Adoçantes artificiais são melhores do que açúcar?

Por , em 3.08.2015

Nos últimos anos, todos assistimos uma batalha contínua sobre o que é pior para você: adoçantes artificiais ou açúcar. A menos que você queira abrir mão de todas as bebidas que são doces, vai acabar se deparando com o dilema. Ao invés de confiar em instinto ou em algum mito, podemos levar pesquisas em conta nessa discussão.

Evidências apontam para o fato de que parece haver uma correlação entre o consumo de açúcar e problemas de saúde e, segundo o professor de pediatria da Faculdade de Medicina da Indiana University, Aaron E. Carroll, estes não podem ser detectados com adoçantes artificiais.

Em um artigo publicado no jornal “The New York Times”, o professor explica as diferenças entre as duas opções, começando pelos adoçantes artificiais – atacados por décadas, acusados de serem substâncias químicas nocivas. “Mas tudo é ‘química’ e nem todas são ruins para nós”, explica.

Um dos mais antigos adoçantes artificiais é a sacarina. Na década de 1980, o Congresso dos Estados Unidos determinou que qualquer produto que a contenha deveria ser acompanhado por um aviso de que aquele produto poderia ser perigoso para a saúde e que tinha causado câncer em animais de laboratório.

Relação com câncer de bexiga

Um artigo publicado na revista “Annals of Oncology”, em 2004, observou que mais de 50 estudos haviam sido publicados analisando a sacarina em ratos. Vinte deles eram estudos de “uma geração”, o que significa que não analisavam a prole dos ratos. Em apenas um desses estudos enormes quantidades de sacarina produziram câncer, e foi em um tipo de rato que é frequentemente infectado com um parasita da bexiga que iria deixá-lo suscetível a câncer de bexiga induzido por sacarina.

Mas “estudos de duas gerações”, em que os ratos foram alimentados com muita sacarina e seus descendentes também, descobriram que o câncer de bexiga era significativamente mais comum em ratos de segunda geração. Isso levou muitos países a agir.

No entanto, segundo Carroll, havia um problema: esta ligação não foi confirmada em seres humanos. Além disso, verifica-se que alguns ratos são simplesmente mais propensos a ter câncer de bexiga, inclusive quando recebem grandes quantidades de vitamina C. Estudos em humanos na Grã-Bretanha, Dinamarca, Canadá e nos Estados Unidos não conseguiram encontrar associação alguma entre o consumo de sacarina e o câncer de bexiga quando o tabagismo, que pode causá-lo, foi tirado da equação.

E o aspartame?

Com base nesses estudos mais recentes, a sacarina foi removida da lista de cancerígenos em 2000. Mas, a essa altura, as opiniões já estavam definidas e isso não ajudou as pessoas a se sentirem mais seguras.

Outros adoçantes artificiais não têm se saído melhor. O aspartame foi introduzido nos Estados Unidos mais ou menos na mesma época em que a sacarina começou a apanhar. Os estudos iniciais mostraram que o aspartame não causa câncer em animais, por isso foi considerado mais seguro do que a sacarina.

Porém, em 1996, um estudo publicado no “The Journal of Neuropathology and Experimental Neurology” questionou a ligação entre o aspartame e o aumento no número de tumores no cérebro entre 1975 e 1992, quando mais pessoas tinham começado a consumi-lo.

Para Carroll, há vários problemas com essa relação simplista. “A maior parte do aumento de câncer era em pessoas com 70 anos ou mais, que não eram os principais consumidores de aspartame. E como aspartame foi aprovado em 1981, culpá-lo por um aumento nos tumores na década de 1970 parece impossível”, diz. “Por fim, estudos muito mais abrangentes não conseguiram encontrar ligações. Estes incluíram um estudo de caso-controle de crianças publicado no The Journal of the National Cancer Institute e um estudo de grupo de mais de 450 mil adultos do Cancer Epidemiology Biomarkers and Prevention”.

Alguns estudos posteriores sobre o aspartame feitos com ratos são usados como justificativa para o receio em consumir a substância, mas são contestados por organizações como o Instituto Nacional do Câncer dos EUA. Além disso, como acontece com a sacarina, também existem grandes diferenças entre ratos e seres humanos.

