Animais dão nomes uns para os outros que duram a vida toda?

Por , em 23.04.2014

Estou andando por uma rua e vejo uma amiga. A amiga não me vê, então eu grito: “Oi, Marina!”. Marina se vira e olha para mim. Isto é o que os humanos fazem: já que todos nós temos nomes, aprendemos uns os dos outros. Se a pessoa que eu vi é realmente a Marina, eu rapidamente me conecto a ela.

Os nomes são muito úteis, especialmente para uma espécie social como os seres humanos. Se você é um solitário – como um polvo ou um guepardo – e passa a maior parte de sua vida em esplêndido isolamento, os nomes não serão de grande ajuda. A maioria de nós, porém, usa nomes constantemente.

Há diferenças sutis entre nomes humanos e nomes animais. Sim, batizamos os nossos cães e quando chamamos: “Vem, Rex!”, ele vem. O Rex pode até reconhecer seu nome, mas é difícil acreditar que ele reconheça o nosso. Meu nome é Jéssica, mas eu não tenho ideia do que as minhas cachorras me chamam em suas mentes caninas. Porém, ao contrário do que eu pensava, nós, seres humanos, não somos os únicos que usam nomes pelos quais somos reconhecidos ao longo das nossas vidas.

O experimento dos cavalos

A autora científica Virginia Morell, em seu novo livro “Animal Wise”, descreveu um experimento envolvendo cavalos, no qual os relinchos dos animais foram muito parecido com nomes.

Ela fala sobre um cavalo chamado Silver. Ele está em sua tenda, cuidando de sua própria vida, quando os pesquisadores passam por ali com uma égua do rebanho de Silver. Silver olha para eles, vê Pepsi passar e volta a mastigar seu feno. Pepsi some atrás de uma barreira.

Agora vem a ciência. Os pesquisadores têm um gravador escondido atrás dessa barreira, onde Pepsi está silenciosamente parada. Algumas vezes, os pesquisadores tocam o relincho de Pepsi, que é o seu som de identificação. Quando ouve o som, Silver olha brevemente e depois volta a comer. Nada demais, o cavalo que acabou de passar bufou. Isso é de se esperar.

Contudo, às vezes eles tocavam um relincho diferente, de um cavalo diferente que Silver também conhece, mas que não passou por perto, que não deveria estar lá. Quando eles fazem isso, Silver olha para cima imediatamente, olha para a barreira e continua olhando por um longo tempo, como se dissesse: “O que está acontecendo? Eu vi a Pepsi. Mas essa não é a Pepsi”.

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“Os cientistas fizeram este teste com vários cavalos e todas a vezes suscitaram a mesma resposta surpresa quando o cavalo ouvia alguém diferente de quem tinha visto”, conta Virgina.

O som dispara uma imagem na mente

Virgina cita o biólogo Karen McComb para explicar que isso mostra que o cavalo tinha uma expectativa. “Ele esperava ouvir o relincho do indivíduo que tinha acabado de passar, porém, ao invés disso, ouve outro animal. Isso significa que os cavalos têm imagens em sua mente dos cavalos que conhecem”.

Isso é um começo. Entretanto, quando os seres humanos usam nomes, fazemos mais do que isso. Muito mais. Em vez de apenas “Eu, Jéssica”, “Eu, Marina”, podemos dizer: “Oi, Marina. Quer almoçar?”. Será que algum animal também tem a capacidade de fazer isso? De usar um nome para começar uma conversa? A resposta é sim.

Considere o periquito mastrantero (Forpus passerinus), um passarinho verde adorável que vive na região da Colômbia, Venezuela e ao largo da porção brasileira do Rio Amazonas. O cientista Karl Berg construiu um monte de ninhos de papagaio em um rancho da Venezuela e instalou neles microcâmeras, gravando tudo que os animaizinhos fazem. Como você pode imaginar, eles piam muito.

Enquanto muita gente acha que isso tudo é só uma barulheira, o pesquisador aposta que os periquitos estão conversando. Berg ouviu tantos papagaios em tantos ninhos e por tanto tempo, que ele é capaz de identificar que semanas após o nascimento, esses pequenos pássaros começam a usar sons muito específicos para identificar-se entre si. Não só isso, eles aprendem os “nomes” de seus pais, irmãos, irmãs, e sabem usá-los na conversa.

De onde vêm os nomes?

Mas quem batiza esses papagaios? Será que a natureza dá a cada filhote um conjunto pré-programado de pios? “Uma possibilidade”, explica Berg a Virginia, “é que os pais estão nomeando seus filhotes, da mesma forma que fazemos com os nossos filhos”.

O vídeo abaixo (narrado por Cornell Mark Dantzker e com legendas disponíveis em tradução automática) mostra como Karl Berg fez o experimento que sugere fortemente que as mamães e papais papagaio escolhem os nomes de seus bebês.

O pesquisador trocou ovos de ninho para descobrir se os nomes eram um código genético ou aprendidos. Para isso, comparam o som dos filhotes quando atingiam a maturidade com os de seus pais biológicos e adotivos. A conclusão foi de que os sons eram mais parecidos com os dos pais adotivos, o que provaria que eles foram aprendidos durante o crescimento.

O livro de Virginia Morell revela que os seres humanos e os papagaios não são os únicos a usarem esse sistema. Os golfinhos têm cliques e assobios particulares que são nomes – nomes que, como nós, são usados em conversas casuais.

Aos poucos, os cientistas estão aprendendo a decodificar as conversas de animais muito diferentes, bichos que vivem vidas ricas em intrigas, planos, brigas, esquemas, romance, apetites. Um dia seremos capazes de acompanhar tudo isso e mesmo nos intrometermos na conversa chamando um papagaio, um golfinho ou um cavalo pelo seu nome “verdadeiro”. Já imaginou?

Seria como assistir a reality shows. Ao invés de “Mulheres Ricas”, veremos “As conspirações dos papagaios da Venezuela”, e todos nós vamos torcer para aquele chamado “Pip-de-pip-de-pi, pi, pi” ficar com a papagaia mais bonita. [NPR, Proceedings Of The Royal Society, Cornell Lab of Ornithology]

2 comentários

  • Thiago Corrêa:

    Muito legal e interessante!

    Vou torcer para o papagaio “Pip-de-pip-de-pi, pi, pi”!

    kkkkkkkkkkkkkkkkkk

  • Elisandra Peterson Souza:

    Eu não acho que o Pip-de-pip-de-pi, pi, pi mereça ganhar, ele é muito bicudinho. kkkkkkkkkkkkk

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