Os Maiores Pássaros Marinhos do Mundo Seguem o Som Atravessando o Oceano em Busca de Alimento Distante

Por , em 21.12.2023
Um albatroz errante sobre o Oceano Austral. (Eastcott Momatiuk/Getty Images)

Os animais selvagens realizam jornadas extraordinárias em busca de alimento. Enquanto animais terrestres como caribus, renas e lobos são conhecidos por suas extensas viagens por terra, são as aves marinhas que se destacam em cobrir distâncias impressionantes.

Por exemplo, os ternos árticos realizam uma migração anual que os leva do Ártico até a Antártica e de volta. Os albatrozes errantes, conhecidos cientificamente como Diomedea exulans, acumulam uma distância de voo ao longo da vida comparável a dez viagens ida e volta até a Lua.

Estudos anteriores exploraram as técnicas que essas aves marinhas utilizam para navegar e localizar alimentos. Parece que elas dependem de sinais visuais ou olfativos para avaliar o ambiente ao redor.

De maneira notável, os albatrozes errantes podem percorrer mais de 10.000 quilômetros em uma única expedição em busca de alimento. No entanto, os detalhes de como essas aves utilizam pistas ambientais em médio e longo prazos para tomar decisões de direção ainda são em grande parte desconhecidos.

No entanto, um estudo inovador de nossa equipe oferece novas perspectivas sobre a possibilidade de aves como os albatrozes errantes utilizarem sinais auditivos para avaliar condições ambientais distantes.

Compreendendo o Uso de Sons de Baixa Frequência pelas Aves Marinhas Pesquisas prévias destacaram que as aves marinhas não apenas buscam informações sobre locais de alimentação, mas também sobre as formas mais eficientes de obtê-lo. Nossa pesquisa sugere que o papel da percepção auditiva, especificamente na forma de som, pode ser significativo para os albatrozes errantes.

Examinamos a reação deles a um tipo de som de baixa frequência chamado infrassom, capaz de percorrer milhares de quilômetros. Embora geralmente além da audição humana, certos animais são conhecidos por detectar infrassom. Ondas oceânicas que colidem entre si ou contra as linhas costeiras geram uma frequência específica de infrassom conhecida como microbaruns, que foi o foco do nosso estudo.

Atividades de ondas altas, frequentemente associadas a esses infrassons, correspondem a ressurgências oceânicas que trazem peixes à superfície, indicando potencialmente locais frutíferos para a alimentação de aves.

Para grandes aves marinhas como o albatroz errante, com uma envergadura de 3,5 metros, a forrageamento eficiente é crucial. Seu tamanho exige a dependência do vento para um voo eficaz, em contraste com aves menores como os papagaios-do-mar, que batem suas asas frequentemente.

Ventos fortes, indicados por alta atividade de ondas, são essenciais para o voo eficiente dos albatrozes. Nosso estudo postula que o infrassom poderia fornecer a essas aves indicadores de longo alcance de condições ótimas de forrageamento.

O infrassom também é produzido por ondas que atingem as linhas costeiras, e muitas aves marinhas costeiras usam pistas costeiras para navegação e retorno aos locais de reprodução. Assim, o infrassom poderia oferecer informações vitais de longa distância sobre características estáticas, como linhas costeiras.

Apesar desse uso de infrassom pelas aves marinhas ter um grande potencial, nossa publicação (no PNAS) é a primeira evidência de aves marinhas reagindo ao infrassom, monitorado globalmente através de uma rede estabelecida pela Organização do Tratado de Proibição Completa de Testes Nucleares (CTBTO).

Esta rede, originalmente estabelecida para detectar testes nucleares, gera involuntariamente uma extensa quantidade de dados, que utilizamos. Combinamos os registros da CTBTO com nossos próprios dados de rastreamento GPS de 89 albatrozes errantes para correlacionar microbaruns com os padrões de movimento das aves.

Nossas Descobertas

A análise nos permitiu deduzir que esses albatrozes parecem escolher sua direção de viagem com base na intensidade do infrassom. Isso indica que eles podem usar o infrassom para localizar alimentos ou para conservar energia durante a viagem, embora a razão exata de sua preferência por áreas mais barulhentas permaneça incerta.

Esta descoberta também pode oferecer insights sobre as escolhas de navegação de outras aves em viagens de médio e longo prazo.

Como muitos estudos iniciais de teste de hipóteses, o nosso levanta tantas perguntas quanto respostas. Se as aves marinhas são sensíveis ao infrassom, elas devem ser capazes de percebê-lo e localizá-lo. Embora estudos de laboratório tenham mostrado que algumas aves podem detectar infrassom, testes específicos em aves marinhas são inexistentes.

Realizar tais experimentos com albatrozes errantes em um ambiente de laboratório parece impraticável por enquanto. No entanto, a pesquisa poderia potencialmente se concentrar em outras espécies de aves marinhas mais adequadas ao cativeiro.

O impacto das mudanças climáticas nos padrões climáticos e seus efeitos prejudiciais na vida selvagem, incluindo as aves marinhas, é bem documentado. Essa mudança complica o processo de encontrar alimentos para eles.

À medida que as atividades humanas transformam os habitats oceânicos, o infrassom pode ajudar as aves a se adaptarem a essas mudanças, ajudando-as a localizar alimentos, mesmo com a diminuição dos estoques. Por outro lado, o aumento do ruído gerado pelo homem pode obscurecer essa informação sensorial crítica, representando ameaças à vida selvagem.

De qualquer forma, entender melhor o uso e a importância do infrassom pelas aves marinhas é fundamental para compreender seu papel no contexto da crise climática. [Science Alert]

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