Um estudo controlado randomizado de 1998 não detectou nenhum efeito neuropsicológico, neurofisiológico ou comportamental causado pelo aspartame. Mesmo uma dose 10 vezes superior ao consumo normal não teve efeito sobre crianças com transtorno de déficit de atenção. Uma revisão de segurança de 2007, publicada na revista “Critical Reviews in Toxicology”, descobriu que o aspartame tinha sido estudado extensivamente e que as evidências mostravam que ele era seguro.

Pessoas com fenilcetonúria, um distúrbio genético raro, precisam limitar o seu consumo de aspartame porque a fenilalanina é um dos seus componentes. Entretanto, para a maioria das pessoas, o aspartame não é uma preocupação. Também é verdade que alguns dos adoçantes açúcares alcoólicos, como sorbitol ou manitol, podem ter um efeito laxante ou causar inchaço quando consumidos em grandes quantidades por algumas pessoas. Contudo, em condições normais, a maioria das pessoas pode aproveitar com segurança todos os adoçantes artificiais aprovados.

Mas e o açúcar?

Os açúcares ou carboidratos que ocorrem naturalmente, como os encontrados em frutas, por exemplo, na sua maior parte, não são um problema. Açúcares adicionados (que não são provenientes de alimentos) é que são.

Os Centros para Controle e Prevenção de Doenças dos EUA relatam que as crianças norte-americanas estão consumindo entre 282 calorias (para meninas) e 362 calorias (para meninos) de açúcares adicionados por dia em média. Isto significa que mais de 15% da sua ingestão calórica é a partir de açúcares adicionados. Adultos se saem um pouco melhor, mas não muito.

Este consumo não é distribuído igualmente, no entanto. Por exemplo, cerca de metade das pessoas não consomem bebidas açucaradas, enquanto outras 25% consomem cerca de 200 calorias por dia. Os 5% do topo, assim, consome mais de 560 calorias por dia, ou mais de quatro latas de refrigerante.

Estudos epidemiológicos descobriram que, mesmo após o controle de outros fatores, a ingestão de açúcares adicionados de uma população está associada com o desenvolvimento de diabetes tipo 2, com um aumento de 1,1% em prevalência para cada lata de refrigerante adoçado com açúcar consumido em média por dia. No ano passado foi publicado no “JAMA Internal Medicine” um estudo que acompanhou pessoas por 14 anos e descobriu que aqueles entre os cinco com o mais alto consumo de açúcar adicionado tinham mais do que o dobro do risco de morrer de doenças cardiovasculares do que aqueles entre os cinco com o consumo mais baixo.

O editorial que o acompanhava observou que o aumento do risco de morte começava quando uma pessoa consumia o equivalente a 590 ml de refrigerante em uma dieta de 2 mil calorias e chegava a um aumento de mais de quatro vezes para as pessoas que consumiam mais de um terço de sua dieta em açúcares adicionados.

Açúcar engorda

Não é surpresa alguma que a ingestão de açúcares adicionados é significativamente associada com o peso corporal. Uma revisão sistemática e meta-análise de estudos randomizados controlados, publicada no “British Medical Journal”, em 2012, descobriu que o consumo de açúcar aumenta tanto a gordura quanto o peso total.

Outra meta-análise de estudos randomizados controlados, publicada no “American Journal of Clinical Nutrition” em 2013, descobriu que bebidas adoçadas com açúcar por si só causam aumento no peso corporal em adultos. Em comparação, um estudo do mesmo tipo, publicado no ano passado na mesma revista, feito com adoçantes artificiais ou de baixa caloria descobriu que o seu uso levou à um peso corporal mais baixo e menos gordura total.

“Minha esposa e eu limitamos o consumo de refrigerante de nossos filhos para cerca de quatro a cinco vezes por semana. Quando deixamos que tomem refrigerante, ele é quase sempre livre de cafeína, porque queremos que eles durmam. Também é quase sempre sem açúcar”, conta Carroll, explicando que aplica seu conhecimento ao cotidiano. “Há um dano potencial, e provavelmente verdadeiro, de consumir açúcares adicionados; e provavelmente não há dano algum nos adoçantes artificiais”. [The New York Times]

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