Desvendando os Tamanduás-Mirins: Descoberta de novas espécies no Delta do Parnaíba

Por , em 11.10.2023
Um tamanduá-mirim, pequeno o suficiente para repousar confortavelmente na palma da sua mão, descansa no dossel de uma floresta de mangue no Delta do Parnaíba, no Brasil. - João Marcos Rosa

Em meio à densa vegetação do Delta do Parnaíba, no Brasil, Flávia Miranda, uma pesquisadora em medicina da conservação da Universidade Estadual de Santa Cruz, para subitamente e retira com cuidado uma bolinha de pelagem cor de trigo do emaranhado de galhos de mangue. Surpreendido em seu sono, o tamanduá-mirim, do tamanho de uma bola de tênis, ergue suas patas dianteiras defensivamente, como um boxeador. Miranda, que estuda há 30 anos os preguiças, tamanduás e tatus do Brasil, coleta cuidadosamente amostras de sangue e pelo, para depois liberar o elusivo animal de volta à floresta.

Os tamanduás-mirins são os menores tamanduás e foram os primeiros a evoluir, há entre 30 milhões e 40 milhões de anos. Na sua maioria solitários e noturnos, esses pequenos habitantes das copas fofas vivem em florestas tropicais de baixa altitude e manguezais, desde o sul do México até o norte da Bolívia. Quando não estão se deliciando com formigas e cupins, passam a maior parte dos seus dois anos de vida dormindo.

Até recentemente, os cientistas acreditavam que todos os tamanduás-mirins pertenciam à mesma espécie. Mas, em 2017, Miranda e seus colegas publicaram uma análise do DNA dos tamanduás-mirins das Américas, revelando sete espécies distintas.

“Eu sempre tive a sensação de que havia mais de uma espécie”, diz Miranda. “Eu tinha notado diferenças na cor do pelo das populações em diferentes regiões.”

Agora, Miranda está investigando a possibilidade de que o sonolento animal que ela amostrou no Delta do Parnaíba, a cerca de 175 milhas a leste da cidade brasileira nordestina de São Luís, seja um membro de uma oitava espécie.

Os tamanduás-mirins do delta são isolados, vivendo a mais de 1.000 milhas de seus parentes mais próximos conhecidos na Bacia Amazônica, ao noroeste, e em uma extensão de floresta tropical ao longo da costa atlântica do Brasil, a sudeste. Essa população, segundo Miranda, pode ser um vestígio deixado há 11.000 anos, quando a floresta amazônica se estendia até o Delta do Parnaíba.

Os cientistas não sabem quantos tamanduás-mirins vivem no Delta do Parnaíba, no Brasil. Os manguezais densamente vegetados tornam difícil contar os animais elusivos. – Karina Molina

Até agora, a análise genética de Miranda indica que a população do delta vem se diferenciando das outras espécies de tamanduás-mirins por cerca de dois milhões de anos. No entanto, os testes de DNA precisam ser corroborados com características físicas para confirmar que os tamanduás do delta formam uma nova espécie. É por isso que Miranda e seu assistente de campo, Alexandre Martins, continuam a coletar amostras de sangue e a fazer medições dos animais encontrados nos manguezais. “Pelo menos, temos certeza de que essa população é evolutivamente distinta e está no processo de se tornar [uma espécie separada]”, diz ela.

Mariella Superina, que preside o grupo de especialistas em tamanduás da União Internacional para a Conservação da Natureza, descreve a pesquisa de Miranda como inovadora. “Os tamanduás-mirins são os mais subestudados de todos os [preguiças, tamanduás e tatus]”, diz ela.

Os manguezais densos do Delta do Parnaíba tornam quase impossível para Miranda e seus colegas contarem quantos tamanduás-mirins podem existir no delta. Mas desde a primeira visita de Miranda em 2009, ficou claro que o delta não é um refúgio seguro para os tamanduás. As comunidades locais exploram os manguezais para cercas, habitação e barcos. Os agricultores também permitem que suas vacas e porcos pastem livremente no delta, onde o gado superpasta e pisa nas árvores jovens.

Em 2011, Miranda começou a recrutar a comunidade para reflorestar os manguezais. Os moradores começaram a cultivar propágulos, ou mudas de mangue, em um viveiro para replantio no delta e cercaram essas áreas para protegê-las do gado. Rapidamente, a floresta começou a se recuperar. Embora os moradores estejam principalmente focados em proteger os manguezais, seus esforços contínuos beneficiam também o tamanduá-mirim e outras formas de vida selvagem.

” A sobrevivência de nossa comunidade é ameaçada pelas mudanças climáticas, pelo aumento do nível do mar e por tempestades”, diz Paulinho Morro do Meio, pescador, guia turístico e um dos colaboradores de Miranda. “[Os manguezais] são nossa melhor defesa, e trabalhamos duro para restaurá-los.”

Para Flávia Miranda, no entanto, o Delta do Parnaíba despertou um interesse maior em populações de tamanduás-mirins ainda não descobertas, que podem habitar as florestas secas entre o Delta do Parnaíba e as distantes florestas tropicais. Ela acredita que existam mais populações de “elos perdidos” esperando para serem descobertas. [Smithsonian]

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