Nova abordagem promissora: Transformando células cancerígenas em células musculares saudáveis

Por , em 29.08.2023
Células de rabdomiossarcoma que se transformaram em células musculares. (Laboratório Vakoc/Cold Spring Harbor)

Uma forma potencialmente agressiva de câncer infantil que se origina no tecido muscular pode em breve ter uma nova opção de tratamento.

Pesquisadores conseguiram induzir células de rabdomiossarcoma a se transformarem em células musculares normais e saudáveis. Essa descoberta promissora abre caminho para o desenvolvimento de novas terapias para essa doença severa e pode também pavimentar o caminho para descobertas semelhantes relacionadas a outros tipos de câncer humano.

O biólogo molecular Christopher Vakoc do Cold Spring Harbor Laboratory explica: “As células basicamente se transformam em células musculares. O tumor perde todas as características cancerígenas. As células passam de um estado de proliferação descontrolada para células dedicadas à contração. Com o foco agora inteiramente na contração, elas perdem a capacidade de voltar ao estado de multiplicação descontrolada”.

O câncer não é uma entidade uniforme. Ele surge quando células de diferentes partes do corpo passam por mutações. O rabdomiossarcoma é um tipo de câncer comumente observado em crianças e adolescentes. Originando-se principalmente no músculo esquelético, esse câncer acontece devido a mutações que causam uma divisão celular rápida e subsequente dominação sobre o corpo.

A agressividade do rabdomiossarcoma frequentemente leva à mortalidade, com taxas de sobrevivência para o grupo de risco intermediário variando entre 50% e 70%.

Um diagrama ilustrando a transformação de rabdomiossarcoma em células musculares. (Laboratório Vakoc/Cold Spring Harbor)

Uma abordagem de tratamento potencialmente eficaz, conhecida como terapia de diferenciação, demonstrou promessa. Essa abordagem surgiu da observação de que as células de leucemia, assim como as células-tronco não diferenciadas, carecem de plena maturidade. A terapia de diferenciação obriga essas células a continuarem amadurecendo em tipos celulares distintos.

Em pesquisas anteriores, Vakoc e sua equipe conseguiram reverter eficazmente a mutação das células cancerígenas no sarcoma de Ewing, outro câncer infantil que frequentemente tem origem nos ossos.

Os pesquisadores tinham como objetivo replicar seu sucesso com o rabdomiossarcoma, uma condição para a qual se acreditava inicialmente que a terapia de diferenciação estaria a anos de distância.

Através de uma técnica de triagem genética, eles identificaram sistematicamente os genes que poderiam estimular a progressão das células de rabdomiossarcoma em células musculares. A resposta veio na forma de uma proteína chamada Fator de Transcrição Nuclear Y (NF-Y).

As células de rabdomiossarcoma produzem uma proteína conhecida como PAX3-FOXO1, que impulsiona o crescimento rápido do câncer e ao qual ele é dependente.

Ao desativar o NF-Y, os pesquisadores inativaram o PAX3-FOXO1, compelindo as células a continuarem se desenvolvendo e diferenciando em células musculares maduras, sem características relacionadas ao câncer.

A equipe afirma que este é um passo crucial na evolução da terapia de diferenciação para o rabdomiossarcoma, potencialmente acelerando o cronograma para o surgimento de tais tratamentos.

Além disso, a técnica demonstrada em dois tipos distintos de sarcoma pelos pesquisadores poderia ser estendida a outros tipos de sarcoma e diversas variedades de câncer. Essa inovação fornece aos cientistas as ferramentas necessárias para induzir a diferenciação em células cancerígenas.

Vakoc destaca: “Cada medicamento eficaz tem sua própria história de origem. Pesquisas como essa são o alicerce para o desenvolvimento de novos medicamentos”. Consequentemente, derivadas dessas pesquisas, também temos uma grande chance de sucesso no tratamento do câncer. [Science Alert]

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