Temos que reduzir o consumo de carne em 75% para evitar um desastre climático

Por , em 12.10.2018

De acordo com a análise mais abrangente já feita sobre o impacto do sistema alimentar no meio ambiente, reduções enormes no consumo de carne no mundo todo são essenciais para evitar mudanças climáticas perigosas.

Isso significa que o cidadão médio precisa comer 75% menos carne bovina, 90% menos carne de porco e metade do número de ovos, enquanto triplica o consumo de feijões e leguminosas e quadruplica o de nozes e sementes.

A pesquisa também descobriu que enormes mudanças na agricultura são necessárias para evitar a destruição da capacidade do planeta de alimentar as 10 bilhões de pessoas o habitarão dentro de algumas décadas.

Esse é o estudo mais completo já feito até o momento, combinando dados de todos os países para avaliar o impacto da produção de alimentos e propondo soluções para a crise alimentar iminente.

“Esverdear o setor de alimentos ou comer o nosso planeta”

A produção de alimentos já causa grandes danos ao meio ambiente. Estamos falando dos gases de efeito estufa provenientes da pecuária, do desmatamento, da escassez de água e das vastas zonas mortas oceânicas devido à poluição agrícola.

Se não fizermos nada, seu impacto ficará ainda pior à medida que a população mundial aumentar em 2,3 bilhões de pessoas até 2050 e a renda global triplicar, permitindo que mais pessoas se alimentem com dietas ocidentais ricas em carne.

Essa trajetória extrapolaria os limites ambientais críticos além dos quais a humanidade poderá sobreviver.

“É muito chocante”, disse Marco Springmann, da Universidade de Oxford (Reino Unido), que liderou a equipe de pesquisa. “Estamos realmente arriscando a sustentabilidade de todo o sistema”.

“Alimentar uma população mundial de 10 bilhões é possível, mas apenas se mudarmos a maneira como comemos e a maneira como produzimos alimentos”, complementou o professor Johan Rockström, do Instituto Potsdam para Pesquisa sobre o Impacto Climático (Alemanha). “Esverdear o setor de alimentos ou comer o nosso planeta: é isso que está no cardápio hoje”.

Dieta “flex”

Recentemente, cientistas alertaram que temos apenas cerca de doze anos para manter o aquecimento global abaixo de 1,5 graus Celsius. Se passarmos sequer meio grau, isso piorará significativamente os riscos de seca, inundações e calor extremo.

O novo estudo explica que comer menos carne e laticínios é importante para manter essa meta, mas as tendências atuais seguem na direção oposta.

Os pesquisadores descobriram que uma mudança global para uma dieta “flexitariana” é necessária para manter a mudança climática abaixo de 2 graus Celsius. Isso reduziria pela metade as emissões de efeito estufa.

Nas nações ricas, as mudanças dietéticas necessárias são ainda maiores. Os cidadãos do Reino Unido e dos EUA precisam reduzir a carne bovina em 90% e o leite em 60%, enquanto aumentam o consumo de grãos entre quatro e seis vezes. Já milhões de pessoas em países pobres estão desnutridas e precisam comer um pouco mais de carne e laticínios.

O quadro acima mostra, à esquerda, o que precisamos comer menos para evitar que a temperatura global suba mais de 2° C até 2050: carne de porco, carne de vaca, cordeiro, aves, açúcar e leite. A faixa laranja corresponde à diminuição de consumo necessária em cidadãos de países desenvolvidos, e a faixa amarela à diminuição de consumo necessária globalmente, em média. A coluna da direita mostra o que precisamos comer mais: legumes, nozes e sementes, vegetais, frutas e óleo vegetal.

Peça a seus governantes que salvem o meio ambiente

A redução do consumo de carne pode ser obtida por meio de uma mistura de educação, impostos, subsídios para alimentos vegetais e mudanças nos cardápios escolares e locais de trabalho.

Para deter o desmatamento, a escassez de água e a poluição causada pelo uso excessivo de fertilizantes, mudanças profundas nas práticas agrícolas são necessárias, o que inclui aumento das colheitas nas nações mais pobres, armazenamento mais universal de água e uso mais cuidadoso de fertilizantes.

Todas essas opções já estão sendo implementadas em algum lugar do mundo. Na Holanda e em Israel, os fertilizantes e a água estão sendo mais bem utilizados, enquanto jovens estão fazendo grandes cortes no consumo de carne em algumas cidades.

Mas uma mudança global é essencial. “Eu acho que podemos fazer isso, mas realmente precisamos de muito mais governos proativos para fornecer a estrutura correta. As pessoas podem fazer uma diferença pessoal mudando sua dieta, mas também batendo nas portas de seus políticos e dizendo que precisamos de melhores regulamentos ambientais – isso também é muito importante. Não aliviem para os políticos”.

Não há outra opção

“Em última análise, vivemos em um planeta finito, com recursos finitos. É uma ficção imaginar que existe uma solução tecnológica que nos permita produzir tanta comida quanto desejaríamos, permitindo-nos comer demais e desperdiçar muito”, esclarece o professor Tim Benton, da Universidade de Leeds (Reino Unido), que não fez parte da equipe de pesquisa.

O peso ambiental do atual sistema alimentar prejudica a capacidade das gerações futuras de viverem em um planeta estável e ecologicamente rico.

“Sabemos que as escolhas alimentares são muito pessoais, e que a mudança de comportamento pode ser difícil de encorajar, mas as evidências são inequívocas – precisamos mudar nossas dietas se quisermos ter um futuro sustentável. O fato de que isso também nos tornará mais saudáveis faz com que seja uma escolha óbvia”, finaliza Peter Smith, da Universidade de Aberdeen (Reino Unido).

A pesquisa foi publicada na revista científica Nature. [TheGuardian]

2 comentários

  • Elienai Luciano:

    Se os defensores do meio ambiente deixarem o asfalto, sigo o exemplo. Se continuar no asfalto isso é conversa fiada.

  • ENAX:

    Dieta rica em carnes diminui a expectativa de vida. Dieta rica em vegetais aumenta a expectativa de vida. Precisa falar mais alguma coisa? Qual seria o motivo? A carne produz toxinas e os vegetais não. A carne é indigesta, e os vegetais não. A carne contém hormônios injetados pelos produtores que fazem mal à saúde. A carne é rica em gordura saturada que faz mal à circulação sanguínea, aumenta a pressão arterial, aumenta a chance de doenças circulatórias e do coração para não falar de AVC´s e câncer… Mas ainda existe os embuchados, linguiças, salsichas e carnes processadas que são verdadeiros venenos, mas como não matam na hora, as pessoas consomem na busca de uma satisfação momentânea que só trarão problemas de saúde anos depois (com os cigarros acontece o mesmo…).

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