Você pode salvar uma espécie ameaçada caçando-a?

Por , em 12.02.2012

Parece contra-intuitivo que caçar uma espécie possa na verdade conservá-la, já que os esforços de conservação buscam aumentar e estabilizar as populações. Entretanto, a caça pode ser um negócio lucrativo, que alimenta esforços de administração e mantém a população local mais inclinada a tolerar a presença dos animais, no caso de eles serem economicamente úteis.

Talvez ainda mais importante seja o fato de que a terra deixada =para as presas humanas se mantenha sem invasão do “desenvolvimento”, tornando-se um lar para muitas espécies selvagens assim como aquelas que são caçadas.

Nesse ponto de vista, seria inteligente aplicar banimentos à caça de leões na África, como foi recentemente sugerido por ativistas europeus e americanos, ou isso seria pior do que melhor?

Essa foi a questão fundamental investigada recentemente por um grupo de colaboradores internacionais da África do Sul, Zimbábue e Estados Unidos. Eles usaram uma série de análises econômicas para entender as complexidades da indústria da caça. Eles coletaram informações de sites onde os caçadores comentam seus “troféus” e entrevistas com operadores de safáris. Esses dados foram submetidos a uma série de cálculos para descobrir o retorno de investimentos, ou RDI, da caça dos leões em três diferentes cenários: na permissão atual de caça, máximo de cinco leões por 1.000 quilômetros quadrados, ou completo banimento da caça.

Por causa das diferenças regionais nas práticas e preços, a análise foi conduzida em uma base nacional. Isso revelou que tanto os preços quando as “espécies chave” variam regionalmente. As caçadas mais caras foram as que envolvem leões na Tanzânia. A tendência de caçar leões e leopardos talvez seja explicada pelo desejo humano de caçar animais raros enquanto ainda estão disponíveis. Algumas vezes, os caçadores chegam a pagar cerca de R$ 300 mil por uma caçada.

Apesar dos pesquisadores terem que fazer algumas suposições enquanto coletavam os dados – por exemplo, se os caçadores não falsificaram os registros de caças e se os operadores de safáris realmente disseram seus ganhos reais – a análise parece sólida. Enquanto a importância dos leões depende da viabilidade e da presença de outras espécies, os padrões sugerem que o fim da caça dessa espécie teria repercussões econômicas catastróficas na África. Se os locais modificassem os habitats ou outras medidas para impedir a caça, as populações de leões – assim como outras espécies – sofreriam o mesmo tanto, ou até mais, do que se a caça continuasse.

Os pesquisadores concluíram que estabelecer restrições totais para a caça de leões, além de colocar as populações desses animais em risco, iria também punir injustamente países onde os safáris são conduzidos de uma maneira responsável. Como alternativa, eles sugerem cotas para melhorar a sustentabilidade da caça. Como as populações de leões se recuperam rapidamente quando a pressão excessiva é removida (como foi revelado após um banimento da caça entre 2005 e 2008, em Zimbábue), essa opção pode balancear tantos os interesses humanos quanto os animais. [Science2.0]

10 comentários

  • Tiago Moah Weimer:

    Qual a diferença então em se eu quiser pagar para matar alguém?
    Eu posso estar cometendo um crime? Posso ser preso?
    Mas cientificamente falando:
    A quantidade de pessoas no mundo está relativamente alta, se comparar-mos com qualquer uma de animais.
    No texto está explicito que, “Como as populações de leões se recuperam rapidamente quando a pressão excessiva é removida”, utilizarei esta mesma observação para o caso dos seres humanos, que se reproduzem de forma acelerada sim, visto a quantidade de pessoas existentes hoje no mundo, as taxas em porcentagens se equivaleriam.
    Concluindo: Caçemos os seres humanos, eles são melhores do que os animais, visto que são mais ardilosos, sempre buscando sobreviverem…

  • Nika Pinika:

    “Entretanto, a caça […] mantém a população local mais inclinada a tolerar a presença dos animais, no caso de eles serem economicamente úteis.”

    Vamos caçar humanos, então. Quem sabe a gente passe a se tolerar mais, já que muitos de nós já são economicamente úteis…

  • Thomas Korontai:

    Se a galinha, o boi ou vaca, o porco, fossem protegidos estariam em risco de extinção…
    Simples assim.
    Muito oportuno o artigo.

    • Gilberto M.:

      Galinha, boi, vaca, etc, são alimentos. Cavalos, cães e outros são utilizados para trabalhos diversos. Matar leões servem apenas para divertimento ancestral. Vc apóia isso? Então vamos banir toda vida natural e transformar tudo em um grande negócio, se não, coitadas, muitas espécies serão extintas.

  • Rodival:

    Não há duvida de que se forem descobertas forma de tornar a existência das espécies lucrativas para os humanos, elas tendem a se tornar melhor bem sucedidas, por exemplo o que aconteceu com os bovinos, caprinos, animais domésticos e mais recentemente muitas espécies de peixes.

  • Chicxulub:

    Por que não soltam condenados por crimes hediondos em um ambiente cercado para serem caçados? São muito mais perigosos do que qualquer animal de caça, ofereceriam um desafio muito maior e de quebra, além do retorno financeiro, estaríamos limpando o mundo.

  • Chicxulub:

    Por que não soltam condenados por crimes hediondos no mato para serem caçados? São muito mais perigosos do que qualquer animal de caça, ofereceriam um desafio muito maior, e de quebra, além do retorno financeiro, limparia um pouco o planeta…

    • eduardo:

      Tá aí… um novo esporte maneiro e lucrativo…

    • Chicxulub:

      Poderiam ainda ser colocadas placas nas costas e peito dos condenados para que os caçadores pudessem distinguir e escolher as “espécies” que iriam caçar: assassinos, estupradores, pedófilos, etc.

  • Gilberto M.:

    A questão está posta: Ser realista e aceitar a caçada regularizada ou abraçar a causa ingênua de banir totalmente a caça. Eu já fiz minha escolha. Sou um ingênuo que considera matar animais por diversão imoral.

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