Vírus inativos voltam à vida em humanos durante voo espacial

Por , em 21.03.2019

De acordo com uma nova pesquisa da NASA, vírus dormentes de herpes reativaram-se em mais de metade da tripulação a bordo das missões espaciais.

O levantamento levou em conta missões feitas com ônibus espaciais (de 1981 a 2011) e à Estação Espacial Internacional.

Embora apenas uma pequena porcentagem dos astronautas tenha desenvolvido sintomas, as taxas de reativação de vírus aumentam com a duração do voo espacial e podem representar um risco significativo à saúde na Terra, bem como em missões para Marte e além.

Voo espacial e sistema imunológico

Para estudar o impacto fisiológico do voo espacial, os cientistas da NASA analisaram amostras de saliva, sangue e urina coletadas de astronautas antes, durante e depois do voo espacial.

“Os astronautas da NASA suportam semanas ou até meses de exposição à microgravidade e radiação cósmica – sem mencionar as extremas forças G de decolagem e reentrada”, explica o um dos autores do estudo, Dr. Satish K. Mehta, do Centro Espacial Johnson. “Esse desafio físico é agravado por estressores mais familiares, como separação social, confinamento e um ciclo alterado de sono-vigília”.

Durante o voo espacial, há um aumento na secreção de hormônios do estresse, como cortisol e adrenalina, que são conhecidos por suprimir o sistema imunológico. “Achamos que as células imunes do astronauta – particularmente aquelas que normalmente suprimem e eliminam vírus – se tornam menos eficazes durante voos espaciais e às vezes até 60 dias depois”, completa o Dr. Mehta.

No meio dessa bagunça estressante, vírus latentes podem ser reativados e ressurgir. “Até o momento, 47 de 89 (53%) dos astronautas em voos espaciais curtos e 14 de 23 (61%) em missões mais longas à Estação Espacial Internacional exibiram vírus de herpes em amostras de saliva ou urina”, relatou o Dr. Mehta. “Essas frequências – assim como a quantidade – de derramamento viral são marcadamente mais altas do que em amostras de antes ou depois do voo, ou de grupos de controle saudáveis”.

Os vírus

No total, quatro dos oito vírus conhecidos do herpes humano foram detectados nas amostras dos astronautas, incluindo variedades responsáveis ​​pelo herpes oral e genital (HSV), varicela e herpes-zóster (VZV), que permanecem vitalícias em nossas células nervosas, e citomegalovírus (CMV) e vírus Epstein-Barr (EBV), que tomam residência permanente em nossas células imunológicas durante a infância.

Até agora, tal derramamento viral foi tipicamente assintomático. “Apenas seis astronautas desenvolveram algum sintoma devido à reativação viral”, afirmou Mehta. “Todos foram menores”.

No entanto, a continuação do derramamento de vírus pós-voo pode colocar pessoas imunocomprometidas ou não infectados em risco na Terra, como recém-nascidos.

“VZV e CMV infecciosos apareceram em fluidos corporais até 30 dias após o retorno da Estação Espacial Internacional”, esclareceu o pesquisador.

Próximos passos

Enquanto nos preparamos para missões humanas no espaço profundo além da lua e de Marte, o risco que a reativação do vírus do herpes representa para os astronautas e seus contatos pode se tornar mais crucial.

“Desenvolver contramedidas para a reativação viral é essencial para o sucesso dessas missões”, argumenta Mehta. “A contramedida ideal é a vacinação para os astronautas – mas isso está disponível apenas para o VZV”.

Atualmente, testes clínicos de outras vacinas contra o vírus do herpes mostram poucas promessas, portanto o foco atual da NASA é o desenvolvimento de esquemas de tratamento direcionados para indivíduos que sofrem as consequências da reativação viral.

“Esta pesquisa [também] tem uma enorme relevância clínica para os pacientes da Terra. As nossas tecnologias desenvolvidas para a detecção rápida de vírus na saliva já foram empregadas em clínicas e hospitais em todo o mundo”, contou o Dr. Mehta.

Um artigo sobre o assunto foi publicado na revista Frontiers in Microbiology. [Phys]

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