Sincronização: A ciência por trás da harmonia natural

Por , em 9.09.2023

Vivenciar a sincronização pode ser verdadeiramente emocionante, quer esteja dançando em harmonia com outras pessoas ou aplaudindo em uníssono como parte de uma plateia. Até mesmo as vaga-lumes compartilham dessa alegria, pois coordenam seus flashes para criar exibições cativantes, tudo em busca de atrair possíveis parceiros.

No entanto, a sincronização não se limita a essas expressões externas de unidade; ela desempenha um papel crucial dentro de nossos corpos. Nossas células cardíacas batem ritmicamente juntas, garantindo o funcionamento adequado de nosso sistema cardiovascular. Da mesma forma, as ondas elétricas sincronizadas ajudam a coordenar diferentes regiões de nosso cérebro, facilitando vários processos cognitivos. No entanto, a sincronização excessiva entre as células cerebrais está associada a crises epilépticas.

Curiosamente, a sincronização geralmente emerge espontaneamente em sistemas naturais, sem a presença de um regulador central. As perguntas que surgem incluem como a sincronização ocorre e quais fatores determinam sua intensidade em um determinado sistema.

Uma pesquisa recente publicada nos “Anais da Academia Nacional de Ciências” lança luz sobre a relação entre a estrutura da rede e a intensidade da sincronização. Essa relação se aplica a uma ampla gama de sistemas, desde células cerebrais até vaga-lumes e até grupos de dançarinos.

Os cientistas inicialmente se aprofundaram no estudo da sincronização para obter insights sobre o funcionamento interno de sistemas naturais. Além disso, eles se interessaram em aproveitar a sincronização como um comportamento desejável em sistemas feitos pelo homem, como redes elétricas, a fim de manter sua estabilidade e coesão.

Para analisar a sincronização, os matemáticos tratam os indivíduos dentro de um sistema como “osciladores acoplados”. Esses osciladores, semelhantes aos passos repetitivos em uma coreografia de dança, exibem padrões periódicos de atividade e podem influenciar o comportamento um do outro. Medir a capacidade desses osciladores de sincronizar e a intensidade dessa sincronização é crucial. A intensidade da sincronização se refere a quão eficazmente um sistema pode se recuperar de perturbações.

Considere uma dança em grupo como uma analogia. Uma perturbação pode ocorrer se uma pessoa começar a realizar os passos incorretamente. Dependendo da capacidade do sistema de sincronização, essa perturbação pode levar a uma rápida recuperação, a uma interrupção temporária seguida de um retorno à sincronização ou a um completo caos.

Dois fatores-chave complicam a determinação da intensidade da sincronização em um conjunto de osciladores acoplados. Em primeiro lugar, muitas vezes não há um oscilador dominante ditando o ritmo ou a cadência para os outros. Em nossa analogia de dança, essa ausência de música ou de dançarinos líderes significa que o ritmo é definido coletivamente pelo grupo. Em segundo lugar, cada oscilador geralmente interage apenas com alguns outros no sistema. Consequentemente, cada dançarino pode observar e responder apenas a um subconjunto de seus colegas, tornando o processo de sincronização descentralizado e intricado. Essa conectividade descentralizada é evidente no cérebro humano, onde redes complexas de conexões ligam diferentes regiões.

Sistemas complexos como esses, carentes de um sinal central orientador e com osciladores conectados em redes intrincadas, mostram resiliência contra danos e adaptabilidade a mudanças. Eles também podem se adaptar eficazmente a diferentes tamanhos.

No entanto, a complexidade desses sistemas apresenta desafios para análises matemáticas. No entanto, pesquisas recentes fizeram progressos significativos na abordagem desses desafios. O estudo mostra que a estrutura da rede que conecta um grupo de osciladores desempenha um papel fundamental na determinação de suas capacidades de sincronização. Especificamente, a qualidade da sincronização depende das “trajetórias” na rede, que são sequências de conexões ou “saltos” entre osciladores ou nós.

Essa pesquisa se concentra em “trajetórias em pares”, que envolvem a realização de duas trajetórias a partir de um nó inicial, cada uma com próximos passos escolhidos aleatoriamente por um número específico de etapas. Essas trajetórias em pares podem convergir (terminando no mesmo nó) ou divergir (terminando em nós diferentes).

Surpreendentemente, o estudo revela que uma frequência maior de trajetórias em pares convergentes dentro de uma rede leva a uma sincronização mais fraca dentro dessa rede. Em outras palavras, quando ocorrem perturbações e se propagam por várias conexões, eventualmente convergindo em um único oscilador, a probabilidade de esse oscilador adotar um comportamento fora de sincronia aumenta significativamente.

Um exemplo do mundo da dança ilustra esse conceito. Se um dançarino cometer um erro, isso pode levar seus colegas a se desviarem, causando uma reação em cadeia que resulta na perda de sincronização do grupo. Em essência, essas cadeias de perturbações refletem as trajetórias em pares dentro da rede.

Essa percepção tem implicações além das pistas de dança e dos espetáculos de vaga-lumes. Redes caracterizadas por um grande número de trajetórias em pares convergentes tendem a exibir uma sincronização mais fraca. Por outro lado, redes com estruturas modulares, como o cérebro, têm uma maior proporção de trajetórias em pares convergentes, o que contribui para evitar crises epilépticas.

Observamos esse fenômeno também no efeito de câmara de eco das mídias sociais, onde grupos fortemente conectados reforçam suas próprias perspectivas, mas podem se afastar significativamente da população em geral.

Essas descobertas oferecem uma nova perspectiva sobre a sincronização em várias estruturas de rede naturais, proporcionando oportunidades para projetar configurações de rede ou implementar intervenções em diferentes contextos. Seja aprimorando a sincronização em redes elétricas ou evitando a sincronização em processos neurológicos, essa pesquisa representa um grande avanço na compreensão de como as estruturas de redes complexas influenciam seu comportamento e capacidades. [The Conversation]

Deixe seu comentário!