas irmãs do sol possam hospedar planetas que abrigam vida. Em seus primeiros dias no conjunto de material cósmico que lhes deu origem, colisões podem ter mandado para fora pedaços de planetas e esses fragmentos podem ter viajado entre sistemas solares, e talvez até mesmo podem ter sido responsáveis por trazer a vida primitiva para a Terra. “Então, pode-se argumentar que os irmãos solares são candidatos chave na busca por vida extraterrestre”, sugere Ramirez.
O irmão do sol que sua equipe identificou é chamado HD 162826, uma estrela com 15% mais massa do que o nosso astro-rei, localizada a 110 anos-luz de distância, na constelação de Hércules. A estrela não é visível a olho nu, mas pode ser vista facilmente com binóculos de baixa potência, não muito longe da estrela brilhante Vega.
A equipe identificou o HD 162826 como irmão do nosso sol seguindo 30 possíveis candidatos encontrados por vários grupos ao redor do mundo. A equipe de Ramirez estudou 23 dessas estrelas a fundo com o telescópio Harlan J. Smith, no Observatório McDonald, no Texas, e as estrelas restantes (visíveis apenas do hemisfério sul) com o telescópio Clay Magellan, no Observatório Las Campanas, no Chile. Todas estas observações usaram espectroscopia de alta resolução para obter uma compreensão profunda da composição química das estrelas.
Mas vários fatores são necessários para realmente definir um irmão solar, diz Ramirez. Além da análise química, sua equipe também incluiu informações sobre as órbitas das estrelas – onde foram e para onde elas estão indo em seus caminhos ao redor do centro da Via Láctea. Considerando tanto a química quanto as órbitas, eles diminuíram a quantidade de candidatos até o HD 162826.
Ninguém sabe se esta estrela hospeda quaisquer planetas com vida. Mas por um “golpe de sorte”, afirma Ramirez, a equipe de busca planetária do Observatório McDonald vem observando o HD 162826 por mais de 15 anos. Estudos realizados por Michael Endl e William Cochran, da Universidade do Texas, bem como os cálculos de Rob Wittenmyer da Universidade de New South Wales, em Sidney, na Austrália, descartaram quaisquer planetas massivos orbitando próximos à estrela (os chamados Júpiters quentes), e indicam que é improvável que um análogo de Júpiter orbite a estrela. Os estudos não descartam a presença de planetas terrestres menores.
O achado de um único irmão solar é intrigante, mas Ramirez destaca que o projeto tem um objetivo maior: criar um roteiro para identificar irmãos solares, em preparação para o dilúvio de dados esperados em breve a partir de pesquisas como a “Gaia”, a missão da Agência Espacial Europeia que vai criar o maior e mais preciso mapa 3D da Via Láctea.
Os dados que em breve serão disponibilizados por Gaia “não vão ser limitados à vizinhança solar”, explica Ramirez, observando que a pesquisa irá fornecer distâncias precisas para um bilhão de estrelas, o que permite aos astrônomos procurar irmãos solares daqui até o centro de nossa galáxia. “O número de estrelas que podemos estudar aumenta por um fator de 10.000”, celebra o pesquisador.
Ele diz que o roteiro criado por sua equipe irá acelerar o processo de “peneirar” o campo para possíveis irmãos solares.
“Não precisaremos mais investir tanto tempo em analisar todos os detalhes em cada estrela”, diz ele. “Poderemos nos concentrar em certos elementos químicos fundamentais que vão ser muito úteis”. Estes elementos são aqueles que variam muito entre as estrelas, que no geral têm composições químicas muito similares. Estes elementos químicos altamente variáveis são em grande parte dependentes de onde na galáxia a estrela foi formada. A equipe de Ramirez identificou o bário e o ítrio como particularmente úteis.
Uma vez que muitos mais irmãos solares sejam identificados, os astrônomos estarão um passo mais perto de saber onde e como o sol foi formado. Para alcançar esse objetivo, os especialistas em dinâmica desenvolverão modelos que reproduzirão as órbitas de todos os irmãos solares conhecidos para descobrir onde eles se cruzam, achando então o seu local de nascimento. [Phys]
3 comentários
Estrelas “irmãs”, ou seja parecidas, não quer dizer quer se formaram no mesmo local.
Quer dizer é que são resultantes de uma nuvem semelhante o que originou condições semelhantes de formação.
Deverá haver centenas de milhares de nuvens “irmãs” por esse Universo imenso…
1 – As estrelas com a mesma composiçao tiveram origem na mesma nuvem. Uma conclusão quase óbvia mas que não deixa de ser brilhante! É mais ou menos como identifiar de qual vulcão e de qual erupção específica são os depósitos de cinzas encontrados mundo afora.
2 – Como as estrelas são diferentes entre si !! Tremendo esforço foi necessário para achar uma PARECIDA com o SOL (mesma composição mas com 15% mais massa).
Interessante essa notícia, imagine que por meio desses irmãos podemos encontrar vida extraterrestre (claro, uma hipótese) ou ainda melhor, saber a história da formação do sol e como/oque aconteceu com ele e quais rotas esses “pedaços” foram parar. São tantas possibilidades de pesquisas … hahahaha, que sejam bem aproveitadas!