As páginas censuradas do diário de Anne Frank foram reveladas e não são o que esperávamos

Por , em 19.05.2018

Pela primeira vez, páginas censuradas do diário de Anne Frank, uma refugiada do Holocausto, puderam ser lidas e analisadas.

O conteúdo não é o que esperávamos: as folhas ocultas escondiam algumas sábias palavras sobre sexo e menstruação, além de um punhado de piadas obscenas.

O Diário de Anne Frank

Por mais de meio século, os escritos da menina de 13 anos serviram como um lembrete emocional da situação dos judeus que fugiam das perseguições atrozes contra seu povo na Alemanha nazista. Eles foram publicados em um famoso livro chamado “O Diário de Anne Frank”.

A família de Anne veio para Amsterdã para escapar das dificuldades econômicas e das ameaças na Alemanha pré-guerra. Alguns anos depois, no entanto, o conflito explodiu e a própria Holanda foi ocupada, obrigando os Frank a se esconderem em um anexo secreto para evitar de serem levados aos horrendos campos de concentração.

Os relatos da garota sobre o tempo que sua família passou na clandestinidade se tornaram mundialmente famosos, incluindo citações e reflexões que ela registrou na esperança de um dia poder publicá-las como testemunha ocular do sofrimento causado pelos nazistas.

Tragicamente, Anne Frank nunca terminou seus diários, nem os viu publicados. O único membro de sua família que sobreviveu foi seu pai, Otto, que carregou os livros com ele até poder finalmente satisfazer o desejo de sua filha de torná-los públicos.

Embora dezenas de milhões de pessoas em todo o mundo tenham lido suas palavras, até agora houve algumas páginas que Anne claramente não estava preparada para compartilhar com ninguém.

Folhas ocultas

Uma nova tecnologia de imagem não invasiva finalmente permitiu que os curadores do Museu Anne Frank (também chamado de Casa de Anne Frank) pudessem ver o que havia por trás de folhas de papel marrom que haviam sido coladas em cima de algumas páginas em um dos cadernos.

Em 2016, durante uma verificação rotineira dos diários, os curadores notaram que folhas tinham sido coladas para esconder a escrita em algumas laudas. Para preservar a integridade dos livros, os cientistas decidiram esperar até que um método estivesse disponível para visualizar as palavras por trás das folhas sem causar danos.

O que eles descobriram foi um exercício de prosa literária: nas páginas censuradas, Anne entra em uma narrativa onde oferece conselhos sexuais a uma pessoa não identificada. De acordo com Peter de Bruijn, do Instituto Huygens para a História da Holanda, os detalhes são menos interessantes por sua natureza sexual – existem outras menções sexuais em seus diários -, e mais por seu estilo.

“Ela começa com uma pessoa imaginária com a qual está falando sobre sexo, e então ela cria uma espécie de ambiente literário para escrever sobre um assunto que ela talvez não se sinta confortável”, explicou ao jornal The New York Times.

Piadas

Não podemos dizer qual intenção Anne tinha para as páginas que depois foram ocultas, mas parece que as usou para anotar seus pensamentos mais frívolos.

“Vou usar essa página estragada para escrever piadas obscenas”, ela escreve em uma das folhas, antes de acrescentar: “Você sabe por que as meninas alemãs da Wehrmacht estão na Holanda? Para servir como colchões para os soldados”.

Wehrmacht era o nome do conjunto das forças armadas da Alemanha, incluindo o Exército, a Marinha, a Força Aérea e as tropas Waffen-SS, na época do nazismo.

As leis de direitos autorais significam que o texto está atualmente disponível apenas em holandês, sem traduções de todo o conteúdo até então desconhecido. A “piada” mencionada acima foi traduzida livremente do inglês conforme versão publicada no portal Science Alert.

Deveríamos ler essas páginas?

Se Anne Frank de fato decidiu ocultar essas páginas, é desrespeitoso divulgá-las agora?

A diretora de coleções da Casa de Anne Frank, Teresien da Silva, acredita que é para o bem maior. “Às vezes é importante para a pesquisa científica e também é bom para o público saber o que ela não queria publicar”, disse ao The New York Times.

No mínimo, o texto anteriormente censurado nos ajuda a ter em mente que, apesar de todos os horrores que Anne estava sentindo, ela ainda era uma adolescente típica, e só podemos amá-la ainda mais por isso. [ScienceAlert]

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