Um planeta inteiro desapareceu?

Por , em 21.04.2020

O planeta Fomalhaut b foi descoberto há 16 anos, mas depois desapareceu. O que poderia ter acontecido?

Agora, um novo estudo americano revela que ele pode sequer ser um planeta; ao invés disso, a luz observada era apenas o resíduo de uma colisão raríssima entre duas rochas espaciais gigantes.

A descoberta

Em 2004, o astrônomo Paul Kalas, da Universidade da Califórnia em Berkeley (EUA), e seus colegas viram uma evidência direta de um planeta em torno da estrela Fomalhaut, a 25 anos-luz de distância da Terra, usando o Telescópio Espacial Hubble. Parecia ser um objeto massivo e novo, com três vezes a massa de Júpiter.

Enxergar diretamente um planeta fora de nosso sistema solar em luz ótica é um feito muito raro. Normalmente, exoplanetas são descobertos indiretamente, através da observação do quanto uma estrela oscila devido aos efeitos gravitacionais de objetos em órbita ao redor dela.

Embora visível em luz ótica, no entanto, os pesquisadores não conseguiam encontrar a assinatura infravermelha que um planeta daquele tamanho deveria ter. Assim, a verdadeira “identidade” de Fomalhaut b permaneceu enigmática.

O próprio artigo original publicado pela equipe de Kalas, em 2008, sugeriu que Fomalhaut b poderia ser uma nuvem de poeira ou material capturado do enorme disco de detritos ao redor da estrela Fomalhaut.

Resolvendo o mistério

Mais tarde, cientistas da Universidade do Arizona (EUA) começaram a analisar os dados do Hubble em busca de características que a pesquisa original poderia ter deixado passar.

Foi quando o astrônomo András Gáspár notou algo estranho: a luz de Fomalhaut b estava desaparecendo. De um sinal forte nos dados de 2004, tornou-se um fantasma de um planeta, dissipando aos poucos até desaparecer completamente em 2014.

Gáspár utilizou simulações de computador para investigar o sinal desaparecido. Sua equipe descobriu que a colisão de dois gigantescos pré-planetas, com cerca de 200 quilômetros de largura, era o que melhor explicava as características vistas pelo Hubble.

“Nossa modelagem mostra que as características observadas concordam com o modelo de uma nuvem de poeira em expansão produzida em uma colisão maciça”, disse o astrônomo, complementando que o padrão explica toda a estranheza vista em Fomalhaut b durante seu histórico de observação, desde a descoberta de Kalas até algumas das últimas observações feitas sete anos atrás.

Raro

O novo estudo é o primeiro a argumentar que a colisão de duas rochas espaciais enormes (um pouco menores que o planeta anão Hygiea) é a explicação para a observação extremamente rara feita por Kalas em 2004.

Na época, o cientista supôs que tal nuvem de poeira só ocorreria uma vez a cada 100.000 anos, considerando-se muito sortudo por ter apontado o Hubble para Fomalhaut quando o fez. “Se eu tivesse tentado alguns anos antes ou depois, não a teria descoberto”, disse Kalas.

Gáspár e seus colegas indicam que Kalas é ainda mais sortudo do que pensava – tal colisão só poderia ocorrer na verdade uma vez a cada 200.000 anos, o que significa que só aconteceu duas vezes na história da humanidade.

Novas observações

Ainda há alguma possibilidade de Fomalhaut b ser um planeta? Parece cada vez menos provável. Planetas não desaparecem. E Gáspár duvida que veremos esse objeto alguma vez de novo.

Dito isto, Kalas continuará a examinar o sistema planetário em torno da estrela Fomalhaut, algo que ele faz desde a década de 1990. Ano que vem, ele usará o Hubble para dar uma nova olhada na região.

Além disso, quando o poderoso Telescópio James Webb for lançado, em 2021, os pesquisadores poderão compreender ainda melhor a situação de Fomalhaut. De acordo com Gáspár, quaisquer novas descobertas irão contribuir para nosso entendimento de como sistemas planetários evoluem ao longo do tempo.

Um artigo sobre a descoberta foi publicado na revista científica Proceedings of the National Academy of Sciences. [Cnet]

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