Ricos sem-teto: por que jovens estão escolhendo viver em condições precárias?

Por , em 25.04.2019

Um grupo de jovens americanos está abrindo mão de bens materiais para viver uma vida mais compartilhada, alugando até mesmo móveis de uso diário. Mas seria essa uma tendência altruísta e desapegada da nova geração ou esse é um meio de economizar, já que as coisas estão cada vez mais caras? A resposta é uma mistura das duas coisas, aparentemente. O portal da National Public Radio dos EUA fez uma matéria a respeito do tema para tentar entender este movimento de pessoas sem-teto por escolha própria.

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“Mais jovens estão se inclinando para a economia alugada ou compartilhada – possuindo menos de tudo e alugando e compartilhando muito mais. Habitação, carros, música, espaços de trabalho. Em alguns lugares, como Los Angeles, essa vida de aluguel foi ao extremo”, aponta o texto, que usa o exemplo de um jovem publicitário que vive a vida sem ter praticamente nada.

“Steven T. Johnson, 27 anos, trabalha em publicidade nas mídias sociais e mora em Hollywood. Ele passa a maior parte de seus dias usando coisas que não possui. Ele pega um serviço de carona para ir à academia; ele não possui um carro. Na academia, ele aluga um armário. Ele usa o serviço de lavanderia de lá porque ele não possui uma máquina de lavar roupa. Johnson nem tem um apartamento, na verdade. Ele aluga uma cama em um quarto grande com outras pessoas que alugam camas, por noites, semanas ou meses de cada vez, através de um serviço chamado PodShare. Todos os moradores compartilham uma cozinha e banheiros. Johnson também aluga uma mesa na WeWork, um espaço de coworking. E ele diz que a única roupa que ele possui são duas versões da mesma roupa”.

Johnson diz que tem tão pouca coisa que até conseguiu se livrar de sua mochila. Ele diz que, para ele, esse estilo de vida não é trabalhoso ou confuso. “Isso é ótimo”, diz ele. “Quando você não possui as coisas, você não precisa ficar de olho nelas”. Ele possui educação formal e tem seu seu próprio negócio, ou seja, é alguém que pode ser considerado bem de vida, mas também é, de certa forma, sem-teto. Por escolha.

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O NPR aponta que há duas grandes razões para essa mudança: o preço da moradia nos EUA e a dívida dos empréstimos estudantis feitas pelos estudantes de lá. “Um pouco mais de um terço da geração millennial atualmente possui residências, uma taxa menor que a geração X e que os baby boomers quando tinham a mesma idade”, destaca o texto.

Porém, não são apenas as dificuldades econômicas que explicam este fenômeno, de acordo com especialistas procurados pela reportagem.

Juliet Schor, socióloga do Boston College, que estuda as economias que alugam e compartilham, diz que nem todos estão nessa pelas mesmas razões. Alguns estão fazendo isso apenas pela diversão. Alguns estão fazendo isso para avançar em direção a relações menos corporativas e mais pessoais. Outros estão dispostos a gastar mais por conveniência.

Mas muitos estão fazendo aluguel e compartilhamento porque estão realmente quebrados e precisam economizar dinheiro. “Acho que é um erro caracterizá-los, seja com um tipo de orientação econômica ou com uma orientação para o dinheiro”, diz Schor.

É difícil, portanto, prever se alugar e compartilhar é o futuro do capitalismo a longo prazo, ou apenas uma moda passageira. Mesmo Johnson, que está totalmente conectado a uma vida de aluguel, acredita que isso não é algo que possa durar a vida toda. “Não é algo que você pode fazer para sempre, porque você precisa ter um lugar que você pode realmente apontar e dizer, esta é a minha casa”, diz ele.

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Outra especialista procurada pelo NPR aponta que isso faz sentido com uma mudança “para uma economia de experiências, em vez de uma economia de posses”. “Isso está ligado, por exemplo, à grande ênfase em viagens hoje em dia”, diz Jill Pable, professora da Universidade Estadual da Flórida.

Skyler Wang, estudante de doutorado da Universidade da Califórnia, em Berkeley, especialista em economia compartilhada, diz que, mesmo que os jovens americanos atuais tenham menos e sejam menos apaixonados pela propriedade do que seus pais, eles ainda têm muitas coisas, mas coisas não tangíveis. “Conversei com muitos minimalistas. Eles são o tipo de pessoas que amam o couch-surf. Eles possuem 30 coisas, mas eles acumulam digitalmente. Eles têm toneladas de fotografias. Eles têm milhares e milhares de posts no Instagram”. Eles ainda vivem em uma economia de coisas – são apenas coisas diferentes. [NPR, Futurism]

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