Esse truque maluco faz você sentir um “campo de força” ao redor do seu corpo

Por , em 6.07.2016
"Road Forcefield", por Ryah Joseph

Road Forcefield“, por Ryah Joseph

Todo mundo deve lembrar da ilusão da mão de borracha, certo? O pesquisador passa um pincel sobre uma mão de borracha e sobre a mão do voluntário e depois de um tempo não precisa mais passar o pincel na mão do voluntário – ele vê o pincel passando na mão de borracha e acha que é a dele.

Os resultados dramáticos deste experimento inspiraram os neurocientistas a comprovar uma hipótese que foi feita nos anos 1990, a de que o cérebro mantém um modelo do espaço próximo ao nosso corpo, o assim chamado “espaço peripessoal”.

Na experiência da mão de borracha modificada, os cientistas fizeram os voluntários “sentir” este espaço como se fosse uma espécie de “campo de força”.

Espaço Peripessoal

O espaço peripessoal é o espaço em torno do nosso corpo, a distâncias pequenas. É um espaço que, quando invadido por um objeto, provoca uma reação imediata do cérebro. Por exemplo, quando você está andando em um bosque e um galho aparece neste espaço, você se desvia para não levar uma pancada.

Experiências para comprovar a existência deste espaço peripessoal foram feitas com macacos nos anos 1990. O cientista Michael Graziano, da Universidade Princeton em Nova Jérsei, EUA, registrou a atividade elétrica do neurônios nos lobos parietal e frontal de macacos.

O registro permitiu fazer a descoberta que alguns neurônios eram disparados não só quando o corpo do macaco era tocado, mas quando algum objeto chegava perto dele.

Mais ainda, estimular diretamente estes neurônios fazia com que os macacos movessem por reflexo cabeças e membros, como para se defender. Em alguns casos eles faziam uma careta e fechavam os olhos, virando a cabeça para o lado, e colocavam os braços em uma posição de defesa.

Os experimentos não chegaram a ser repetidos em seres humanos, mas mesmo assim há evidências de que certas regiões do cérebro humano tratam especificamente do espaço peripessoal. Por exemplo, quando alguém sofre um AVC no lobo parietal posterior direito, ele não consegue mais receber estímulos peripessoais no lado esquerdo do corpo, mas consegue perceber objetos mais distantes, fora do espaço peripessoal, naquele lado.

Truque sensorial

Entra a mão de borracha. No truque conhecido da ilusão da mão de borracha, um pincel toca na mão de borracha e na mão do voluntário ao mesmo tempo e depois de um tempo só na mão de borracha, mas o voluntário continua sentindo os toques como se fossem na mão real. Esta ilusão não funciona se a mão de borracha está muito longe da mão real.

O novo estudo, envolvendo 101 voluntários adultos, envolveu uma mudança importante no experimento: a mão de borracha nunca era tocada diretamente, mas o pincel era movido um pouco acima da mão de borracha, enquanto outro pincel tocava a mão real.

Ou seja, o voluntário sentia o toque do pincel ao mesmo tempo que via o pincel se movendo no ar, por exemplo a 10 cm acima da mão de borracha. A sensação que os voluntários relataram variava de uma “força magnética” a um “campo de força” entre o pincel e a mão de borracha.

Era como se o pincel estivesse encontrando uma barreira invisível. E, da mesma forma que na experiência tradicional da mão de borracha, os voluntários também sentiam como se a mão de borracha fosse a mão deles.

Os cientistas então começaram a testar. Descobriram que a ilusão desaparecia a cerca de 30 a 40 cm de distância da mão de borracha, o que parece ser o limite do espaço peripessoal para qualquer parte do corpo.

A ilusão também desaparecia se uma barreira era realmente colocada entre a borracha e o pincel, o que sugere que quando existe uma barreira física, ali vai terminar o espaço peripessoal.

Graziano comentou que “este é um estudo maravilhoso. Por décadas a neurociência dos lobos parietal e frontal tem somado conhecimento sobre uma margem de segurança especial em torno do corpo. Agora temos um jeito inteligente de chegar a este fenômeno através de uma ilusão que é fácil de implementar no laboratório”. [NewScientist]

1 comentário

  • Michel Conrado Diz:

    Será que esse Espaço Peripessoal tem a ver com os gatos? Quando eles vão para uma caixa, talvez para diminuir esse espaço e sentir seguro.

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