Pontos brilhantes misteriosos podem ser vislumbre de universo paralelo

Por , em 25.09.2018

Dados do telescópio Planck, da Agência Espacial Europeia, podem nos oferecer o primeiro vislumbre de outro universo, com uma física diferente, colidindo contra o nosso.

Essa é a conclusão de uma análise feita por Ranga-Ram Chary, pesquisador do centro de dados americano do Planck na Califórnia.

Chary detectou um brilho estranho na radiação de fundo de micro-ondas mapeada pelo telescópio, que poderia ser devido à matéria de um universo vizinho vazando para o nosso.

O multiverso

Esse tipo de colisão deveria ser possível, de acordo com teorias cosmológicas modernas que sugerem que o universo que vemos é apenas uma bolha entre muitas outras.

Tal “multiverso” pode ser uma consequência da inflação cósmica, uma ideia amplamente aceita de que o universo primordial se expandiu exponencialmente após o Big Bang.

Uma vez que começa, a inflação nunca para, então uma multidão de universos se torna quase inevitável.

Cada universo produzido provavelmente teria sua própria física. Alguns podem ser totalmente diferentes, enquanto outros podem estar cheios de partículas e regras semelhantes às nossas, ou exatamente iguais.

Essa noção poderia explicar por que as constantes físicas de nosso universo parecem estar tão primorosamente sintonizadas para permitir a existência de galáxias, estrelas, planetas e vida.

Como saber se temos universos vizinhos?

Infelizmente, se existem, esses universos bolhas são quase impossíveis de detectar. Com o espaço entre eles e nós sempre em expansão, a luz é muito lenta para levar qualquer informação entre diferentes regiões.

No entanto, se duas bolhas foram criadas perto o suficiente para se tocarem antes de o espaço expandir, poderiam ter deixado uma marca uma na outra.

Em 2007, Matthew Johnson da Universidade York (Canadá) e seus colegas propuseram que essa colisão de bolhas poderia aparecer como “sinais circulares” na radiação de fundo de micro-ondas, como um anel brilhante e quente de fótons.

Em 2011, eles puderam pesquisar tais sinais em dados da sonda WMAP da NASA, precursora do Planck, mas não os encontraram.

A hipótese

Agora, Chary acha que pode ter visto uma assinatura diferente de uma colisão com um universo paralelo.

Em vez de olhar para a própria radiação, Chary a subtraiu de um modelo de todo o céu. Depois, foi “apagando” todo o resto também: estrelas, gás e poeira.

Nada deveria restar, a não ser ruído. Mas, em uma certa faixa de frequência, certos pedaços do céu parecem muito mais brilhantes do que deveriam. Essas anomalias podem ter sido causadas por um coque cósmico: nosso universo colidindo com outra parte do multiverso.

Esses “pontos brilhantes” parecem ser de algumas centenas de milhares de anos após o Big Bang, quando elétrons e prótons juntaram forças para criar o hidrogênio.

Como essa luz é normalmente abafada pelo brilho do fundo de micro-ondas cósmico, esse momento da história do universo – chamado de “recombinação” – deveria ser difícil até mesmo para o Planck detectar. Mas a análise de Chary revelou pontos que eram 4.500 vezes mais brilhantes do que a teoria prevê.

Uma explicação interessante para isso é se um excesso de prótons e elétrons foi deixado no ponto de contato com outro universo. As manchas vistas por Chary exigem que o universo do outro lado da colisão tenha aproximadamente mil vezes mais partículas do que o nosso.

Dúvidas

É claro que existem ressalvas a esta teoria. Ainda é cedo para dizermos o que estas manchas brilhantes significam.

Em 2014, uma equipe usando o telescópio BICEP2 no Polo Sul anunciou um sinal fraco com implicações cosmológicas incríveis. Espirais de luz polarizada pareciam fornecer evidências observacionais para a inflação, mas acabou que o sinal vinha apenas de grãos de poeira dentro da nossa galáxia.

David Spergel, da Universidade de Princeton (EUA), acha que a poeira pode estar novamente nublando nossas conclusões aqui. “Eu suspeito que valeria a pena olhar para possibilidades alternativas. As propriedades da poeira cósmica são mais complicadas do que imaginávamos, e acho que essa é uma explicação mais plausível”.

Joseph Silk, da Universidade Johns Hopkins (EUA), é ainda mais pessimista. Enquanto considera o artigo de Chary uma boa análise das anomalias nos dados do Planck, diz que as reivindicações de um universo alternativo são “completamente implausíveis”.

Um dia teremos certeza?

Chary reconhece que sua ideia é experimental. “Alegações incomuns, como evidências de universos alternativos, exigem um ônus de prova muito alto”, admite.

Um obstáculo à verificação é que estamos limitados pelos dados em si. Embora o Planck seja hipersensível ao fundo de micro-ondas cósmico, não pretende medir as distorções espectrais pelas quais Chary estava procurando.

A equipe de Johnson também planeja usar o Planck para procurar universos alternativos, mas, a menos que nova tecnologia auxilie, não parece que temos uma forma de provar em definitivo a existência de tais mundos paralelos ainda. [NewScientist]

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